A engorda e o abate
Por Mauro Santayana
A agência britânica Moody´s rebaixou, há alguns dias, a perspectiva da nota da dívida soberana do Brasil, de positiva para estável, e fez o mesmo com alguns bancos brasileiros.
A notícia, que talvez tenha tido uma repercussão negativa exagerada, é significativa, no entanto, do ponto de vista do cerco que se tem feito ao país nas últimas semanas.
Poucos dias antes, a também britânica The Economist – que em 2009, publicou uma reportagem de capa sobre o Brasil, mostrando o Cristo Redentor decolando – já havia publicado uma reportagem sobre a economia brasileira, ilustrada com o Cristo Redentor, agora em queda desgovernada, com sugestivo título de "O Brasil estragou tudo ?”
Se somarmos a isso a repercussão, na imprensa internacional, da ausência de grandes empresas norte-americanas do leilão de Libra e as notícias que têm saído sobre a inflação e o crescimento da economia neste ano, fica fácil perceber o comportamento dicotômico das agências de qualificação e da imprensa estrangeira a respeito do Brasil.
A opinião do sistema financeiro internacional sobre alguns países emergentes parece obedecer a ciclos, bem definidos, de “abate” e de “engorda”.
Quando os juros estavam mais altos no Brasil, e havia menor participação dos bancos estatais no mercado, o país era festejado, como se estivéssemos em período de “engorda”.
Com a diminuição dos juros da Selic e o crescimento do crédito dos bancos públicos – essencial para evitar que o país caísse em recessão depois de 2008 – chegou o período do “abate”, ou da ameaça de abate.
Pressiona-se o país – sob pena de virar o “patinho feio” da vez na economia internacional - para que se faça o que desejam o “investidores” internacionais, para depois colher bons resultados, com a especulação na bolsa de valores, com o câmbio e com os juros.
O ex-ministro Delfim Netto tem uma expressão para caracterizar essa “engorda”. É quando o país vira o “peru com farofa” dos mercados internacionais. Delfim criticou, nesta semana, a matéria da The Economist. Disse que a revista errou quando superestimou, da primeira vez, as conquistas econômicas do Brasil. E errou de novo agora, quando exagera as perspectivas negativas da economia brasileira. Embora – segundo ele - isso possa servir de alerta para que se façam correções que precisam ser feitas para melhorar as perspectivas de crescimento nos próximos anos.
O debate econômico – especialmente se feito dentro de nossas fronteiras - é sempre saudável, porque ninguém pode se considerar o dono da verdade.
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Observações:
1) o fato é que os donos do mundo foram surpreendidos quando, após a eclosão da crise mundial em 2008, o Brasil ampliou substancialmente a ação dos bancos estatais, o que evitou a recessão, prejudicando interesses dos países ricos, que sempre faturavam os tubos em 'países amigos' lançados na bacia das almas;
2) grandes fundos de investimento do primeiro mundo estão cobrindo os baixos ganhos locais (ou até rombos) com o que faturam com aplicações especulativas em países do terceiro mundo; de repente, o Brasil reduziu drasticamente (hoje nem tanto) a até então gorda remuneração oferecida. Os rentistas não se conformaram com essa 'afronta';
3) falam em pibinho do Brasil, mas esquecem de ver o pib e as perspectivas de EUA e Reino Unido. Analistas acabam de elevar para 2,47% a (mais pessimista) estimativa de elevação do PIB Brasil em 2013. Qual o PIB dos países citados? E os das potências da Zona do Euro?
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