(Colagem: GGN)
Eles colocavam as pedras, nós construíamos um caminho
Por Fernando Horta (No GGN)
Por que regimes ditatoriais e, em especial os fascistas, perseguem, ameaçam e degradam professores?
No dia 14 de novembro de 1960, na icônica New Orleans, a pequena Ruby Bridges, de apenas seis anos, se tornou a primeira negra a estudar em escolas destinadas apenas a brancos nos EUA. Em meio à intensa disputa da Guerra Fria, o presidente norte-americano diria que “a questão social está nos fazendo mais estragos do que a Guerra da Coréia”. O movimento pela revolução social nos EUA ganhava força e marcaria toda a década de 60.
Desde 1868 havia lei clara afirmando a igualdade de direitos indiferente à cor da pele, sexo e etc. A 14ª emenda da Constituição era usada até mesmo nos Conselho de Segurança para assegurar ao mundo que os EUA eram um país igual. Como metade da população americana sabia na época, a lei escrita em muitos casos nada significa. Ruby precisou de apoio policial e de uma brigada de paraquedistas do exército dos EUA para poder ir à aula.
O que pouca gente sabe ou fala é que ninguém queria ensinar àquela negra. Ninguém, com exceção de uma mulher a professora Barbara Henry. Então com 28 anos, a professora que havia feito sua formação em Boston, transformava o ato corajoso de Ruby em uma vitória histórica pelos direitos humanos e pela efetiva igualdade racial. A foto icônica da pequena Ruby subindo as escadas da William Frantz Elementary School é uma poderosa ferramenta histórica, mas foi necessária a coragem de ambas – aluna e professora – para que aquilo se tornasse efetivamente uma vitória. Eles colocavam as pedras, nós construíamos um caminho Por Fernando Horta
Nas palavras de Barbara:
“E como foi bonito aquele inesquecível momento quando eu peguei a mão de Ruby e juntas nós cruzamos a linha da antiga ordem da segregação, começando nossa missão, sozinhas e juntas naquela escola. As memórias, queridas daquele nosso ano juntas ... Como foi fácil a mágica de duas estranhas com os corações livres de preconceito se tornando um. Nós tínhamos apenas uma a outra e, em verdade, não precisávamos de mais ninguém. Enquanto eu estivesse lá por ela, ela estaria lá por mim”.
Na semana em que se retomam os trabalhos nas escolas, faculdades e universidades pelo país, é preciso lembrar que, em tempos de brutalidade institucional, ensinar – com toda a força da humanidade – é um ato de coragem. Não existe aluno sem professor e não existe professor sem aluno. Juntos, eles promovem mudanças. Juntos, eles são perigosos.
Que nos lembremos que, em tempos de fascismo, ensinar é revolucionário. E que nenhum professor neste momento se esqueça de quanto é importante, que nenhum perca de vista a mudança que pode fazer no seu tempo e na sua sociedade.
E que os fascistas tremam ao som de cada professor crítico que desnuda cada realidade por este país afora. Eles podem tentar, mas a força do pó de giz, de uma vida dedicada a ensinar se torna imparável quando recebe alguns poucos sorrisos em troca.
Eles nos atacam porque sabem que além da coragem de Ruby foi necessária a consciência, a retidão e a figura de Barbara para que a mágica acontecesse.
Serão anos difíceis, mas nós – mais do que quaisquer outros – podemos fazer a diferença.
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