quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

MARCHA BATIDA PARA O ESTADO NOVO

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"É impressionante a pobreza das análises políticas sobre as eleições presidenciais de 2022. Apresentam-se candidatos, já são vários, a mídia especula e comenta sobre cada um, suas chances e possibilidades, alianças possíveis. Mas não conhecem HISTÓRIA? Este agora é um governo que já tem raízes na História. É um governo com projeto autoritário clássico, a escalada para o fechamento do regime é de manual de livro, não precisa pesquisar muito."


Marcha batida para o Estado Novo 

Por André Araújo 

Na história das ditaduras o caminho mais comum é a ESCALADA AUTORITÁRIA e não o golpe com tanques. O governante pode ser eleito em eleições LIVRES E DEMOCRÁTICAS, como Hitler em 6 de Novembro de 1932, quando o Partido Nacional Socialista obteve 33% dos votos e fez dele Chanceler e que depois inicia uma trajetória de atos autoritários. Com a não resistência do “establishment”, passo a passo, até fechar o regime com a Lei de Plenos Poderes de 23 de março de 1933 (Enabling Act) e assumir a face ditatorial mas ainda com obstáculos à frente, que um a um enfrentou com ousadia e violência.
Outros processos autoritários são muito parecidos, é a ESCALADA testando barreiras sem encontrar resistência porque todos são covardes, têm muito a perder na resistência, a intimidação funciona bem contra quem não quer correr riscos, todos acham que o processo é suportável e depois tudo se acomoda, a não resistência aumenta a ousadia do autoritarismo e a escalada atinge seu clímax QUANDO O TERRENO JÁ ESTÁ APLAINADO.
O atual grupo segue o caminho clássico de todos os fascismos, mas o FAZ DE CONTA da mídia fala em candidatos para 2022 como se estivéssemos na normalidade democrática, enquanto decretos de GLO (Nota deste Blog: GLO = garantia da lei e da ordem) são emitidos sem cerimônia por motivos discutíveis, esperando (por) um ato provocador ou manifestação de rua na escala chilena para o fechamento final, via outra GLO, Vargas fez ainda melhor, sem pretexto real inventou um, o Plano Cohen.
Vargas tomou o poder em outubro de 1930 por um levante cívico-militar lastreado na cavalaria gaúcha contando com a neutralidade do Alto Comando do Exército e da Marinha e depois da chegada ao Rio com vasto apoio civil, a Junta Militar chancelou a tomada do poder. Vargas inicia um Governo provisório de 1930 a 1934, no meio do caminho enfrenta a Revolução Paulista de 1932, estica o governo ditatorial até a Constituição de 1934, MAS já com o novo projeto autoritário em marcha.
Vargas preparou o auto golpe de 10 de novembro de 1937 um ano antes, com missões secretas do Ministro da Justiça Negrão de Lima em visita a cada um dos governadores estaduais preparando o golpe. Todos aceitaram menos um, Juracy Magalhães, da Bahia. O importante é que Vargas sempre teve o plano de fechamento na cabeça, o golpe final foi acobertado por uma “fakenews”, um falso plano comunista de tomada do poder, o famoso Plano Cohen, que nunca existiu, foi uma fabricação lavrada pelo então Capitão Mourão Filho, o mesmo que desencadeou o movimento de 1964. O projeto autoritário de Vargas sempre existiu, apenas precisou de tempo para executar.
É interessante como Vargas precisou dos vaqueiros das estâncias gaúchas para desencadear sua marcha do Sul até o Rio, da mesma forma que Hitler precisou da marginalidade alemã, as SA, para chegar ao poder, depois se tornaram dispensáveis, da mesma forma que Vargas precisou dos tenentes rebelados de 1922 para sua escalada contra a República Velha, parceiros no começo, depois se tornaram intrometidos demais e inconvenientes, muitos tiveram que ser afastados. Hitler teve que liquidar com as SA e seu chefe Ernst Rohem na “Noite dos Longos Punhais”, uma autêntica queima de arquivo, mil foram executados, preço que o Exército exigiu para apoiar Hitler em 1934, os SA se tornaram uma ameaça, gente desqualificada.
AS ELEIÇÕES DE 2022
É impressionante a pobreza das análises políticas sobre as eleições presidenciais de 2022. Apresentam-se candidatos, já são vários, a mídia especula e comenta sobre cada um, suas chances e possibilidades, alianças possíveis. Mas não conhecem HISTÓRIA? Este agora é um governo que já tem raízes na História. É um governo com projeto autoritário clássico, a escalada para o fechamento do regime é de manual de livro, não precisa pesquisar muito.
