"Foi assim que o escritor, nascido na Ucrânia e naturalizado britânico, Joseph Conrad (1857-1924) se referiu à história colonial da África, em sua obra-prima “Coração das Trevas” (1899), adaptado ao cinema, em 1979, por Francis Ford Coppola (Apocalypse Now).
E não são? Algumas até podem não ser, mas nunca sou convidado. Ou melhor, no passado, até poderiam não ser. Havia alguma alegria, diversão, piadas, galhofas, castas cantadas, outras mais descaradas, até consentidas no dizer criminalista. Muitas vinham dar em casamento.
Brincávamos com futebol, apostávamos em quem seria o efeminado do escritório, a mais gostosa, a(o) mais chata(o), quem era o “cacho” do patrão, chifres como resposta à antipatia da senhora dele. Não importavam os acepipes, os brindes, os discursos sisudos patronais. No máximo, cedíamos ao disfarçar os risos.
Sem saber o momento exato da mudança, provavelmente gradativo, hoje em dia, já não é mais assim. Viraram um saco, um cocô, mais agradável subir o Rio Congo, no século 19. O horror, o horror.
Pensando o quê? A conversa se intelectualizou até a chatice? Cinema, teatro, museus, música, literatura? Nada. Temas agradáveis como esportes, os bairros da cidade, nossos ancestrais, viagens, culinária, preferências etílicas? Nada. Tantos assuntos que fariam mais leves e realmente confraternizadores tais eventos.
Mas, não. No Brasil, nas festas de fim-de-ano das firmas, decidiu-se discutir política, com algum salzinho econômico. Meu Deus, como os brasileiros avançaram depois de lerem Hobbes, Durkheim. Hanna Arendt, Marx, Trotsky, Norberto Bobbio, Piketty e, claro, o predominante, Alexandre Frota.
Passei por isso. Não tivesse a revista “Caros Amigos” acabado, fato que muito me abalou e obrigou relato urgente ao conselho consultivo do “Dominó de Botequim – cap.10”, o texto de domingo passado abordaria o infausto acontecimento.
Faço-o hoje. Éramos cerca de 30 pessoas reunidas numa pomposa sala de reuniões. Tudo gente legal. Nem mesmo o desnível social atrapalhava. Estavam lá empresários, executivos, funcionários das diversas áreas.
Até que alguns, de cima pra baixo, baixo pra cima, tentavam descontrair o ambiente, comer os pitéus e beber os refrigerantes.
Até que ela chegou. De uma forma fantasmagórica, diria. Incorporada por Janaína Paschoal, uma senhora nos introduziu à política. Ficamos sabendo que o PT destruiu o Brasil, Kadafi patrocinou suas campanhas, Lula roubou e iniciou a prática de corrupção na política. Vieram, então, os maus bofes do planeta com a Federação de Corporações, corrupta e corruptora. Mostrou seu orgulho de ter derrubado Dilma e acha que a economia está melhorando.
Educado que sou, nem mesmo balançava a cabeça negativamente. Vai que em sua bolsa havia uma frigideira para bater em minha cabeça.
Até que vieram duas pérolas: primeira, “até que Jair Bolsonaro tem boas ideias”; segunda, Zé Dirceu, na USP, “torturava e degolava seus desafetos, mesmo quando companheiros da esquerda”. O fantasma de Janaína disse ter sido testemunha do fato, quando Zé estudava (sic) na USP.
Poderia ter interferido. Dirceu se formou advogado na PUC-SP. Muitas das vezes que foi à à USP, mais precisamente ao CRUSP, foi como presidente da União Estadual de Estudantes (UEE), para alguma assembleia e organização de passeatas.
Levava-o este signatário, num fusca branco, 1970.
Com tantos jovens presentes à “confraternização”, o fantasma de Janaína Paschoal deveria ser preso por mentira e corrupção. Vê aí, Gilmar Mendes."
(Rui Daher, post intitulado "Festinhas 'de firma', em dezembro. O horror, o horror", publicado no Jornal GGN - aqui).
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