A questão é: É lícito o fato de um cidadão, à revelia da Constituição, autoproclamar-se presidente da República e tomar o lugar do titular eleito, entregando as reservas petrolíferas a Tio Sam? O mínimo que se pode afirmar de tudo isso é: o impasse é monumental.
(Google)
Maduro fortalece a direita na América do Sul
Por André Araújo
Partidos de esquerda cometem suicídio político ao apoiar o afundamento de um regime inviável como o de Nicolás Maduro na Venezuela.
Política exige inteligência, ideologia serve de apelo, mas a operação da política exige estratégia, uma trajetória de meios e fins.
Com a morte de Chavez encerrou-se o chavismo, o seu sucedâneo sempre foi inviável, é raríssimo um líder carismático transferir o poder a um sucessor porque as características de um líder carismático são intransferíveis, sua biografia, força e imagem internacional.
Maduro é um indivíduo primário, tosco, sem nenhuma capacidade gerencial para um Estado complicado como a Venezuela, uma figura patética, um glutão engordando em país passando fome.
Lembrando que a Venezuela já teve duas ditaduras anteriores, a longeva de Juan Vicente Gomez no começo do Século passado, que durou com ele ou apaniguados 35 anos, e a do Coronel Marcos Perez Gimenez, nos anos 1950, de curta duração. Ambos ditadores foram apoiados pelos EUA.
Mas depois da última ditadura a Venezuela construiu uma vigora democracia liberal, com partidos sólidos, como a respeitada Accion Democratica e o COPEL, apeados por Chavéz em nome do combate à corrupção. Ironicamente, a corrupção do chavismo é infinitamente maior do que a dos antigos partidos, fazendo de Carlos Andrés Perez um modesto surripiador de supermercado.
ESTRATÉGIA DE UMA ESQUERDA OPERACIONAL
Stalin puxou a escada dos comunistas gregos em 1949, quando o ELAS estava a ponto de controlar Atenas. Na visão estratégica de Stalin se a Grécia caísse em mãos comunistas, as potências ocidentais iriam contestar o controle soviético sobre a Europa do Leste. Com esse cálculo, Stalin mandou desarmar o ELAS e impediu o movimento esquerdista de ganhar a guerra civil grega, porque do ponto de vista estratégico era mau negócio uma Grécia comunista.
Outros regimes bolivarianos na América do Sul, como Equador e Bolívia, não estão sendo contestados pela direita porque são razoavelmente eficientes. Já o governo da Venezuela é uma catástrofe gerencial, liquidou com a economia, o PIB caiu 50% em três anos e destruiu a indústria, a agricultura, a produção de petróleo, numa escala que lembra a Europa bombardeada da Segunda Guerra.
Como é possível apoiar esse regime, de onde fugiram 5 milhões de habitantes em uma população de 29 milhões? Abraçar afogado não acaba bem, a falta de comida e remédios é insustentátvel.
A insistência do PT em apoiar esse regime abominável só enfraquece o Partido e, no conjunto, a esquerda sul americana, reforçando a direita continental porque lhe dá argumentos para um discurso anti-esquerdista, exibindo a Venezuela como exemplo de mau governo de esquerda.
OS EUA NA CRISE VENEZUELANA
A posição dos EUA nessa situação é muito especial. A Venezuela tem, até 2017, os EUA como seu maior parceiro comercial. Os EUA são seu maior fornecedor, com 24% do total de importações e são mercado para 34,8% das exportações venezuelanas. Já a maior concessionária das novas reservas de petróleo do Orinoco é a americana CHEVRON, cuja subsidiária venezuelana é a principal empresa do país, depois da PDVSA.
A Venezuela sempre foi muito americanizada. O baseball é seu principal esporte. A ligação com os EUA é muito forte historicamente.
De modo geral, os EUA tem com a Venezuela uma atitude cuidadosa, que não tem com outros países da América Latina, tanto que tiveram ligações mais ou menos normais com esse regime que já dura 21 anos, só engrossaram nos últimos meses pelo estado calamitoso do País.
A situação do Brasil com a Venezuela é especial. É preciso cabeça fria. O Brasil se comprometeu demais com o madurismo e com isso perdeu espaço de negociação. Felizmente o núcleo militar do atual governo tem cabeça fria para lidar com essa situação explosiva. Não resta ao Brasil outra estratégia que não seja a de operar dentro dos mecanismos do Grupo de Lima como forma de limitação de perdas no continente.
Aparentemente todos os participantes do Grupo de Lima concordam que uma ação militar não deve ser cogitada e manter a pressão diplomática parece ser a única opção, na espera de um golpe militar interno, que tampouco parece viável. O Exército se comprometeu profundamente com o regime. No meu ponto de vista, o verdadeiro comando do Governo é dos militares. Maduro é apenas um títere desse grupo, o que torna as coisas mais complicadas na solução imprevisível da crise. - (Aqui).
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