terça-feira, 25 de outubro de 2016

DA MIOPIA ECONÔMICA


Economia, o debate inexistente

Por André Araújo

A definição da política econômica de um grande País, o maior dos emergentes do mundo ocidental, deve ser obtida través de um AMPLO CONSENSO entre as forças políticas e econômicas do País e com o assessoramento das melhores cabeças que seja possível congregar em torno de um Conselho onde se faz a soma de conhecimentos.
Quem é que traçou esse plano espantoso de SÓ ajuste na despesa em plena e profunda recessão sem qualquer medida compensatória para reativar a economia?
Um plano desses não passa pela aprovação política em PAÍS ALGUM, é um plano insano que vai APROFUNDAR A RECESSÃO, como já está se vendo.
Nos Estados Unidos, com sua ampla experiência histórica de crises econômicas - foram ONZE até a de 2008 -, o Presidente é quem traça a macro política econômica, não é o Banco Central, que tem um papel tático mas não estratégico na macro política econômica.
O Presidente dos Estados Unidos tem um CONSELHO ECONÔMICO na Casa Branca (Council of Economic Advisers), um órgão de cúpula, que o assessora fora e acima do Federal Reserve e da Secretaria do Tesouro. Seu Presidente Jason Furman e a Vice-Presidente Sandra Black são economistas de políticas públicas, não ligados ao sistema financeiro, e sua tarefa é apontar caminhos de longo prazo para o conjunto da economia.
Furman tem o título de Economista-Chefe do Presidente, seu nome e de sua Vice têm que ser aprovados pelo Senado depois de indicados pelo Presidente. O Conselho funciona como um Estado Maior do Presidente com visão ao mesmo tempo política e econômica.
Não há “panelinha” de economistas de mercado, há uma indicação geral da direção , o Presidente não fica “vendido” a uma só cartilha de um só pequeno grupo.
A direção da política econômica é coisa séria demais para vir da cabeça de um grupinho que tem sua própria agenda e ninguém nele da economia produtiva.
Na semana passada os comentaristas de economia do Jornal das Dez da Globonews, Sardenberg e João Borges, dirigidos pelo âncora Donny Di Nuccio, em coro afinado, disseram que já havia claros sinas de recuperação da economia no horizonte. Na última terça-feira, dia 18, com cara murcha disseram os mesmos dois com o mesmo âncora que os últimos dados do comércio apontavam para baixo pelo 17º mês consecutivo, nenhuma melhora e só piora do comércio.
Na mesma matéria quadro sobre 100 mil lojas que fecharam no País em um ano e vídeos de ruas inteiras do Rio com lojas fechadas. Dados anteriores da pesquisa em domicílios, mais precisa do que a pesquisa de desemprego nas 5 metrópoles, indica 16,4 milhões de desempregados (matéria de editorial do ESTADÃO), bem mais que os 12 milhões até então apontados pela pesquisa apenas nas 6 metrópoles.
Do contraste desses dois contextos anunciados pelos mesmos personagens deduz-se que na primeira mensagem "há claros sinais de melhora" havia apenas palpite e não análise. São pagos para dar palpites ou é orientação ideológica da emissora?  Economia não é futebol, não admite palpites, se não podem ou não sabem o que falar melhor não manchar seus curriculos com palpite infeliz, sem relação com a realidade.
Dados fundamentais são escamoteados por toda a mídia tradicional. Notinha inexpressiva no ESTADÃO indica que o BANCO CENTRAL requisita do Tesouro verba para cobrir seu prejuízo de R$ 218 BILHÕES no 1º semestre de 2016, gerado pela venda de proteção cambial, qual seja para segurar a natural valorização do dólar, valorizar artificialmente o Real e com isso "trazer a inflação para o centro da meta", objetivo contrario à saída da recessão.
Por que esse dado crucial sequer é mencionado? Se o BC gastou R$ 218 bilhões em um semestre, mantida a trajetória seriam R$ 436 bilhões em 2016 mais R$ 600 bilhões de juros da dívida pública, seriam mais de R$1 trilhão em custos financeiros gastos pelo Tesouro em nome de uma política econômica psicodélica, uma conta verdadeira  de gastos em um ano, quantia que deixa pálidas as discussões sobre o corte de gastos das demais despesas.
Ao mesmo tempo, o BANCO ITAÚ, comandante virtual da atual orientação econômica do Governo, -já que dois personagens a ele ligados são os pais da atual política econômica -, declara alto e bom som que tem excesso de capital no valor de R$ 60 BILHÕES, excesso em relação aos índices de Basileia, que já são ultra conservadores. Como se formou esse excesso de capital? Com os mais altos juros do planeta cobrados dos clientes,  que só têm aumentado nos bancos em plena recessão, quando a reação natural em quadro de recessão é a redução das taxas na ponta do cliente.