TODOS OS ATOS DO GOVERNO SÃO PARTE DE UM PROJETO NÃO DEMOCRÁTICO. A sociedade civil está sendo expelida de todos os Conselhos do Estado, há uma acelerada operação de COOPTAÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS, como Vargas fez em 1937, jamais poderia haver Estado Novo sem o apoio do Exército representado na época por Goes Monteiro e Dutra. Agora, a tentativa de cooptação se dá por contínuas visitas a quarteis, para cerimonias de formatura de aspirantes, em melhoria substancial das pagas, em novos investimentos no material bélico. MAS a linha de cooptação aponta para baixo, a média oficialidade, o alto mando militar parece não se deixar convencer.
As F.A. têm longa experiência com políticos através de 4 séculos de História, às vezes aparentam servir mas  a qualquer momento devoram quem as usou, como foi com Vargas em dezembro de 1945, deposto por telefone por Dutra e em 1964, quando os políticos que pensavam usar as F.A. foram por elas devorados em pouco tempo, nada de eleições em 1965, começam os AI.
Uma tentativa de usar a tropa contra a hierarquia foi a perdição de Jango nos episódios que envolveram marinheiros e sargentos em 1964, é brincar com fogo.
Nomeações 100% ideológicas em postos chaves, recrutados em nichos de apoiadores fanáticos e de cabeça lavada, dispostos a qualquer papel, sem filtro de capacidade técnica, todo o instrumental de fechamento em marcha e o “establishment” burocrático-mercadista ainda fala em eleições em 2022?
Estarão cegos? Em 2022 existem duas hipóteses: ou o atual grupo perdeu o poder ou o regime estará fechado e as eleições, se houverem, serão apenas um teatro. Em 1964, derrubado João Goulart, JK, Lacerda e Adhemar, políticos experientes, ACREDITAVAM QUE HAVERIA ELEIÇÕES EM 1965.
Não viam diante de seus olhos o autoritarismo do novo regime? A ambição pessoal de cada um os cegou. Então os militares de 64 arriscariam o pescoço em uma derrubada de Presidente constitucional para entregar um ano depois o poder para civis? Como puderam ser tão ingênuos? Pagaram caro, cada um.
BARREIRAS PARA 2022
Três linhas de acontecimentos podem complicar as eleições de 2022, a saber
  1. AFUNDAMENTO DA ECONOMIA – Não há como a economia crescer com a atual não política econômica. A economia brasileira é um trem parado na estação, a partida só existe com locomotiva, é a criação de demanda por investimento público, algo que nem se cogita. O investimento publico foi suprimido no atual projeto neoliberal pré-histórico, os países que hoje crescem se utilizam de política monetária expansionista, EUA, União Europeia, a e Índia usam o “quantitative easing” ou planos de desenvolvimento como a China. O Brasil acredita que o mercado resolverá tudo, uma insanidade.
  2. ACIDENTE POLICIAL JUDICIAL, na linha do que aconteceu com o Presidente Collor, há elementos em fogo brando.
  3. REAÇÃO DA HIERARQUIA MILITAR a uma série de atos de governo que colocam em alto risco o futuro do País, já aconteceu N vezes na História do Brasil.
Dois jogos de roleta, imprevisíveis, afetarão as eleições de 2022
A. AS ELEIÇÕES AMERICANAS E A POLARIZAÇÃO INÉDITA QUE RESULTARÁ DESSAS ELEIÇÕES NOS EUA E NA GEOPOLÍTICA MUNDIAL: Trump poderá ser reeleito mas o segundo mandato será infinitamente mais tumultuado nos EUA e na política externa americana do que o primeiro mandato, já não há mais o crédito do elemento surpresa, sua ficha está hoje mais exposta do que antes, algumas contas não fechadas, como o falso acordo com a China, vão aparecer.
B. A UNIFICAÇÃO DA ESQUERDA E DO CENTRO OU A SUA FRAGMENTAÇÃO DESTRUTIVA –  Tudo indica que as forças de esquerda e centro continuarão fragmentadas até 2022, a sua unificação depende de pactos de estadista que não se percebe no horizonte, MAS poderão ocorrer, como o Pacto de Moncloa na Espanha, a “geringonça” em Portugal. Não é da natureza de nosso tempo onde impera a polarização e a fragmentação, MAS a política tem caminhos insondáveis e se ocorrer muda todo o quadro político, o grande trunfo deste governo é a desunião da oposição.
FASCISMO E CONSERVADORISMO
