terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

OSSIETZKY, O PRESO POLÍTICO ALEMÃO QUE RECEBEU O NOBEL DA PAZ


Do GGN: Carl von Ossietzky nasceu em 3 de outubro de 1889, em Hamburgo. Seu pai foi um funcionário público nascido em uma aldeia perto da fronteira germano-polonesa. Sete anos depois da morte do pai, em 1891, sua mãe casou-se com Gustav Walther, um social-democrata que muito influenciou as futuras posições políticas de Ossietzky.
Ossietzky deixou a escola aos dezessete anos para se tornar funcionário público administrativo em sua cidade natal. Logo depois, voltou-se para o jornalismo, profissão em que fez carreira. Seu primeiro trabalho foi publicado em Das Freie Volk [O Povo Livre], jornal semana da Demokratische Vereinigung [União Democrática]. Em 5 de julho de 1913, elaborou um artigo criticando decisão do tribunal pró-militar em Erfurt, recebendo acusações de ‘insulto ao bem comum’ do Ministério da Guerra da Prússia. Foi chamado para comparecer ao tribunal logo após seu casamento, em 22 de maio de 1914. Sua esposa, a inglesa Maud Woods, fez acordos secretos para pagar sua multa.
Mesmo com saúde frágil, foi convocado para o serviço militar em junho de 1916, com o Regimento Pioneiro da Baviera. Depois da guerra, Ossietzky, agora um pacifista declarado e também democrata, retornou a Hamburgo, onde estimulou a opinião pública a educar as pessoas para uma ‘mentalidade de paz’. Tornou-se presidente da divisão local da Sociedade Alemã da Paz e fundou o Der Wegweiser [A Signpost], que logo fechou por falta de apoio financeiro.
Ossietzky aceitou, em seguia, a nomeação como secretário da Sociedade Alemã da Paz, com sede em Berlim. Lá criou o Mitteilungsblatt [Folha de Informações] mensal, que teve seu primeiro número em 1º de janeiro de 1920. Também tornou-se colaborador regular de Monisten Monatsheften [Monists ’Monthly], usando o pseudônimo ‘Thomas Murner’. Homem de forte temperamento, Ossietzky logo se cansou do trabalho de escritório da Sociedade Alemã da Paz e aceitou o posto de editor estrangeiro na equipe do Berliner Vokszeitung [Documento Popular de Berlim], cuja linha editorial era apartidária, democrática e anti-guerra.
Em 1923-1924 teve um breve flerte com a política, quando toda a equipe editorial do Berliner Volkszeitung se envolveu na fundação de um novo partido, o Partido Republicano. Em maio de 1924, o partido sofreu uma derrota na eleição para o Reichstag e Ossietzky entrou para o semanário político Tagebuch [Journal], revelando em seus textos uma desilusão com seus próprios esforços políticos e algum ceticismo quanto à sabedoria das massas.
Em 1926, Ossietzky foi convidado por Siegfried Jacobsohn, fundador e editor do Die Weltbühne [The World Stage], uma posição em sua equipe editorial. Jacobsohn já havia se envolvido na descoberta e divulgação do rearmamento secreto da Alemanha, e Ossietzky continuaria com essa política editorial impopular devido à morte inesperada de Jacobsohn, em dezembro de 1926. Ossietzky foi nomeado editor-chefe pela viúva de Jacobsohn. Em março de 1927, o jornal publicou um artigo de Berthold Jacob que criticava o Reichwehr por tolerar organizações paramilitares. Ossietzky, como editor responsável, foi julgado por difamação, considerado culpado e sentenciado a um mês de prisão.
Recusando-se a ser intimidado, ele publicou, em março de1929, um artigo de Walter kreiser que, na verdade, fazia parte de uma campanha de Ossietzky contra o rearmamento alemão secreto em violação ao Tratado de Versalhes. Em uma audiência, em agosto de 1929, Ossietzky foi acusado de traição de segredos militares. Julgado, em novembro de 1931, foi considerado culpado, e condenado a 18 meses na prisão de Spandau. Foi libertado após sete meses na anistia de Nata em 1932.
No início de 1933, Ossietzky, mais perspicaz do que seus colegas otimistas, reconheceu a gravidade da situação política na Alemanha, mas ele se recusou a deixar o país, dizendo que um homem fala com uma voz oca do outro lado da fronteira. Em 28 de fevereiro de 1933, na manhã seguinte ao incêndio do Reichstag, Ossietzky foi detido em casa pela polícia secreta, enviado para uma prisão de Berlim, depois para campos de concentração, primeiro em Sonnenburg e depois em Esterwegen-Papenburg. Nesses campos, segundo relatos de companheiros de prisão, ele foi maltratado, até forçado a realizar trabalhos pesados, embora já tivesse sofrido um ataque cardíaco.
A candidatura de Ossietzky para o Prêmio da Paz foi sugerida pela primeira vez em 1934. Berthold Jacob, um companheiro em muitas causas, pode ter sido o primeiro a formular um plano real para garantir a nomeação. A ideia foi adotada por seus colegas da Liga Alemã pelos Direitos Humanos, por Hellmut von Gerlach, ex-associado do Die Weltbühne, que empreendeu uma campanha de cartas de Paris, de organizações e pessoas famosas em muitas partes do mundo. A indicação para 1934 chegou tarde demais; o prêmio para 1935 foi reservado naquele ano, mas em 1936 foi votado em Ossietzky.
A essa altura, Ossietzky, doente de tuberculose, tinha pouco tempo de vida, mas o governo se recusou a libertá-lo do campo de concentração e exigiu que ele recusasse o Prêmio Nobel, uma exigência que Ossietzky não honrou. O Ministério da Propaganda da Alemanha declarou publicamente que Ossietzky estava livre para ir à Noruega para aceitar o prêmio, mas documentos da polícia secreta indicam que o passaporte de Ossietzky foi recusado e, embora autorizado a entrar em um hospital civil, foi mantido sob constante vigilância até sua morte. Maio de 1938
A imprensa alemã foi proibida de comentar sobre a concessão do prêmio a Ossietzky, e o governo alemão decretou que no futuro nenhum alemão poderia aceitar qualquer prêmio Nobel.
A última aparição pública de Ossietzky foi em uma audiência curta na qual seu advogado foi condenado a dois anos em trabalhos forçados por apropriar-se da maior parte do dinheiro do prêmio de Ossietzky.
Artigo traduzido do site oficial do Prêmio Nobel e por sugestão do leitor Renato Rezende.

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