O coro dos comentaristas na grande mídia repete como sapos na beira do lago o mesmo cantar. Não há NENHUM debate, nenhum contraditório, nenhuma observação mais profunda, os comentários são RASOS, TOSCOS, REPETITIVOS.  Os que se apresentam como comentaristas não contestam em momento algum a aberração de se perseguir META DE INFLAÇÃO em plena recessão, modelo aberrante mesmo para economistas ortodoxos de orientação conservadora.
O mal maior é a RECESSÃO e não a inflação. Política econômica é ESCOLHA de prioridades, geralmente não é possivel atirar em dois alvos simultaneamente mesmo porque muitas vezes são alvos conflitantes. A INFLAÇÃO cada vez mais baixa é FUNDAMENTAL para as apostas do mercado financeiro mas não é tão importante para a ECONOMIA PRODUTIVA, a que pode tirar o Pais da recessão. Hoje o mercado financeiro é DESLIGADO da economia produtiva: ao mesmo tempo que a recessão se aprofunda, a bolsa sobe e o dólar cai; apenas dólar,  bolsa e apostas em derivativos (juros e índices)  ocupam o escasso mundo mental dos comentaristas.
Nunca ouvi um comentarista carimbado de rádio, tv e jornal fazer análises a partir da observação in loco de lojas dos bairros de classe média, áreas de comércio popular, salões de cabeleireiros, indústrias de bens de capital, NADA. Só falam com meia dúzia de papagaios do mercado financeiro e daí tiram toda a base de seus comentários.
É impressionante a fragilidade intelectual desses comentaristas, não conhecem economia, não conhecem a história econômica e a história do pensamento econômico, repetem os bordões da "turma" dos economistas de mercado sem notas de rodapé, papagaios de economês tosco, constituído de chavões, platitudes e bordões.
O controle dos gastos não é política de emergência, é sistema permanente; há no Brasil uma cultura de descaso e desperdício que se visualiza na crescente ocupação de cada vez mais prédios pelos poder executivo e pelo aparelho judiciário, a contínua abertura de concursos públicos sem se racionalizar antes o enorme contingente de funcionários na já inchada folha, especialmente nas atividades meio, na pura burocracia dos poderes.
Mas só esse controle não tira o País da recessão. Há que se ter um gatilho que puxe o crescimento por uma nova demanda e esta só pode vir do investimento público, o qual pode ser financiado pela expansão monetária. Se der alguma inflação este é um custo a ser tolerado para o País sair do mal maior da recessão, é uma questão de prioridades.
A receita é da economia clássica, que se administra por ciclos de expansão e contração.
A recessão requer expansão monetária, a economia super aquecida requer contração monetária, que pode ser feita por vários modos e não só pela alta de juros.
Uma das ferramentas de contração é o aumento dos compulsórios dos bancos, outro é a limitação dos prazos e condições de empréstimos; ambas ferramentas baixam os lucros dos bancos enquanto a alta dos juros é o único instrumento contracionista que aumenta o lucro dos bancos e é o único usado pelo BC desde o Plano de Estabilização Monetária de 1994. Por que não usam instrumentos administrativos como contenção dos empréstimos ou restrição de prazos? Porque são ruins para os bancos, ora.
Ao contrário das políticas  dos grandes ciclos econômicos do Brasil, a atual política não tem grife, não se sabe de onde veio. O Ministro da Fazenda não é formulador de política econômica, não tem formação para isso, será o presidente do BC? Provavelmente é, mas não assume e não assina; a política é, então, órfã, não tem pai e nem mãe. Tudo faz crer que vem da cabeça do economista Samuel Pessoa com colaboração de Mansueto Almeida, mas onde está a autoria publicamente assumida?
É fundamental para sua imposição, operação e sucesso que a política econômica tenha responsável, isso em qualquer País, não pode ser anônima.
Todos conheciam a política econômica de Roberto Campos, a de Delfim Neto e a de Mario Henrique Simonsen, eram políticas com paternidades e responsabilidades claras, refletiam um conjunto de ideias desses grandes personagens, Campos mais ortodoxo, Delfim mais heterodoxo, Simonsen um expoente da escola clássica.
Mas de quem é a atual política econômica?
Ninguém sabe e ninguém assume, essa é uma de suas muitas fraquezas. 

