quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

CRÍTICOS ESTRANGEIROS LAMENTAM AUSÊNCIA DE AQUARIUS DO OSCAR


Distribuidor deixou 'Aquarius' de fora da corrida do Oscar

Por Marcelo Bernardes

Após o anúncio dos indicados para o Oscar 2017, feito hoje (24) de manhã, em Los Angeles, analistas correram para apontar os grandes esnobados do ano. Segundo um crítico da rede de TV americana CBS, a Academia de Hollywood ignorou o trabalho de várias atrizes, “incluindo Amy Adams, Annette Benning, Sandra Huller e Sonia Braga”.
Nas semanas e dias que antecederam o anúncio de hoje, críticos de cinema fizeram lobby para seus filmes, atores e roteiristas favoritos durante o ano cinematográfico de 2016. Um crítico do “Los Angeles Times” sugeriu aos votantes que considerassem a interpretação de Sonia Braga, em “Aquarius”, dirigido por Kleber Mendonça Filho. Dois críticos do “The New York Times” apontaram que Braga e Mendonça Filho “deveriam” ser indicados respectivamente nas categorias de melhor atriz, diretor e roteiro original. Votantes geralmente precisam de bastante sugestões, uma vez que, na primeira cédula de votação, eles precisam escrever o nome de cinco atores, roteiristas ou diretores de arte, o primeiro nome sendo o favorito e, o último listado, o menos.
Mas foi muito amor por nada.
“’Aquarius’, Sonia Braga e Kleber Mendonça Filho eram totalmente inelegíveis para o Oscar: a distribuidora (americana, a Vitagraph Films) não inscreveu o filme oficialmente”, disse Natalie Kojen, uma das diretoras de assessoria de imprensa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ao Baixo Manhattan.
Críticos e profissionais de Hollywood que torciam por “Aquarius”, esqueceram de dar uma olhada minuciosa na lista oficial dos 336 filmes elegíveis para as principais categorias do Oscar (a seleção de melhor filme estrangeiro segue uma lista diferente).
O filme de Mendonça Filho não constava dessa lista que tinha de tudo. Desde títulos celebrados como “La La Land – Cantando Estações”, “Manchester à Beira Mar” e “Moonlight: Sob a Luz do Luar”; passando por produções estrangeiras como “Elle”, “A Criada” e “Toni Erdmann”; e longas massacrados pela crítica como “Zoolander 2”, “Independence Day: O Ressurgimento” e a comédia “Tirando um Atraso”. Mesmo o último título, um vexame no currículo de Robert De Niro, era totalmente elegível para o Oscar – caso algum masoquista quisesse dar seu voto.
Contatado em inúmeras ocasiões pelo blog, David Shultz, chefe da Vitagraph Films, não se manifestou a respeito de sua decisão de não inscrever o filme na corrida do Oscar. Shultz só inscreveu “Aquarius” no Globo de Ouro e no Independent Spirit Awards. Para o último prêmio, a produção brasileira chegou a ser indicada na categoria de “melhor filme internacional”. Pode-se especular que a decisão de Shultz tenha sido monetária. É necessário investir uma boa soma para que um filme ganhe visibilidade durante a campanha do Oscar.
Trata-se da segunda barreira imposta a “Aquarius” na tentativa de conseguir uma indicação para o Oscar. No ano passado, a comissão instituída pelo Ministério da Cultura para escolher o filme oficial para representar o Brasil na categoria do Oscar de melhor filme estrangeiro, optou por outro título: “Pequeno Segredo”, de David Schurmann.
Muitos apontaram a primeira omissão como um represália política contra Kleber Mendonça Filho e equipe, que protestaram contra o impeachment de Dilma Rousseff durante o Festival de Cannes, em maio.
Já a total inelegibilidade do filme no Oscar teve reações fervorosas dos profissionais da indústria de Hollywood contatadas pelo blog. “É algo bastante insólito. Sou muito fã do filme desde que o assisti pela primeira vez em Cannes”, explicou Pete Hammond, editor-chefe do site “Deadline Hollywood”. Já segundo um produtor de Nova York que lança vários filmes estrangeiros no mercado americano, e que pediu para seu nome não ser revelado, “trata-se de um desrespeito total por parte do distribuidor do filme, uma decisão bem atroz, se você quer mesmo minha opinião sincera”.
Kleber Mendonça Filho e a produtora Emilie Lesclaux também foram procurados pelo blog. Sem explicar o motivo da não inscrição do filme no Oscar pela distribuidora americana, Lesclaux apenas disse que considera o fato “lamentável”.
Mesmo vetado no Oscar, “Aquarius” finaliza nos próximos meses sua trajetória internacional. Depois de ser lançado, com sucesso, na Argentina, o filme chega em breve na Espanha, Inglaterra, Austrália, Nova Zelândia e Turquia. (Fonte: AQUI).
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A distribuidora deve ter pensado: Ora, se o próprio ministério da cultura do Brasil esnobou 'Aquarius', por que razão iríamos, em seguida, apontá-lo como classificável para um evento de tamanha visibilidade, desagradando os senhores do poder e correndo o risco de perder, quem sabe, oportunidades futuras? Por sua vez, após a comissão ministerial haver apontado 'O segredo' (que caiu logo na primeira leva, na comissão do Oscar) como 'o' filme, o então ministro Calero, instado a respeito, declarou não haver achado 'Aquarius' lá essas coisas. Nada a ver, portanto, com os atos de denúncia do golpe parlamentar no País feitos à época pela equipe do filme em Cannes e outras plagas. Ademais, Aquarius aborda criticamente o capitalismo exacerbado que assedia a personagem Clara, estrelada por Sonia Braga - e atacar esse modelo american way of life pode ser considerado, digamos, pouco recomendável.

Nota: 'Aquarius' fez bonito em festivas mundo afora, ao longo de 2016 - e Acaba de ser indicado para o César, o Oscar francês. 'Glória que eleva mas não consola', diria Machado...

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