segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

VIDA FORA DA VIDA VIRTUAL


Voltar a viver a vida "ao vivo"

Por Alexis

Ao observar todos estes episódios de rolezinhos e, ainda (embora parcialmente), as manifestações de junho passado, além de outros numerosos indícios (pichações, brigas nos estádios etc), conclui-se que falta à juventude espaço para se manifestar e para ver mais gente, ou seja, para viver a vida “ao vivo”.

O mundo virtual da TV e da telefonia móvel não substitui essa necessidade nem é suficiente para prender o jovem em casa. O jovem está sufocado pelo espaço, pela obrigação de ter sucesso, pela necessidade de sair-se bem na prova, de ganhar aquela vaga, mas os seus hormônios gritam por companhia de amigos, por paquera, por correr de carro, por testar o seu sexo, por ser um pouco “rebelde”, por mostrar habilidades aos colegas etc. Esporte é hoje para pop-stars que ganham milhões. Acabou o interesse pela pelada de final de semana ou de sair a correr por aí. Nem espaço tem mais, nem na rua nem na arquibancada, pois está tudo caro, até para torcer por outro. A obesidade é crescente nos jovens. A população brasileira duplicou e, em compensação, a média nos estádios caiu para menos de ¼ do que era nos anos do bom futebol. Eu tive um conjunto de bossa nova, em Belo Horizonte, que conseguiu levar 504 pessoas numa apresentação simples numa terça-feira (média de 300 pessoas durante vários anos). A última sessão foi suspensa por um senhor importante que morava a dois quarteirões e que ligou para a polícia por conta da Lei do Silêncio. Esse e centenas de outros barzinhos fecharam.

Que aconteceu nestes últimos 50 anos? Woodstock nunca mais?

ENTRA
Por um lado, avança a tecnologia (que nos individualiza) e o mercado de consumo, com o objetivo de nos prender em casa e consumir mais, em forma isolada. Fazemos compras pela internet. Não sabemos nem falar (muito menos escrever) direito o português. A vida coletiva quase não existe. As famílias são atomizadas, justamente visando à multiplicação do numero de entes consumidores. O mundo virtual de hoje nos divide, nos seduz, e nos faz viver isolados como bichos consumidores e carentes. Ouvimos músicas no youtube. Vivemos uma vida virtual, sofrendo ou rindo com personagens de novela de TV. Soltamos as nossas energias olhando lutas MMA. Trocamos a caminhada no parque por um vídeo game.

SAI
O poder público, erradamente a meu ver, segue a onda da economia global, contribuindo para nos tirar da rua e prender em casa, fomentando o nosso ócio e solidão. A violência e a criminalidade nos afastam das ruas. Quem cuida da violência e da criminalidade parece que acha bom este ”toque de recolher” que realmente vivemos. A Lei do Silêncio tira o direito de milhares de pessoas que querem manifestar alegria, num barzinho, a se submeter ao “direito” de tranquilidade de uma única pessoa que ligou para policia. O comércio se escondeu em shopping Center e o shopping Center se esconde da juventude. Os parques têm grades. As cachoeiras têm dono. As músicas têm direitos autorais. As nossas manifestações cívicas são politizadas por poucos aproveitadores ou servem de cobertura a bandidos saqueadores. Foi-nos tirado o direito de viver a vida “ao vivo”.

ALGUMAS IDEIAS
  • As autoridades devem compreender melhor o problema;
  • Tolerar e deixar mais espaço para a juventude se expressar – enquanto são revisadas as políticas públicas pertinentes;
  • Desenvolver iniciativas para permitir aos jovens voltar a ocupar o seu tempo, os espaços e as ruas, canalizando a sua energia em forma positiva e cívica;
  • Melhorar o transporte público e procurar opções para incentivar a deixar os carros em casa;
  • Reformulação das polícias, tirando-as da atual relação próxima e às vezes promíscua com o crime, e aproximando-as das pessoas de bem, fazendo com que a população, engajada com a polícia e com o bem comum, no seu conjunto, seja a melhor ferramenta contra o crime;
  • Escola: Integral, com artes, cultura geral, esportes e recreação, saúde e alimentação;
  • Esporte: Política nacional utilizando como elemento irradiador as universidades federais e, junto com elas, penetrar em colégios e escolas. Educação física obrigatória nas escolas. Campeonatos coordenados e planejados pelas universidades de cada área: inter escolas, inter colégios e até universitários – estes últimos em nível nacional; com torcidas, bandas e até meninas “animadoras de torcida”. Fazer ao jovem praticar e viver mais o esporte;
  • Serviço cívico-militar: Trazer à juventude para a construção do país. Cursos técnicos profissionalizantes, atividades comunitárias, estudantes de medicina no interior etc. Um serviço militar bem servido, qual fosse um mutirão cívico, irá fornecer ao jovem disciplina, amor ao Brasil, e a receita com a qual os chineses são hoje a maior potência econômica do planeta. O jovem vai parar de pichar muros e de jogar lixo na rua e, quem sabe, até parar de cheirar e fumar bobagens;
  • Saúde: Encher de médicos cubanos até que as escolas de medicina do Brasil comecem a tomar vergonha;
  • Revisar Leis que estão na contramão, tornando-as mais adequadas para esta cruzada. Priorizar direitos de todos ao invés de submeter à maioria da população a superdireitos de pequenas minorias.  Parques e jardins abertos. Estimular o turismo e caminhadas em áreas rurais próximas dos centros urbanos. Com esta moda de atender apenas às minorias, o país esqueceu-se da sua maioria silenciosa, que hoje explode de reivindicações por todas as partes. Novas Leis têm agido como tesouras cortando assas da gente comum, que não fala, mas que vota e que se revolta algum dia.
  • A nação deve olhar e proteger minorias, sim, mas visando a sua inserção nesta cruzada nacional e não criando apartheid para cada minoria pedinte por super direitos.
Posso ter-me excedido em alguns pontos ou posso ter errado em algumas definições, mas alguém mais preparado do que eu, principalmente no Governo, deveria aprimorar esta análise.

Agradeço a quem chegou até aqui com a leitura (rs, rs, rs). (Fonte: aqui).

................
Na análise acima, o autor incorre em equívocos, como a negação da lei do silêncio e do sistema de cotas, por exemplo, mas é gratificante o fato de se haver manifestado objetivamente sobre a 'conjuntura' e apresentado sugestões em seu entender cabíveis.

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma bela reflexão sobre os nossos tempos.

Dodó Macedo disse...

De pleno acordo, sr. anônimo.