O elogio pornofônico do Ziraldo
Por Zé Roberto Graúna
Em 2007, no auditório da faculdade CCAA, na Rua 24 de Maio, assisti a uma palestra de Hans Donner, quando o Mago da TV defendeu a tese de que a Bandeira do Brasil apresenta um erro grave na sua concepção gráfica. No caso, para Hans, a faixa branca onde se lê “Ordem e progresso” está disposta de maneira errada, já que a mesma apresenta-se em forma de parábola cadente, isto é, a faixa em curva está desenhada da esquerda para a direita, mas de cima para baixo, o que dá a sensação de decadência. Na visão de Hans Donner, a faixa deveria ser apresentada em sentido contrário, de baixo para cima, para passar a ideia de evolução constante. Hans Donner afirma ainda que a palavra amor deveria ser incluída na frase impressa em verde, transformando-se em “Amor, ordem e progresso”. Enquanto defendia sua tese, o consagrado artista exibia uma projeção de imagens com alguns experimentos criados por ele tendo nossa Bandeira como tema. Num deles, o símbolo da Pátria surgia com as características citadas, mas com mais uma modificação fruto de sua criatividade. Onde costumeiramente se vê a esfera azul dividida pela faixa branca com a famosa frase, Hans Donner a substituiu por um coração, expondo toda a sua paixão pelo País que o recebeu e o consagrou como um dos maiores nomes da televisão mundial. Ao exibir sua bandeira incomum, Hans Donner lembrou que ao ver sua criação o cartunista Ziraldo arregalou os olhos e exclamou: “Filho da puta!”. Mas não foi assim um palavrão dito como quem reclama de um árbitro que deixou de marcar um pênalti escandaloso a favor de nosso time, mas uma forma de enfatizar sua admiração pela obra que acabara de ver e aprovar. “Ele me chamou de filho da puta, e eu adorei”, disse Hans Donner em sua palestra.
Quando da realização do 10° Salão Internacional de Humor de Caratinga, em 2009, fomos convidados para fazer parte da comissão julgadora formada, entre outros, pelos cartunistas Gualberto, Nei Lima, Márcio Leite, Amorim, Jorge Inácio e Ferreth. Após o primeiro dia de trabalho, pernoitamos no hotel mais importante da cidade.
Na manhã seguinte, todo o grupo se reuniu para tomar o café da manhã. Juntou-se aos jurados, o cartunista Edra, curador do salão de humor, e mais o Ziraldo – que foi um dos homenageados do evento – e Ge, seu irmão. Após o café, permanecemos às mesas e passamos a conversar sobre artes em geral, especialmente sobre desenho, a profissão de todos naquela mesa. Nei Lima, caricaturista carioca, levou para esta viagem seu inseparável caderno de desenhos. Durante muitos anos, Nei trabalhou como professor de uma faculdade em Niterói, e sempre aproveitava os vinte minutos de viagem de barca para desenhar, observando os passageiros que passavam a ser seus modelos exclusivos, resultando numa série de desenhos feitos à caneta Bic. Nei Lima batizou esta série com o nome “Seres da Barca”. Não há quem não goste desses desenhos. E o Ziraldo não ficou indiferente a esse caderno. “Filho da puta! Olha isso!”, disse o Ziraldo após fixar os olhos num dos desenhos do Nei, que riu orgulhoso por ter agradado o mestre. Com sua postura debochada e ao mesmo tempo satisfeito, Nei Lima passou parte dos 3 dias que permanecemos em Caratinga lembrando de que era, na visão do Pai do Menino Maluquinho, um “filho da puta” do desenho. E todos nós concordávamos e dizíamos: “Esse filho da puta desenho pra cacete!”.
Na manhã seguinte, todo o grupo se reuniu para tomar o café da manhã. Juntou-se aos jurados, o cartunista Edra, curador do salão de humor, e mais o Ziraldo – que foi um dos homenageados do evento – e Ge, seu irmão. Após o café, permanecemos às mesas e passamos a conversar sobre artes em geral, especialmente sobre desenho, a profissão de todos naquela mesa. Nei Lima, caricaturista carioca, levou para esta viagem seu inseparável caderno de desenhos. Durante muitos anos, Nei trabalhou como professor de uma faculdade em Niterói, e sempre aproveitava os vinte minutos de viagem de barca para desenhar, observando os passageiros que passavam a ser seus modelos exclusivos, resultando numa série de desenhos feitos à caneta Bic. Nei Lima batizou esta série com o nome “Seres da Barca”. Não há quem não goste desses desenhos. E o Ziraldo não ficou indiferente a esse caderno. “Filho da puta! Olha isso!”, disse o Ziraldo após fixar os olhos num dos desenhos do Nei, que riu orgulhoso por ter agradado o mestre. Com sua postura debochada e ao mesmo tempo satisfeito, Nei Lima passou parte dos 3 dias que permanecemos em Caratinga lembrando de que era, na visão do Pai do Menino Maluquinho, um “filho da puta” do desenho. E todos nós concordávamos e dizíamos: “Esse filho da puta desenho pra cacete!”.
Numa das muitas vezes em que estive com o artista plástico Jorge de Salles, em sua residência, na Rua Conde de Baependi, Laranjeiras, fiquei sabendo que o “elogio” também fora recebido após o artista mostrar umas das suas aquarelas ao Ziraldo.
Quer dizer, ser chamado de filho da puta pelo Ziraldo não representa motivo para se sentir ofendido, nem para lembrarmos o quanto nossas mamães foram carinhosas e dedicadas. Ser chamado assim pelo pai (ou seria filho?) da Supermãe é um elogio impagável. E olha que nem todo mundo é filho da puta pro Ziraldo. Se ele te chamar assim algum dia, saiba que você é bom mesmo no que faz.
X-X-X
As três caricaturas que ilustram esta edição são de autoria de um dos elogiados pelo Ziraldo, o talentoso Nei Lima, caricaturista do Rio de Janeiro, que atualmente desenha para os jornais O Dia e Meia Hora.
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Zé Roberto Graúna, cartunista e pesquisador carioca, é titular do blog desenharte - aqui.
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Zé Roberto Graúna, cartunista e pesquisador carioca, é titular do blog desenharte - aqui.
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