Há algum tempo, Miguel do Rosário, titular do blog O Cafezinho, vem, juntamente com parceiros, compulsando documentos e recolhendo dados acerca de atos e fatos atinentes à Ação Penal 470. Dito trabalho focaliza prioritariamente a situação de Henrique Pizzolato, ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil, e já teria rendido alentado volume em que estariam expostos detalhes acerca de temas vitais abordados na Ação, como a questão da natureza dos recursos do Fundo Visanet. O post a seguir foi escrito após a divulgação, por veículos da grande mídia, de notícia dando conta de suposta investigação de (suposto) saque bancário efetuado por Pizzolato em (suposta) conta secreta de sua titularidade em banco suíço:
Pizzolatto e o novo factoide da mídia
Por Miguel do Rosário
A pauta do mensalão é cansativa. A mídia tenta se impor pelo cansaço. É
humanamente impossível rebater a contento a artilharia diária de mentiras,
distorções e manipulações.
Em se tratando de Henrique Pizzolato, acusá-lo
virou uma espécie de esporte, praticado inclusive por pessoas de boa fé, não
ligadas à mídia. Em novembro do ano passado, até mesmo o nosso velho Nassif, ao
escrever um post em que denuncia o erro da Procuradoria e do Judiciário no caso
Visanet, pois o dinheiro teria sido regularmente usado em campanhas
publicitárias, vem com uma
acusação insólita:
“Antônio Pizzolato cometeu crime,
sim, mas de outra natureza e gradação. Trabalhou para antecipar o pagamento à
DNA, antes de executados os trabalhos. Aplicando no mercado financeiro, a DNA
teve um lucro estimado de R$ 2 milhões. Em troca, Pizzolato recebeu os R$ 326
mil de Marcos Valério, que provavelmente não se destinavam ao caixa do PT,
conforme alegado por ele.”
É surreal. Em primeiro lugar, quando se trata
de acusar Pizzolato, parece que todos os cuidados se esvaem. Nassif não se
preocupa sequer em escrever seu nome corretamente. Não é “Antônio Pizzolato”. É
“Henrique Pizzolato”. E o erro continua lá, três meses depois…
Em segundo
lugar, os documentos mostram que Pizzolato não tinha nenhuma ingerência sobre os
fundos da Visanet, cuja gestão financeira estava a cargo de outros servidores.
Como pode ter “trabalhado” para pagar antecipadamente à DNA?
Em terceiro
lugar, a DNA vinha recebendo esse tipo de antecipação há muitos anos, muito
tempo antes da entrada de Pizzolato na direção de marketing do Banco do Brasil.
Se você ler o Laudo 2828, ou as auditorias do Banco do Brasil sobre a relação
entre a DNA, o BB e a Visanet, encontrará um monte de advertências contra
eventuais irregularidades (não necessariamente criminosas), mas as principais
delas aconteceram antes da entrada de Pizzolato.
A grande ironia é que a
gestão de Pizzolato promoveu uma série de reformas no sentido de dar mais
transparência e rigor aos contratos publicitários do Banco do Brasil. E que,
durante sua gestão, o Banco do Brasil conseguiu ampliar de maneira espetacular o
seu market share no uso de cartão de débito no país.
Hoje a própria
defesa de Dirceu é a primeira a afirmar que o desvio de R$ 74 milhões do Fundo
Visanet – do qual se acusa Pizzolato – é o pilar de toda a farsa da Ação Penal
470.
E agora, a mídia aparece com outra informação bombástica: Pizzolato
teria movimentado conta na Suíça com até 2 milhões de euros.
Parentes de
Pizzolato contatados pelo blog, que ainda tem contato com o mesmo, negaram
peremptoriamente a existência de tal conta. E perguntam:
“Que conta é
essa, tão secreta, que não se sabe nem o banco?”
De fato, as notícias
sobre a conta na Suíça de Pizzolato não poderiam ser mais vagas.
Hoje, o
Globo repercute a notícia. Como todos os outros jornais, a fonte é
o Estadão, agora convertido em fonte primária. Folha, Veja, Brasil 247
também deram a notícia sobre a conta, sempre citando o Estadão, como se o
Estadão fosse o próprio governo Suíço.
Só que o próprio Globo, ao
publicar a matéria, traz uma informação contraditória, escondida
envergonhadamente ao final dela:
Ué,
a própria nota do Globo inicia dizendo que “autoridades brasileiras e suíças
investigam uma conta secreta movimentada por Henrique Pizzolato”. Como é que,
após tal início, a matéria desmente a si mesma dizendo que as autoridades suíças
“desconhecem” qualquer cooperação neste sentido?
