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Novo Inventário de Suspeitas
Por Carlos Alberto Mattos
Quando realizou JFK: A Pergunta que Não Quer Calar, em 1991, Oliver Stone foi acusado de criar teorias de conspiração. Filme que eu considero uma obra-prima de levantamento de suspeitas, foi objeto de polêmica e rejeitado por aqueles que só acreditam em versões oficiais. Mas sua repercussão reabriu investigações e levou à criação de uma comissão independente de Revisão de Dados de Assassinatos. Muitos documentos que foram então liberados para conhecimento público convergem para a hipótese aventada por Stone.
Assim, o diretor se autoriza a dizer que esse novo filme não é mais de teoria, mas de “fatos de conspiração”. Stone não tem nenhuma preguiça de seguir o rastro das suspeitas de que Kennedy foi assassinado como parte de um projeto da CIA e do FBI. Para isso, retoma sua rede de testemunhos, agora não mais embrulhada com o papel de presente da ficção.
JFK Revisitado – Através do Espelho (JFK Revisited – Through the Looking Glass) é um desfile incessante de argumentações, nomes e rostos que pode siderar os muito interessados e exaurir os meros curiosos. O filme se divide em cinco atos bem segmentados. No primeiro, uma espécie de prólogo, é relembrado o duplo assassinato (Kennedy e Oswald).
Em seguida, o roteiro de James DiEugenio se detém nas inconsistências do Relatório Warren, que forneceu a versão oficial de que Oswald havia agido sozinho. As dúvidas balísticas e científicas envolvem a quantidade e a direção dos tiros desfechados contra o carro do presidente, o suposto rifle do atirador solitário, o descarte de possíveis testemunhas, mudanças nas declarações de médicos, manipulações na autópsia do corpo e até a hipótese macabra de que o cérebro de Kennedy havia sido trocado nos procedimentos pós-morte.
O terceiro ato esquadrinha a carreira de Lee Oswald como agente duplo distribuindo panfletos pró-Cuba e ao mesmo tempo mantendo ligações com o FBI e a CIA. Por fim, reporta-se às divergências de Kennedy com os falcões da direita a respeito da política externa. Haviam sido frustrados dois planos anteriores de matar Kennedy, com notáveis coincidências de método.
O oceano de informações é vasto, mas navegável por obra do timão seguro do diretor. Para quem atravessá-lo pode não haver a recompensa de um desembarque na terra firme de uma conclusão, mas sim na praia de novas incertezas quanto ao crime que abalou o mundo em 1963.
Entre tantas conjecturas sobre as manobras insondáveis da CIA, fiquei particularmente impressionado com um depoimento de Robert F. Kennedy Jr., filho de Bobby Kennedy: “Meu pai queria mandar uma mensagem a Krushev dizendo que nossa família sabia que a URSS não estava envolvida no assassinato, que foi uma conspiração da direita americana”, afirma.
Bem, Robert F. Kennedy não é flor que se cheire. É ativista anti-vacina e conhecido por divulgar fake news. Oliver Stone pode ter sido simplesmente oportunista em buscar sua declaração. Mas ela se agrega a tantos outros testemunhos persuasivos que, no mínimo, adensam ainda mais o nevoeiro em torno do assunto. - (Fonte: Blog Carmattos - Aqui).
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