Mais ainda quando a gente exerce funções públicas porque, afinal, somos pagos por toda a população, independente de ideologia, origem étnica, orientação sexual, ou lá o que seja.
O decoro, antes de ser uma imposição legal, é uma obrigação moral.
Este é o calcanhar de Aquiles da Lava Jato: ter abandonado qualquer obrigação moral em nome do que supõe ser a sua “missão moral”, de todo-poderosos, ungidos que foram por um concurso público e uma nomeação que os transformou numa casta diante da qual a “ralé” representada por Lula não tem direito sequer ao luto.
O trágico é que eles foram ungidos pela democracia e se afastaram de seus princípios, passando a comportar-se como uma aristocracia que não tem deveres de comportar-se sequer com a “noblesse oblige”, a carga que obriga a nobreza, em troca de seus privilégios, a ter deveres de urbanidade, ainda que frequentemente hipócritas.
Talvez seja esta a grande diferença destes tempos: as redes sociais e aplicativos de mensagem registram a conversa íntima que travam, com o desprezo pelos que não pertencem, ao seu ver, à nata a que pertencem.
Ao seu ver, apenas, porque vê-se o grau de degradação a que chegaram, pelos comentários sórdidos.
Talvez seja este o maior benefício que o vazamento dos diálogos dos “santos” da Lava Jato tenha prestado ao Brasil, o de conhecer a imundície em que vivem estes núcleos autoritários e o quanto eles se tornaram monstruosos neste processo.
Creio que hoje todos partilhamos do que Lula relatou, de que teve “um sentimento de vergonha pelo comportamento baixo a que algumas pessoas podem chegar”.
Pois foi isso, mais que qualquer satisfação possível por sua desmoralização, que a grande maioria das pessoas sentiu.
Até mesmo a procuradora que, no Twitter, pediu desculpas pelo que fez, embora, cinicamente, tenha voltado a duvidar da veracidade das mensagens, não obstante ela própria o reconheça, ao chorar lágrimas de jacaré:
Pode-se acreditar em quem diz ter uma crise de consciência, mas não é capaz de reconhecer senão a verdade que lhe convém?
Há, sem dúvida, inocentes e culpados entre os acusados na Lava Jato.
Mas há, antes de tudo, um processo viciado, poluído pela arrogância e o desejo de poder que precisa ser saneado.
Quem não respeita o direito de Lula de sofrer com a perda da mulher, do irmão e do pequeno neto, pode agir respeitando seus direitos legais?"
(Do jornalista Fernando Brito, titular do Blog Tijolaço, texto intitulado "As lágrimas de jacaré e a dignidade" - Aqui -, a propósito do contido nas mais recentes mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil, desta feita em torno das impressões externadas por procuradores da Lava Jato quando da morte de entes queridos do ex-presidente Lula - a esposa dona Marisa Letícia, o irmão Vavá e o neto Arthur -, resumidas em matéria publicada na edição de ontem, 27, da Folha, intitulada "Procuradores da Lava Jato ironizam morte de Marisa Letícia e luto de Lula por parentes" - Aqui -.
Facilmente localizamos no Google esta observação de Oscar Wilde: "Chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está olhando chamamos de caráter." - O Intercept escancarou o caráter dos doutos).
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