Jornal Nacional, em fevereiro 2016
A surreal história de um "JD" que serviu para atingir dois petistas ao mesmo tempo
Por Cynara Menezes
Em fevereiro deste ano, os principais jornais do país noticiaram que
José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, teria recebido
48 milhões de reais da Odebrecht entre 2009 e 2010. A fonte da
informação eram os investigadores da Polícia Federal na operação
Lava-Jato, que afirmavam corresponder a Dirceu a sigla JD, citada quatro
vezes na planilha da empreiteira abaixo dos anos de 2009 e 2010 e ao
lado de valores que somavam R$ 48 milhões. A tese, então, era de que
Dirceu teria recebido dinheiro da Odebrecht ilegalmente e repassado ao
PT.
Esta semana, porém, a PF disse que “errou” e que a sigla JD não
corresponderia a José Dirceu, mas a Juscelino Antonio Dourado, ex-chefe
de gabinete de Antonio Palocci; ambos foram presos na segunda-feira 26.
Trata-se de uma “correção” que vem a calhar, porque Palocci, segundo o próprio juiz Sergio Moro,
foi preso sem provas. O ex-deputado e ex-ministro da Fazenda e da Casa
Civil é acusado de receber propina da Odebrecht, mas, como não foram
encontradas provas, Palocci ficará preso para que elas apareçam, ou
“enquanto não houver tal identificação”, nas palavras de Moro.
Associá-lo ao JD da planilha é, portanto, uma mão na roda para a tese
dos investigadores.
A tese agora é que Palocci, o “italiano”, recebia propina da
Odebrecht (“via JD”?) para atuar pela empreiteira no governo federal e
no Congresso Nacional. Tanto Palocci quanto Dourado e ainda Branislav
Kontik, outro assessor do ex-ministro, se queixaram, por meio de seus
advogados, que as prisões foram “arbitrárias” e “autoritárias”.
Manchetes implicando o JD inicial. (Hoje, menção en passant...)
Como o cidadão brasileiro pode acreditar neste imbróglio todo? Como
saber se a mesma PF que se equivocou antes com a sigla JD está correta
agora? Aliás, isso é investigação ou palpite? Fica difícil de acreditar
na eficiência de uma polícia que confunde personagens –sempre
do mesmo partido, o PT, claro. Sem contar que a diferença da “notícia”
envolvendo Dirceu e da “correção” feita pela PF é brutal: a acusação
contra Dirceu saiu, por exemplo, com destaque no Jornal Nacional da Globo; a retificação foi feita en passant, no meio do noticiário.
Imaginem: uma mera sigla numa planilha foi usada para atingir dois
petistas ao mesmo tempo. José Dirceu já está preso e condenado. Palocci
está preso apenas temporariamente. Curioso é que, em relação a políticos
de outros partidos, citados nominalmente na lista da Odebrecht, não é
expedida nem uma mísera ordem de prisão. E nem precisa de chute, ops,
investigação para saber de quem se tratam.
(Fonte: Socialista Morena - AQUI).
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Longe deste blog a pretensão de sustentar a inocência ou culpa de quem quer que seja, porém, uma vez que nos mantemos fiéis à (ultrapassada, está-se a ver) tese de que a Constituição deve exercer a sua supremacia erga omnes, é imperioso dizer, como bem observado AQUI, num diálogo transcendental, que algo está errado, muito errado.
domingo, 2 de outubro de 2016
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