domingo, 27 de março de 2022

SOBRE FILMES INDICADOS AO OSCAR 2022

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Por Carlos Alberto Mattos

O Valor De Um Professor


A FELICIDADE DAS PEQUENAS COISAS

Um raro longa-metragem do Butão tem emocionado plateias pelo mundo afora e chega como um dos favoritos ao Oscar de filme internacional. É A Felicidade das Pequenas Coisas (Lunana: A Yak in the Classroom)história de um jovem professor em crise vocacional. Enquanto completa o período de serviço obrigatório no ensino público e espera um visto para tentar carreira de cantor na Austrália, Ugyen (Sherab Dorji) é enviado para uma escola nos altos Himalaias. Para chegar à aldeia de Lunana, são oito dias de caminhada a partir da cidade mais próxima, quando a altitude vai aumentando à medida que o número de habitantes vai caindo. Lunana tem apenas 56 almas, entre pastores de iaques (uma espécie de búfalo daquela região) e coletores de fungos. A energia elétrica é precária, e papel higiênico é tido como um luxo. A escola é tão rústica que não tem sequer quadro-negro e cadernos.

Pelo tipo de dramaturgia utilizada desde o início, não é difícil prever que Ugyen vai superar seus achaques iniciais com a diferença entre seus hábitos e cultura citadinos e a vida rudimentar e o pensamento mítico dos aldeões. O diretor Pawo Choyning Dorji adota um estilo claro e simples, com imagens luminosas que destacam as belas paisagens dos Himalaias como uma espécie de conforto diante das muitas carências.

As três estações vividas em Lunana, em meio a crianças adoráveis, ensinam ao professorzinho arrogante e desmotivado o valor de sua profissão e o poder do afeto, levando-o a se conectar com uma camada profunda de si mesmo. Com um belo desfecho razoavelmente aberto, o filme cumpre seu papel de “feel good movie” para consumo universal sem perder o vínculo com a cosmogonia butanesa.  -  (Aqui).

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Do Romântico Ao Moribundo


A PIOR PESSOA DO MUNDO

Achei um exagero esse filme norueguês chegar à indicação para o Oscar. As alegrias e atribulações de Julie começam de maneira leve como comédia romântica que poderia ser um Woody Allen nórdico, As primeiras sequências mostram uma garota que não sabe o que quer – e assim vai ser até o final, supostamente quatro anos depois. Ela conhece o quadrinista Aksel, eles passam a morar juntos e parecem felizes até que ela invade uma festa e se aproxima de Eivind num jogo de sedução bem engraçado.

Daí em diante são as inconstâncias de Julie que vão determinar o rumo das coisas. Mas, curiosamente, o título do filme está ligado não a ela, mas a Eivind, que se considera A Pior Pessoa do Mundo (Verdens verste menneske) por trair a namorada para ficar com Julie.

A partir de certa reviravolta, o filme se torna grave, moribundo, fazendo Julie sopesar suas decisões e chorar um bocado. Essa mudança de tom na meia hora final é surpreendente, chegando como um senha para um possível amadurecimento da personagem.

O filme opera nos limites de dois gêneros, sem apresentar novidades a não ser as pontuais. Por exemplo, a sequência em que o tempo parece parar (e tudo nas ruas se congela) enquanto Julie corre de Aksel para Eivind. Em outra, ela ingere cogumelos e tem uma trip em que vários personagens de sua vida aparecem em cenários distorcidos.

Uma qualidade excepcional é a interpretação dos atores, especialmente de Renate Reinsve (Julie) e Anders Danielsen Lie (Aksel). Há uma narração ocasional de voz feminina totalmente desnecessária e redundante. Várias canções dão o toque moderninho habitual, sendo que a última é a versão de Águas de Março em inglês por Art Garfunkel.  (Fonte - Blog Carmattos - Aqui).

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