terça-feira, 15 de outubro de 2013

WALTERS

Fernando Pessoa, o campeão dos Walters.

Walters

Por Luis Fernando Veríssimo

O Stanislaw Ponte Preta, grande humorista, também escrevia “sério”, mas com outro nome. Escrevia contos e comentários que assinava com seu nome verdadeiro, Sérgio Porto. Stanislaw Ponte Preta era ao mesmo tempo o criador de personagens inesquecíveis e ele mesmo um personagem inesquecivel, criado por Sérgio Porto — seu Walter Ego, como diria o próprio Lalau. Já o Millôr fazia humor e falava sério sem mudar de nome, e nos ensinou que você pode tratar das últimas questões da existência sem perder a graça, ou das mais bobas sem ser bobo.

Graham Greene não mudava de nome, mas dividia sua obra em literatura e o que chamava de “entretenimentos”, que incluíam policiais e comédias. Sua literatura “séria” era fortemente marcada pela desilusão política e a busca da salvação numa conduta ética particular ou na religião. Pode-se imaginar Greene começando um “entretenimento” como quem tira férias das suas angústias, ou troca sapatos apertados por chinelos de dedo.

Nunca ficou claro por que o Fernando Pessoa usava tantos heterônimos, já que a poesia de Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e os outros que ele inventou não era muito diferente da sua. Talvez fosse apenas a vontade, comum a artistas, de ser muitos. No meu caso — note a naturalidade com que pulei de Fernando Pessoa à minha pessoa — foi por necessidade. Quando comecei a trabalhar em jornal uma das minhas funções era escrever para a página de opiniões quando faltavam articulistas, e usava dois pseudônimos que muitas vezes se contradiziam. Nunca chegou a haver polêmica aberta entre os dois, mas o Luis Volpe e Fernando Lopes claramente se odiavam, e viviam trocando farpas.

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