sábado, 22 de outubro de 2016

EU TENHO PENA DE CHARLES DARWIN


Eu tenho pena de Charles Darwin

Por Sílvio Alarcon


Muita pena mesmo.
Em sua época Darwin relutou em publicar sua obra por ter consciência das implicações que acarretaria. Muitos naquela época não entenderam e, por ignorância, passaram a atacá-lo, provavelmente por abalar os pilares criacionistas e destronar crenças tidas como absolutas, imutáveis (e sem fundamentação racional).
Wallace, que chegou nas mesmas conclusões sobre a evolução, quis que suas ideias fossem revistas por Darwin justamente por ele ter discernimento para isto.
Não é incomum se encontrar trabalhos "Lamark versus Darwin", como se estivessem reivindicando para si a autoria de um dogma. Lamark foi o primeiro a ter lucidez em "arriscar" uma teoria evolutiva. Falhou em querer justificar uma "lei" em outra (sim, ele propôs leis) como também errou em apostar numa evolução monofilética.  (Nota deste blog: Monofilético: Segundo a Wikipedia, "...é o termo que se refere a um grupo de indivíduos cujos descendentes são de mesmo ancestral").
Darwin, conhecedor do trabalho de Lamark, aprimorou as ideias sobre evolução; ele não partiu do "zero absoluto" assim como Isaac Newton se "debruçou sobre ombros de gigantes". Teve o "insight" de propor que organismos simples evoluíram para formas mais complexas, do unicelular ao pluricelular, sugerindo uma ancestralidade comum a todos os seres vivos. Em suas análises anatômicas, concluiu que o "homem moderno" descenderia de um gênero mais primitivo, estando associado aos primatas, refutando, por consequência, uma "criação divina" ou ainda uma origem sobrenatural de nossa espécie.
Ele foi pura e simplesmente honesto!
Ele falhou? Claro que sim, como qualquer humano. Em nenhum de seus trabalhos ('A origem das Espécies' não é seu único trabalho) ele ousou arriscar sobre uma "matriz de origem", ainda que houvesse em sua biblioteca particular uma cópia do trabalho de Mendel.
Infelizmente ainda se fala em "Darwinismo", o que é incorreto, uma vez que a Nova Síntese Evolutiva (ou neodarwinismo) esteja difundida desde a década de 60. Como não possuímos uma cultura difusora de
ciência no Brasil nos vemos limitados às alcunhas que a mídia atribui, como, por exemplo, "partícula de deus" para o bóson de Higgs ou, ainda, afirmações de "água líquida escorrendo em Marte" quando na realidade, o que foi assegurado é que houve indícios de tal fenômeno.
Sobre o fato de algumas espécies "serem as mesmas há milhões de anos", significa que atingiram um ápice evolutivo onde características ambientais estáveis pouco ou nada interferem em determinado organismo.
A resistência de microrganismos a antibióticos é uma característica evolutiva - sendo algo tão grave que hoje, legalmente, não é mais possível a aquisição desse tipo de fármaco sem prescrição médica.
Afirmar que a evolução não existe é ideia absurdamente medieval, retrógrada e de extremada ignorância, evidenciando assim a "involução humana", contrariando todo o progresso científico que, por exemplo, promove a longevidade de nossa espécie.
A ciência também é falha, porém construída continuamente com a adição de conhecimento, experimentação e novas tecnologias.
Há menos de 200 anos acreditava-se que o corpo humano não resistiria a uma velocidade superior a 40km/h. Hoje parece piada, soa engraçado, mas era o que se "tinha por verdade" naquele período.
Não vou deixar escapar aqui uma discrepância científica: no livro 'DNA, O Segredo Da Vida - James D. Watson (aquele mesmo que, junto a Francis Crick, foi laureado com um Nobel ao propor a estrutura da molécula de dupla hélice denominada ácido desoxirribonucleico), afirmou categoricamente que o H. sapiens e o H. neanderthal eram geneticamente incompatíveis, ou seja, não poderiam cruzar entre si. 
Hoje é sabido que ambos geraram descendentes, estando essa evidência no dna de qualquer sapiens moderno não africano.
A evolução humana é plena de incógnitas mas contém algumas evidências intrínsecas evolutivamente como fragmentos de vírus, bactérias e até mesmo vermes em nosso dna. O primeiro "passo" a nos separar dos primatas foi o bipedismo (apenas isso já promove drásticas alterações morfológicas durante a gestação); o uso de ferramentas (habilidades manuais) está bem representado no córtex motor (quem for pesquisar sobre procure por "homúnculo encefálico"). Há ainda a pedogênese e a endogamia como fatores evolutivos humanos. Finalmente, enquanto muito se fala em dna, pouca ou nenhuma atenção é dada às histonas, as verdadeiras responsáveis pelas mutações, adaptações e evolução ao nível molecular.
Concluindo, tenho, sim, pena de Darwin, pois ele tinha seu pensamento à frente de sua era e foi ridicularizado por isso. Porém, tenho mais pena ainda de quem, em pleno século XXI, na era da informação, prefira crer em qualquer pareidolia como evidência alienígena, qualquer fenômeno como prova de vida inteligente extraterrestre e qualquer mito ou boato como verdade absoluta.
Toda a fé cega, excesso de passionalidade e ignorância conduz ao extremismo.
Darwin deixou seu legado e a única contribuição de "conspiranóicos", "pseudo-cientistas" e "neo-exotéricos" será o profundo abismo entre a ciência e quem busca informações SÉRIAS a respeito do fenômeno ovni, além de colaborarem na desinformação (que já é vasta)!

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(Este post diz respeito a comentário feito por Sílvio Alarcon ao artigo "Darwin e a procura por vida extraterrestre", publicado no blog OvniHoje.com - aqui -, mas, convém indagar: Será que todas as pistas e indícios sobre vida alienígena são mera pareidolia? Será que tudo, tudo mesmo, é tão somente mito ou boato? Alguns não sabem a resposta, mas sabem que não é aconselhável desprezar categoricamente a máxima de Shakespeare, posta na boca de Hamlet: "Há mais coisas no céu e terra, Horácio, do que foram sonhadas na sua filosofia").

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