Como defensor ferrenho do direito à liberdade de pensamento e opinião e de todos os demais direitos (e deveres!) alinhados na Carta Magna, considero que ao Dr. Moro assiste o direito de expressar suas ideias, desde que, claro, respeitando, além das demais, a exigência constitucional consistente em que não se fale 'fora dos autos' - e isso, nem sequer escamoteadamente. Mas o magistrando já deu seguidas mostras de considerar a Constituição Federal um estorvo. Nem o ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava Jato no Supremo e tristemente falecido em janeiro de 2017, logrou conferir ao aplaudido juiz o tratamento devido em face de flagrantes excessos praticados.
A seguir, a avaliação do jornalista Fernando Brito:
O povo já está vendo, Dr. Moro
Por Fernando Brito
Em novas férias – ou será que uma viagem de 14 dias ao exterior não pode ser considerada assim? – o juiz Sérgio Moro não se acanhou de deitar falação sobre o que ele, sem legitimidade para isso, acha que precisa ser mudado nas leis do país.
Arrogante, diz que “as pessoas têm ilusões sobre alguns ídolos, mas é hora de verem a verdade”.
Ora, se formos examinar quem no Brasil mais foi colocado na posição de ídolo acho que é óbvio que ele, Moro, é quem mais se encaixa no papel.
Durante anos foi praticamente impossível criticá-lo sem cair na condição de blasfemo.
Sua imagem era carregada em procissão pela classe média ressentida, suas arbitrariedades eram a face da Justiça, suas palavras eram “mandamentos” e seus decisões, na prática, irrecorríveis, porque qualquer e todos os tribunais não tinham outro caminho senão confirmá-las.
Perto dele o Supremo se tornava o ínfimo tribunal federal onde até mesmo a gravação e a divulgação criminosas de uma conversa da presidente da República não produziam efeito algum.
As telas de TV e os palcos do mundo empresarial lhe serviam de altar para ser adorado.
Ainda assim, vai chegando a hora em que as pessoas começam a ver a verdade e é por isso que esse ídolo está virando um fantasma. É perceptível que já não se o cultua além dos círculos do fanatismo.
As pessoas percebem os efeitos de sua ação sobre a realidade do país, transformado no cenário de ruínas que resultou de sua atuação espalhafatosa, desmedida e, todos percebem, seletiva.
Nenhum bilhão desviado do dinheiro público foi tão importante quanto um apartamento no Guarujá; nenhum tucano mereceu uma migalha do rigor feroz que se empregou contra petistas e entre os da turma do Temer, ao qual faz questão de correr para cumprimentar, sorridente, só mesmo o agora sem serventia Eduardo Cunha foi encarcerado.
As pessoas percebem e o resultado desta percepção tornou Sérgio Moro a sombra do ídolo que dele fizeram. Como o ex-presidente da Câmara, fez o que dele se esperava – certo que faltam alguns remates, na história do prédio que seria para o Instituto Lula – e não foi, como o apartamento – e na do sítio dos pedalinhos.
Mas são cerejas podres para o o bolo fétido que assou com o tal triplex que “tem de ser de Lula”, um excerto de um processo que lhe foi dado às mãos e que, fora de seu matadouro, a todos absolveu.
Moro é isso o que definiu: um ídolo sobre o qual as pessoas já veem a verdade. Um “herói” que encolhe depois de cumprir sua missão, porque não é ele quem importa, mas quem ele se dedicou a destruir.
Voltará para a obscuridade de onde veio, até desaparecer como blackbloc do Judiciário que foi. - (Aqui).
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