domingo, 20 de março de 2022

O GRANDE MOMENTO DE ASCENSÃO DA CHINA


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Um dos grandes enigmas do momento é sobre a posição da China após a guerra da Ucrânia.

Um artigo assinado por Stephen S. RoachPaul De GrauweSergei GurievEstranho Arne Westad traz subsídios interessantes, Roach é professor de Yale e ex-presidente do Morgan Stanley Asia; Grawe é presidente do Instituto Europeu da London School; Guriev é ex-economista-chefe do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento; e Westad é professor de História da Universidade de Yale.

O principal ponto de fortalecimento da China, dizem eles, está na sua tradição diplomática, em contraste com o clima bélico da Rússia e dos Estados Unidos.

A China está em posição única para suspender a guerra, devido a duas vantagens críticas. 

A primeira, seus próprios princípios fundamentais. Desde o período de Zhou Enlai, na década de 1950, a política externa da China tem sido guiada pelos “Cinco Princípios da Coexistência Pacífica”. Entre eles, o respeito mútuo pela soberania e integridade territorial.=, a não agressão e a não interferência nos assuntos internos de outros países.

A segunda vantagem é a parceria com a Rússia.  No dia 4 de fevereiro, Xi e Putin assinaram um acordo amplo, enfatizaram a importância da cooperação entre as grandes potências.

Com a guerra da Ucrânia, o quadro muda. Há um rápido enfraquecimento da economia da Rússia, isolada do mundo e dependendo cada vez mais da China.

Essa dependência reforça a influência da China para conseguir encerrar a guerra. E também é uma oportunidade mundial de olhar atentamente o fenômeno chinês, dizem os autores.

O país deve aproveitar a oportunidade, liderando em três frentes:       

O primeiro passo será convocar uma cúpula de emergência dos líderes do G20, visando um cessar-fogo imediato e incondicional e desenvolver uma agenda para uma paz negociada.

Os autores enfatizam a relevância do G20, que chegou à maturidade no final de 2008 – sob liderança do Brasil (observação minha). Essa nesta articulação poderia ser repetida.

O segundo passo será a China assumir a liderança na contribuição para a assistência humanitária. Especialmente quando se sabe que pelo menos metade dos mais de três milhões de refugiados da Ucrânia são crianças. A China deverá fazer uma doação incondicional à UNICEF, a maior agência de ajuda humanitária para crianças.

O terceiro passo será a China assumir a liderança no apoio à reconstrução ucraniana. O bombardeio indiscriminado da Rússia destruiu parte significativa da infraestrutura urbana. O PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) estima a necessidade de US$ 100 bilhões para a reconstrução.

Segundo os autores, a China deverá usar seu foco inigualável em infraestrutura moderna para fornecer parte considerável da reconstrução pós-conflito, mas não restrita à Ucrânia. O apoio deverá se dar no bojo da Iniciativa do Cinturão e Rota, da qual a Ucrânia é membro desde 2017. Deverá ter o mesmo papel que os Estados Unidos tiveram no pós-guerra com o Plano Marshall.

Concluem os autores:

'À medida que a terrível guerra de Putin se arrasta, levando o mundo mais perto do abismo, a China tem uma oportunidade única e urgente de demonstrar liderança global. O querido sonho chinês de Xi e os sonhos de todos nós estão em jogo. Precisamos de líderes que defendam a globalização, a paz mundial e a humanidade'."



(Texto de Luis Nassif sobre artigo escrito a oito mãos por observadores ocidentais,  sob o título "O grande momento de ascensão da China", publicado no Jornal GGN - Aqui -, de que Nassif é titular.

O artigo suscitou alguns comentários de leitores, e não resistimos ao impulso de reproduzir um deles, de autoria de Jucemir R. da Silva:

"O artigo original é bem fraquinho. E olha que foi escrito a [oito] mãos.
Sem embargo, é também deveras revelador.
Muito muito en passant, menciona o confronto da Rússia com os Estados Unidos.
A culpa pelo conflito é, segundo os articulistas, totalmente de Putin.
O que pretende o Syndicate Project com tal enfoque? Convencer os chineses a pressionar a Rússia a abandonar sua estratégia quanto ao confronto, uma ação planejada há tempos? Acham que o ataque se prende a algum capricho de Putin?
Alguém acha que antes de invadir a Ucrânia não houve conversações entre o pessoal de Putin e o de Xi Jinp
ing?
Querem que a China desempenhe em relação à Rússia papel semelhante ao dos Estados Unidos em relação a Reino Unido, França e Israel, durante a Crise de Suez?
Esqueçam. Não vai acontecer.
Mesmo que a distância entre as economias da China e da Rússia seja colossal, a segunda – a dar créditos a alguns analistas – detém hoje a primazia mundial em tecnologia militar.
A China, e este é um ponto inescapável raramente mencionado, precisa da Rússia como parceira para resistir às pressões militares dos Estados Unidos e de seus aliados.
Em menor escala, provocações semelhantes às que a OTAN fez antes do confronto em curso na Ucrânia têm sido feitas à própria China.
Se Putin recua por conta de pressões chinesas, essa será uma enorme derrota para a Rússia, e colocará em xeque a confiabilidade da China como parceira geopolítica.
Se Putin recua, arrisca tanto seu futuro político quanto o do próprio regime. O controle que ele mantém sobre a burguesia russa (os tais oligarcas) pode ser considerável, mas não se compara ao que o Partido Comunista Chinês tem sobre sua própria burguesia.
No mais, Xi Jinping e o Partido Comunista Chinês estão carecas de saber que o adversário que os Estados Unidos têm como maior ameaça à sua supremacia não é a Rússia: é a China.
Como bem lembrou a missão chinesa na ONU: 'Nunca esqueceremos quem bombardeou nossa embaixada na Iugoslávia'."

Comentário bastante arguto, esse do leitor Jucemir).

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