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A Lava Jato e os indignos filhos do Januário
Sobre as deprimentes mensagens hoje divulgadas pelo The Intercept, não nos surpreenderemos se um certo guardião da Carta Magna, sutil maestro de (quase) todos os percalços do ex-presidente nos últimos tempos e fiel defensor dos excessos da Operação em detrimento da Carta que deveria guardar, disser que não vê nada de mais nas 'observações' dos doutos procuradores, e que deplorável, mesmo, é ver criminosos a divulgar inocentes fofocas internas.
Por Luis Nassif (No GGN)
Anivaldo Padilha, torturado pela ditadura militar, narra uma cena que explica bem a banalização do mal. Estava sendo torturado por um torturador implacável. Aí toca o telefone. A sessão é interrompida e torturador atende. Do outro lado, a filha. O torturador se enternece:
– Oi, filha, o papai já vai, fique tranquila, já estou indo.
E volta mais feroz ainda, porque a resistência do torturado estava atrasando a ida dele para os compromissos familiares.
A faceta mais óbvia do fascismo é a banalização do mal, a desumanização das vítimas, uma das características do direito penal do inimigo.
Os diálogos da Lava Jato sobre as mortes dos parentes de Lula – divulgados pelo The Intercept e UOL – são a comprovação definitiva de como o fascismo se espalha, contaminando corações e mentes de pessoas de pequena estatura moral.
A celebração da morte, por esses procuradores indignos, entrará definitivamente para a história. No futuro, será erguido um Panteão dos Atos Indignos, para lembrar esses tempos tenebrosos que se iniciam com a Veja, prosseguem com a Lava Jato e se encerram com Jair Bolsonaro, todos da mesma natureza, banalizadores do mal, cultivadores da morte, da selvageria, deslumbrados com o poder que receberam, mentes sádicas, se comprazendo em liquidar com reputações, empresas, empregos e não demonstrar respeito nem pela morte.
No Panteão dos Atos Indignos, esses diálogos ocuparão lugar especial, ao lado de frases escolhidas de Bolsonaro e filhos, todos da mesma laia, da mesma natureza moral, e entronizarão os nomes de Januário Paludo, Monique Cheker, Thamea Danellon, Laura Tessler, Jerusa Viecili, Roberto Pozzobon, Deltan Dallagnol, para que não se esqueça, não se repita. A lembrança desses diálogos atravessará os tempos, amaldiçoando a memória dos comensais desse banquete de horrores, será um peso na memória dos seus filhos e netos, uma mancha que se estenderá por gerações.
Tolos, medíocres, como o mais reles dos bolsominions, incapazes de enxergar para além do momento de paroxismo, de avaliar os desdobramentos futuros sobre sua própria história e biografia. E, no Twitter, invocando o nome de Deus e da fé, meramente porque falar de Deus e da fé se tornou um bom negócio.
Restaram, no diálogo, as observações do mais vulnerável e sensível dos procuradores, Diogo Castor, o que se deixou influenciar por colegas mais velhos, a ponto de se expor em críticas abertas a Ministros do Supremo, enquanto as raposas velhas usavam o biombo de partidos políticos e movimentos de rua para não se expor. Diz ele, por ocasião do velório do irmão Vavá:
“Entendo as ponderações. Considero razoáveis. Mas mesmo assim não acho que ele possa ser penalizado por causa disso, sendo que a lei prevê que todos os presos em regime fechado tem esse direito”.
E Januário Paludo, o mais experiente do grupo:
“O safado só queria passear”.
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