O Brasil e o "negócio da china"
Por Mauro Santayana
Desde o início dos tempos, elementos tangíveis e intangíveis, como as matérias-primas, a inteligência e o conhecimento, determinaram a concorrência entre os estados e a ascensão e a queda de impérios e civilizações.
A espionagem, pelo Canadá, de computadores do Ministério de Minas e Energia, e a proposta que a União Europeia pretende fazer ao Brasil, na próxima (nesta) semana, no âmbito de “matérias-primas estratégicas”, servem de alerta aos que acham que o advento de novas tecnologias vai sepultar ou diminuir a importância das commodities e das matérias-primas no xadrez geopolítico internacional, nos próximos anos.
Segundo declarou o vice-presidente da Comissão Europeia e Comissário de Indústria e Empreendedorismo, Antonio Tajani, em entrevista ao “Valor”, (...) a Europa pretende propor ao Brasil uma aliança para impedir que a China continue tentando “ter o monopólio de matérias-primas industriais” em escala planetária.
Por trás do eufemismo, está o interesse europeu em um verdadeiro “negócio da China”- que se encontra sob controle de Pequim, neste momento.
Uma alternativa de acesso a terras raras, um conjunto de minerais essenciais para o avanço tecnológico em setores estratégicos, como imãs, baterias de alto desempenho, levitação magnética, ótica, energia eólica, lasers, computação, diagnóstico por imagem, automóveis híbridos e elétricos, aviação, espaço, etc.
País mais populoso do mundo, segunda economia do planeta, e o maior produtor mundial – cerca de 90% - de terras raras, com uma rígida política de comercialização desses minerais, a China pretende três coisas: agregar valor à sua produção, processando-a e transformando-a em produtos acabados em seu próprio território; controlar sua oferta nos mercados internacionais, de forma a obter preços mais justos; e evitar a formação de estoques estratégicos no exterior - terras raras são de grande importância para a área de defesa, por exemplo - por parte de seus maiores competidores.
O grande problema dos países da OTAN, do ponto de vista geopolítico, é que a disponibilidade de terras raras está concentrada, hoje, em países como a China, a Índia, a África do Sul e o Brasil. Todos são nações do BRICS, e é preciso – para eles - evitar que se construa, a partir daí, uma aliança.
O Brasil, com grandes reservas – entre outros minerais de onde se extraem essas matérias-primas - de nióbio e areias monazíticas, já está discutindo, junto com o novo marco da mineração, uma Política Nacional de Minerais Estratégicos e Terras Raras.
É nesse sentido, estratégico e geopolítico, que tem que ser avaliada qualquer proposta europeia.
Quem quiser ter acesso a nossas reservas, que se associe ao Brasil para processá-las e agregar valor, aqui mesmo, por meio de transferência de tecnologia.
Não custa nada ouvir o que os europeus têm a dizer. Mas é preciso também conversar com os outros. Começando - depois da UE - pelos BRICS, naturalmente. (Fonte: aqui).
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