quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A INVASÃO DA UFMG

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"Invasão da UFMG foi retaliação a evento da morte do reitor da UFSC". De fato, é por aí. O suplício e morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, tragédia que já ocupa lugar na História do Brasil (como este blog sustenta desde meados de outubro), decorreu de atos truculentos por parte da autoridade policial. Enquanto tudo estava restrito à blogosfera, a impassividade imperou; o problema parece ter surgido com a chegada do assunto aos jornalões Folha e Estadão. A propósito, transcrevemos trecho de nosso 'lead' mais recente sobre a morte do reitor Cancellier: 

"...o jornal O Estado de São Paulo publicou matéria (reproduzida no UOL) sob o título 'Suicídio de reitor da Universidade Federal de Santa Catarina põe PF sob suspeita' - AQUI.
Como disse o desembargador Lédio Andrade, também professor da UFSC: 'Nem Kafka pensou que uma sucessão de arbitrariedades pudesse levar a algo tão brutal'."
(Para ler os posts da série "A morte do reitor Cancellier: esquecimento, não", clique AQUI).

NOTA: Em vídeo - AQUI - Luis Nassif discorre sobre o estado de exceção que a cada dia se vai ampliando em nosso País. Vale a pena conferir.

Ao post.


Invasão da UFMG foi retaliação a evento da morte do reitor da UFSC

Por Luis Nassif

A cerimônia fúnebre e de protesto pela morte do reitor Luiz Carlos Cancelier, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tinha uma foto emblemática com um cartaz afixado: “Uma dor assim pungente não há de ser inutilmente”.
Hoje, a operação de invasão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) teve o nome significativo de “A Esperança Equilibrista”, que vem a ser a continuação da música símbolo da resistência à ditadura militar. E também do livro do professor Juarez Guimarães, da própria UFMG, sobre o governo Lula.
O Memorial da Anistia é uma obra complicada. Teve início em 2007, quando a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça sugeriu um lugar para depositar os documentos da repressão, a exemplo do que foi feito em diversos países que saíram do período ditatorial.
Decidiu-se pelo Coleginho, em Belo Horizonte. Depois, se constatou que seu telhado não comportaria peso em cima. Decidiu-se, então, construir um prédio ao lado, que está praticamente pronto, faltando apenas o acabamento.
Após o impeachment, o novo Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, praticamente extinguiu a Comissão de Anistia. Substituiu 18 dos membros originais, indicou para presidi-la o ex-deputado Almino Afonso, que logo depois pediu demissão por não ter nenhum acolhimento do lado do Ministério.
Ficou um jogo de empurra, com a Justiça achando que a Comissão deveria se subordinar ao Ministério dos Direitos Humanos. Com isso, o Memorial foi ficando para segundo plano, sem verbas para terminar.
Ao mesmo tempo, na Comissão de Anistia instaurou-se uma caça às bruxas, com um pente fino em todos os atos do ex-Secretário de Direitos Humanos Paulo Abrahão. Vieram da Comissão de Anistia as denúncias que foram bater na Polícia Federal.
Segundo a denúncia, os desvios seriam da ordem de R$ 4 milhões e teriam ocorrido no fundo universitário da UFMG.
O diretor geral da PF, Fernando Segóvia, me disse há pouco que foi informado da operação pela superintendência da PF de Belo Horizonte. As explicações seriam dadas na coletiva do superintendente em Belo Horizonte.
Assim, ele não saberia dizer se as 8 conduções foram necessárias ou não, já que não cabe ao delegado geral intervir nas operações na ponta.
Mas garantiu que analisará a operação e, constatados abusos, assim como ocorreu no caso UFSC, será aberta uma sindicância para apurar o ocorrido.
Com a operação, além de retaliar a comunidade acadêmica, a PF e o Ministério da Justiça conseguirão comprometer uma obra importante, o Memorial da Anistia. Mas certamente escreverão um episódio relevante quando voltar a democracia e outros memoriais forem planejados, para se referir à ditadura  disfarçada atual.  -  (AQUI).

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Dica de leitura: "A ditadura ataca agora a UFMG", por Luis Nassif - AQUI.

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Dois comentários entre os muitos suscitados:

1. "É possível que tenham tomado carona no evento em homenagem ao reitor da UFSC assassinado pelas forças de Estado brasileiro, mas o mais provável é que o crime hediondo que a PF cometeu hoje, sob o silêncio conveniente e covarde dos ministros do STF, tenha a ver com o lançamento do relatório final da Comissão da Verdade, previsto para a semana que vem.
O relatório contém milhares de informações sobre os crimes hediondos cometidos por militares fascistas que ascenderam ao poder na ditadura militar e que nunca responderam pelas consequências de seus atos perante a sociedade brasileira. Tal como no passado, por horror à luz, os atuais setores fascistas, retrógrados e ditatoriais do Poder Judiciário violentam os espaços, as mulheres e os homens que pensam e fazem a educação brasileira."
2. "...o fato acontece nos dias em que está sendo votada a base nacional comum curricular, completamente desfigurada em relação ao que previa o Plano Nacional de Educação criado pela Lei nº 13.005/2014.
Isso indica que os golpistas trabalham com um timing cuidadosamente planejado no que diz respeito a essas ações midiáticas espetaculares, fazendo cortina de fumaça sobre outros assuntos igualmente importantes.
A quem interessar, vejam o que diz o ex ministro da Educação Renato Janine Ribeiro sobre a BNCC em entrevista concedida dois dias atrás.
E ainda outros importantes links atualíssimos relacionados ao tema e aos ataques à universidade pública:

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