sexta-feira, 15 de setembro de 2017

IMPEACHMENT DE DILMA: AO SABOR DA CONVENIÊNCIA


Janot muda explicação sobre impeachment de Dilma ao sabor da conveniência

Do Jornal GGN

O procurador-geral da República Rodrigo Janot deu duas versões muito diferentes para os motivos que levaram à derrubada do governo Dilma Rousseff (PT). A mudança de postura ficou registrada em dois documentos enviados ao Supremo Tribunal Federal no mesmo dia, quinta-feira (14).

Primeiro, para posicionar-se contra a anulação do impeachment, Janot disse que o processo se deu dentro da normalidade constitucional, afirmou que as pedaladas fiscais justificavam a condenação da ex-presidenta e garantiu que não houve nenhum "desvio de função" por Eduardo Cunha. O ex-deputado é acusado por Dilma de ter deflagrado o impeachment por vingança e em benefício próprio e de seu grupo político, interessados em escapar da Lava Jato. A narrativa ganhou força após o vazamento de grampo sobre "botar o Michel [Temer]" no poder e "estancar a sangria".

Depois, na denúncia que apresentou ao Supremo contra o chamado "quadrilhão do PMDB", Janot mudou a narrativa ao sabor da conveniência: disse que o impeachment foi subproduto de um plano frustrado do PMDB do Senado para frear as investigações.

"Como não lograram êxito em suas tratativas, em 29.03.2016, o PMDB decidiu deixar formalmente a base do governo e, em 17.04.2016, o pedido de abertura de impeachment da Presidente Dilma Rousseff foi aprovado pela Câmara dos Deputados", admitiu Janot.

Na página 47 da denúncia que também chegou ontem ao Supremo, Janot começou a narrativa: disse que apesar da vitória da chapa Dilma-Temer em 2014, a relação entre PT e PMDB começou a estremecer por causa da Lava Jato, que teve início naquele ano, focada na Petrobras.

Ali, o PMDB começou a recear que as investigações atingissem outros órgãos loteados por seus membros. Em 2015, a relação ficou "fortemente abalada" especialmente porque Dilma exonerou Moreira Franco da Aviação Civil sem "prévio ajuste" com Michel Temer.

Eduardo Cunha, então, decidiu romper compromisso com o PT e lançar-se candidato a presidente da Câmara. Ganhou. "Esse episódio marcou uma virada importante no relacionamento entre os integrantes do núcleo político da organização criminosa do 'PMDB da Câmara' e do PT."

"Os caciques do PMDB achavam que o governo não estava agindo para barrar a Operação Lava Jato em relação aos 'aliados' porque queriam que as investigações prejudicassem os peemedebistas; já os integrantes do PT da organização criminosa desconfiavam que aqueles queriam fazer uma manobra política para afastar a então presidente Dilma do poder e assumir o seu lugar", disse Janot.

Na sequência, o procurador afirma que a desconfiança aumentou quando o Supremo Tribunal Federal instaurou inúmeros inquéritos ligados à Lava Jato. Em novembro de 2015, foi apresentado o pedido de impeachment de Temer.

"A tensão originada entre os integrantes do núcleo politico da organização criminosa, em especial integrantes que pertenciam ao PT e ao 'PMDB da Câmara', ocasionou uma forte crise política."

Em seguida veio a carta de Michel Temer rompendo com Dilma porque sempre foi tratado como um "vice decorativo". "A crise dentro do núcleo político da organização criminosa aumentava à medida que a Operação Lava Jato avançava, desvendando novos nichos de atuação do grupo criminoso."

Nesse ponto, Janot afirmou que, no desespero, o PMDB no Senado começou a "iniciar uma série de tratativas para impedir que a Operação Lava Jato continuasse a avançar". Há menção, inclusive, à conversa de Romero Jucá e Sergio Machado sobre "estancar a sangria". Mas, como "não lograram êxito em suas tratativas", o PMDB decidiu abandonar o governo Dilma e abrir o processo de impeachment.

"A partir daí, houve um rearranjo no núcleo politico da organização apenas para se excluir dele os integrantes do PT, sem que isso tenha significado o término das atividades ilícitas por parte da organização criminosa. Com a mudança de mãos da cúpula do Poder Executivo Federal, houve necessidade de reacomodação dos demais integrantes que permaneceram na organização."  -  (Aqui).

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Bem, o que se sabia sobre o impeachment de Dilma Rousseff é que o acatamento do pedido (cerca de 9 pedidos estavam engavetados, e, segundo o próprio Cunha, nenhum deles atendia às exigências constitucionais) foi a resposta do então presidente da Câmara em face da recusa do PT em apoiá-lo no Conselho de Ética, que então o julgava por declaração falsa (assunto abordado AQUI). Os jornalões, aliás, abriram manchetes sobre o assunto, conforme se vê abaixo:


Se agora terceiros vêm com outras versões, problema (ou prerrogativa?) deles. O que nos conduz ao entendimento de que o senhor Janot parece ter agido segundo sua especialíssima "conveniência".

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