(Fonte: Jornal GGN - AQUI).

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"De quem é a atual política econômica?". Simples: da Standard & Poor's, Ficht e Moody's.

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Dois comentários entre os muitos suscitados, e não necessariamente convergentes:

1. De Ferruccio Gobbo:

"Eu acho que o idealizador desta política é o Delfim Netto. Não foi ele o idealizador da “Ponte para o Futuro”?  Não é ele que, faz anos, diz que os gastos sociais incluídos na Constituição de 88 não cabem no orçamento?
De fato, o discurso de que chegamos ao fim do poço e agora começa a recuperação não bate com os mais recentes índices econômicos publicados. Como a economia pode melhorar se a expectativa dos próprios otimistas é de que o desemprego vai aumentar em 2017?
Analistas econômicos comemoraram, em artigo no Valor,  a reversão das expectativas  e citaram como prova a valorização na bolsa de 64% neste ano  e 21% do real, como consequência das medidas sendo tomadas após o impeachment e, especialmente a  PEC 241.
Realmente, o impeachment, a queda do PT e a PEC 241, não só melhoraram as expectativas, mas também os lucros reais dos rentistas e especuladores da bolsa. O especulador que aplicou  U$$ 1.000.000,00 na bolsa no início do ano, vai receber, após um ano, US$ 2.085.875,00 – sem imposto de renda. (US$ 1.000.000,00 @ 4,07 = R$ 4.070.000,00 x 1.64 = R$ 6.674.800,00 @ 3,20 = US$ 2.085.875,00). Mesmo considerando o custo do seguro, é um bom rendimento!  Sem dúvida, as expectativas do mercado financeiro melhoraram. Mas, e as expectativas do empresário da economia real?  Aumento da bolsa não significa necessariamente aumento de investimentos, e redução da taxa do dólar significa, para a indústria brasileira, mais concorrência do produto importado e menos exportações.
A indústria automobilística está operando abaixo de 50% de sua capacidade instalada. O setor industrial  em geral opera com cerca de 70% da capacidade instalada.  Isso significa que uma enorme quantidade de recursos disponíveis esta sendo desperdiçada.
Quando a produção e venda ficam abaixo de certo nível da capacidade instalada (abaixo do “break even pont “– ponto de equilíbrio), a empresa não fatura o suficiente para pagar todos os seus custos, e começa a se endividar.  Muitas empresas estão altamente endividadas. A despesa com juros passou a representar um custo alto para as empresas.  Antes de pensar em mais investimentos, elas precisam se livrar das dívidas e começar a ter lucros. Para isso precisam de pedidos. Em sentido macro, a demanda agregada precisa aumentar.
A política atual de redução do gasto público e juros altos reduz a demanda agregada.
Para a empresa privada, o índice que realmente importa é a utilização da capacidade instalada.
Para o país, é a utilização de seus recursos produtivos, essencialmente seu capital humano, o emprego."
2. De André Araújo:
"Excelente analise, apenas discordo que Delfim tenha algo a ver, Delfim é flexivel e opera por combinações de medidas, esse plano é monotrilho, só vê uma dimensão, a do corte de gastos e nada mais, Delfim nunca foi cozinheiro de um prato só e nem fanático por meta de inflação. Eu acho que o plano é do Goldfajn, obcecado com meta de inflação, único tema de seu discurso de posse no BC, nem tocou em emprego e crescimento. Ele é do monetarismo mais primitivo que vê a moeda como um totem a ser adorado e não como instrumento de prosperidade, nem Friedman era tão vidrado por estabilidade monetária como é Goldfajn, nos bastidores tem também ideias do Sumuel Pessoa, economista de planilhas que calcula até pingo d'água  caindo da torneira, só enxerga trilho de bitola estreita, é incapaz de ver mais de um lado em qualquer questão econômica. Meirelles tem exclusivamente a visão do sistema financeiro, não tem qualquer interesse na economia produtiva. É um grupo de cadáveres econômicos que querem a estabilidade dos cemitérios, não veem a economia como algo dinâmico, meio caótico, vibrante, com mais de uma solução por problema, não me recordo na história econômica brasileira um time tão ruim dirigindo a política econômica."

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