No espectro ideológico, FASCISMO E CONSERVADORISMO são movimentos de direita, mas sua dinâmica é diferente. Os conservadores de perfil clássico operam na Democracia, dentro das instituições e nesse quadro pretendem manter seus valores. Os de extrema-direita e neofascistas precisam de um ESTADO AUTORITÁRIO e não democrático, seus valores só podem ser impostos numa ditadura. Podem até não conseguir, mas essa é a meta.
O VALOR DA AUDÁCIA
“L´audace, toujours l´audace”, célebre frase de Danton, o grande instrumento dos autoritários clássicos, pessoas medianas, mas com uma qualidade rara, a AUDÁCIA. Se ninguém os breca vão em frente, Mussolini, Hitler, Vargas, Peron, de longe pareciam banais, mas eram audaciosos e contavam com a sabedoria em perceber que o “establishment”, o conjunto de forças no Parlamento, no Judiciário, na Burocracia, nos Mercados é COVARDE.
Nos tempos modernos, que tal Trump? Maior audacioso não existe. Um profissional, conseguiu intimidar o partido de Lincoln, o Partido Republicano, onde vemos um rastejante Mitch McConnel em um papel ridículo de capitão do mato de Trump com chicote na mão mantendo no cercado todos os Senadores Republicanos com poucas exceções, a maior das quais Mitt Romney.
Trump é um símbolo do autoritário apenas contido pela estrutura mais sólida das instituições americanas, mas ainda assim o estrago que fez, faz e fará é maior que duas guerras mundiais, rachou o Pais, rompeu alianças sólidas com os mais tradicionais amigos dos EUA, criou conflitos artificiais, como com o Irã, iniciou guerras comerciais, com a China, Canada, México, União Europeia, só falta o Japão, favoreceu a Rússia na Síria, jogou a China no colo da Rússia. Trump já é e reforçará o DECLÍNIO DOS EUA COMO POTÊNCIA, todos seus atos em política interna e externa tem como único objetivo seus interesses políticos pessoais e não os do País. Trump já é em si o resultado de uma perda de poder geopolítico dos EUA, mas ele reforçou, em muito, essa trajetória, é o pior Presidente da história dos EUA.
Bolsonaro é um audacioso clássico, tem o brilho da audácia nos olhos, é um político especial, tem fé cega em seu destino, a ambição dos líderes.
Já os titulares das famosas “instituições”, tem medo de pio de pássaro, jamais vão arriscar a pele para enfrentar a audácia que está acima deles.
Fingem que está tudo normal enquanto a ESCALADA AVANÇA, fazem de conta que a Democracia resistirá quando ela já está sendo minada, fazem de conta que o bicho papão não é assim tão mau e que as INSTITUIÇÕES RESISTIRÃO. Na Itália, dos anos 20, nem a MONARQUIA resistiu, a Casa de Savoia foi submetida pelo Fascismo, o Rei fingindo que reinava, mas o Poder estava com Mussolini.
Na Alemanha de Hitler, os poderosos industriais do Ruhr achavam que Hitler era um acidente de percurso, passageiro, afinal a República de Weimar era tutelada pelos Aliados de Versalhes, como Hitler ousaria desafiá-los? Hitler foi testando o terreno, cautelosamente, primeiro fez acordo com o Exército que, mesmo reduzido por Versalhes, era uma poderosa instituição. Depois testou os Aliados ocupando a Renânia, em 1935, os Aliados não reagiram, depois anexou a Áustria em 1938, os Aliados não reagiram, enquanto isso liquidou com o desemprego de 40% com a indústria bélica rearmando a Alemanha numa escala nunca vista.
Mesmo com o rearmamento pesado, os Aliados não reagiram, depois ocupou a Tchecoslovaquia com a concordância da França e Inglaterra, fruto pela COVARDIA explícita de Chamberlain e Daladier. O avanço só encontrou barreira já tarde demais, com Churchill que avisava o que iria acontecer desde 1935. Churchill via claro, era o único em uma multidão de cegos e covardes.
Quando Hitler invadiu a Polônia em 1º de setembro de 1939, o Fuhrer pensava que os Aliados não reagiriam. Pela primeira vez errou porque não previu que um Churchill apareceria no horizonte, a covardia inglesa acabou.
É espantosa a crença numa normalidade das eleições de 2022, cegos absolutos caminham para o cadafalso com análises do mundo das fantasias nos jornalões e na mídia de elite, como se a extrema direita costumasse entregar poder que duramente conquistou. Mas é claro que este é apenas um palpite que pode estar errado, ninguém é dono da verdade, eu mesmo tenho as maiores dúvidas sobre minhas rasas opiniões. A ver.  -  (Fonte: Jornal GGN - Aqui).

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