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AMARELO, A COR DAS DIRETAS-JÁ
Dodó Macedo, 1984.
30 anos da campanha das Diretas-Já
Por Emir Sader
Dia 25, sábado, dia do aniversário de São Paulo, marca também a data dos 30 anos
de começo da campanha das diretas-já. Foi uma imensa manifestação, com a
presença dos principais líderes da oposição à ditadura – Ulysses Guimarães,
Lula, Brizola, Tancredo, Montoro -, que se considera como o lançamento da
campanha pelas eleições diretas-já, contornando o projeto de transição
controlada colocado em prática pela ditadura, que previa as primeiras eleições
presidenciais sem controle direto das FFAA, pelo Colégio Eleitoral e não pelo
voto direto.
A transição controlada, que a ditadura
lançou – incluindo a anistia auto-concedida -, condicionava tudo para que
tivesse que haver um acordo entre um setor moderado da oposição e um setor pelo
menos da ditadura. A composição do Colégio Eleitoral obrigava a isso.
As
eleições diretas propunham um caminho distinto: elegendo o primeiro presidente
civil depois da ditadura pelo voto popular, provavelmente Ulysses Guimarães
seria o eleito, sem necessidade de compromisso com a ditadura ou mesmo algum
setor dela. O programa do PMDB era um programa democrático-liberal com propostas
de reformas estruturais mais ou menos profundas, que impediriam que a
democratização ficasse limitada aos critérios estritamente
político-institucionais do liberalismo.
Não se trataria apenas de
restabelecer o Estado de direito, com a separação entre o Executivo, o
Legislativo e o Judiciário, mais eleições periódicas, pluralidade de partidos
etc. etc. Reformas estruturais afetariam as bases econômicas e sociais
construídas pela ditadura e sobre as quais ela tinha assentado seu
poder.
Por isso a ditadura combateu com todas suas forças a possibilidade
das eleições diretas para presidente. E conseguiu bloquear sua aprovação,
conforme o projeto não conseguiu obter os 2/3 de votos no Congresso, embora
tivesse maioria de parlamentares a favor. O caminho que restou era o do Colégio
Eleitoral, onde os votos de setores do governo eram indispensáveis,
configurando-se assim já um pacto entre grupos provenientes da ditadura com
outros da oposição.
O surgimento do PFL, congregando setores da ditadura
descontentes com a candidatura de Paulo Maluf, produziu o elemento que o acordo
necessitava. A aliança PMDB-PFL foi o eixo da transição conservadora no Brasil.
A troca de Ulysses Guimarães por Tancredo Neves - e, posteriormente, com a morte
deste, por José Sarney – deu corpo ao pacto de elite que promoveu a passagem da
ditadura à democracia. Quem havia sido, até semanas antes, o presidente do
partido da ditadura e havia comandado a luta contra as eleições diretas, se
tornava o primeiro presidente civil do Brasil depois da ditadura, eleito pelo
Colégio Eleitoral.
O resultado foi que a nova democracia foi uma mescla
do velho e do novo, da ditadura e da democracia. Restabeleceu os direitos
formais do Estado de direito, mas não alterou em nada as estruturas do poder
real herdadas da ditadura. Não houve democratização do sistema bancário, nem dos
meios de comunicação (que, ao contrário, se concentraram mais), nem da
propriedade da terra – só para dar alguns exemplos.
Esse caráter
conservador e restrito da transição democrática só foi possível porque ela se
deu pela via do Colégio Eleitoral e não das eleições diretas. Foi uma esquina,
um momento decisivo para definir o caráter da democracia restaurada. A derrota
das diretas definiu o caminho conservador. (Fonte: aqui).
sábado, 25 de janeiro de 2014
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2 comentários:
Texto brilhante, muito importante esta reavaliação histórica.a
b
joão antonio
Concordo plenamente, amigo.
Um abraço.
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