Essa nova informação da
Globo desmente todas as notícias anteriores. E aí? É incrível como, em se
tratando de mensalão, qualquer preocupação com objetividade, coerência, ou
simples bom senso, vão para o beleléu.
Estaremos diante de mais um
factoide? De mais uma mentira?
Os familiares de Pizzolato lembram que uma
das primeiras medidas da Justiça, quando começou a investigar o réu, foi quebrar
todos os seus sigilos. Com anuência do próprio Pizzolato, que considerava isso
uma questão de honra. Sua vida financeira e fiscal foi devassada em mais de 25
anos. Não se encontrou nada.
E agora descobrem uma conta de 2 milhões de
euros na Suíça? No caso das contas suíças dos trensaleiros, sabemos o banco, o
número da conta, há documentos, datas de saques e depósitos. Com Pizzolato, não
há necessidade de nada disso. Não se informa banco, nem número da conta, nem
nada. É apenas uma “suposta conta”, que ele “supostamente” teria
utilizado.
Ora, sou um blogueiro adulto. Não me surpreenderia se até o
Papa tivesse uma conta secreta na Suíça. Ficaria espantado, até mesmo
decepcionado, se descobrisse que Pizzolato escondia uma gorda conta secreta na
Suíça. Mas não seria a primeira vez que teria esses sentimentos, nem isso
mudaria a minha convicção, baseada em documentos, de que o dinheiro da Visanet
não foi desviado, nem era público.
Se o Estadão e as misteriosas
autoridades que lhe deram a informação apresentarem provas convincentes sobre a
tal conta na Suíça de Pizzolato, aí sim, poderei cogitar em levar o assunto a
sério. E mesmo assim, ainda terei de investigar por conta própria, porque
infelizmente não dá para acreditar em nada do que diz a mídia brasileira,
sobretudo quando o tema é mensalão.
Só que não posso levar a sério esse
tipo de acusação, apresentada sem nenhum tipo de prova, ainda mais considerando
o histórico de mentiras que caracterizou toda a Ação Penal 470.
Se a
mídia ou “autoridades” têm alguma prova de que Pizzolato tem “conta secreta” na
Suíça, terão que oferecer alguma coisa mais concreta. Não existe “suposta
conta”, ninguém faz “supostos saques”. Ou a conta existe ou não. Ou se faz saque
ou não. Quando eu disse que a família Marinho, proprietário da Globo, tinha
conta no Panamá, eu apresentei documento. Quando dei o furo da sonegação da
Globo, apresentei documentos. Temos que nos acostumar a só fazer acusações se há
provas para fazê-las. Da mesma forma, só devemos acreditar em acusações
minimamente embasadas em provas.
Da parte das fontes no Brasil, também
nota-se algo estranho. Os jornais ora falam que é a Polícia Federal que
investiga a suposta conta de Pizzolato na Suíça, ora falam que é o “governo do
Brasil”, ou “governo brasileiro”.
Mas também não há nenhuma
identificação. Nenhum delegado, nenhum departamento específico da PF, nada. O
Brasil 247 ilustra o
post em que reproduz a matéria do Estadão com uma foto do Ministro da
Justiça, José Eduardo Cardoso; só que o Cardoso não deu nenhuma declaração sobre
a suposta conta na Suíça de Pizzolato. Ao contrário, afirma outra coisa, que
desvia o assunto para outra esfera:
“Caso o governo italiano entenda que
ele não possa ser extraditado, a alternativa será voluntária do governo
brasileiro. Enviaremos cópia para que a Justiça italiana o processe lá. Se ele
for condenado como cidadão italiano, cumprirá pena lá”, declarou Cardozo,
esclarecendo que, por ter cidadania italiana, um eventual pedido de extradição
de Pizzolato poderia ser negado.
A declaração de Cardoso foi
imediatamente abafada por toda a mídia, que morre de medo de que o mensalão seja
investigado na Itália, por um Judiciário fora de sua zona de
influência.
O fato é que o mensalão, enquanto um processo político, não
é, definitivamente, uma página virada. Muitas águas correrão ainda por essa
ponte… (Fonte: aqui).
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
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2 comentários:
A que ponto chegou este pessoal que teoricamente nos informa.
De fato, sr. anônimo.
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