A Globonews dá a manchete:
"Sobrinho do governador Fernando Pimentel está preso em São Paulo pela Operação Acrônimo".
Neste exato momento, o sobrinho em questão, Felipe Torres, está dando expediente normal no seu trabalho. É facilmente localizável nos telefones habituais.
Sobrinho da primeira esposa do governador Fernando Pimentel, Torres foi praticamente criado pelo tio. Abandonou uma carreira de executivo do setor privado em São Paulo e foi a Belo Horizonte assessorar Pimentel. Uma de suas primeiras medidas foi afastar Benedito Rodrigues Oliveira Neto, o Bené. Suspeitava-se que Bené estaria montando operações suspeitas utilizando o nome do governador.
Tempos depois, Bené foi preso em uma operação da PF e recorreu ao instituto da delação premiada.
Aí começa o jogo político:
1. Sai notícia em jornal acusando Pimentel de ter se tornado sócio de um restaurante de Torres. A única fonte da notícia era Bené. Nenhuma prova, nenhuma evidência maior.
2. Os advogados de Torres solicitam acesso à delação. No dia 20 de julho o juiz federal instrutor Gustavo Pontes Mazzocchi encaminha a ordem à Superintendência de Política Federal e ao STJ (Superior Tribunal de Justiça). A resposta é que não havia nenhuma ação em tramitação contra Torres. Mesmo assim, ele se coloca à disposição para qualquer esclarecimento.
3. Hoje estoura a 7a Etapa da Operação Acrônimo. Todos os jornais online divulgam a notícia da condução coercitiva de Torres a São Paulo para depor. Não havia. Ele apenas foi convidado a depor agora à tarde, em Belo Horizonte, sem ser de forma coercitiva.
A Globonews noticia sua prisão. E ele em Belo Horizonte, dando expediente normal.
Felipe Torres garante que nada será encontrado contra ele. Ele teria as comprovações de que investiu sozinho no restaurante e depois o revendeu para a própria empresa franqueadora.
Há uma possibilidade de ele ser culpado; outra possibilidade, de ele ser inocente. E se for inocente? E se o tal Bené meramente o incluiu na delação por vingança ou para atender a propósitos políticos dos investigadores?
Pouco importa. Sua imagem já foi exposta na mídia, consumado o assassinato de reputação. Se nada for apurado contra ele, mais à frente, haverá apenas uma sentença inocentando-o no tribunal de Justiça. Ou então o MPF simplesmente não procedendo à acusação. Na mídia, continuará condenado. E sem nenhum constrangimento para os que montaram a armadilha, nem delegados, nem repórter, nem o jornalismo da Globonews e de outros jornais.
Quem ousar afirmar que se vive um estado de direito, mente."
(De Luis Nassif, post intitulado "A dobradinha PF-imprensa comete mais um assassinato", publicado ontem, 13, no Jornal GGN - aqui.
Concordamos plenamente com as palavras do articulista, inclusive, e especialmente, a observação final).
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