Uma alternativa inadiável para regenerar a política
Por J. Carlos de Assis
As propostas de impeachment paralisaram o país desde fins de 2014, o ajuste Levy afundou a economia desde o início de 2015 e a equipe Temer põe em marcha um programa de aniquilamento social e econômico que tende a se estender até 2017. Sobrevoando o caos, os puríssimos garotos de Curitiba prometem não deixar pedra sobre pedra do sistema partidário, ao mesmo tempo que destroem a espinha da economia produtiva nacional, as empreiteiras. É difícil saber aonde isso vai. Mas parece que toda a superestrutura da sociedade vai explodir.
No mundo real, que é o que importa, teremos – na verdade, já temos – taxas recordes de desemprego e subemprego, em especial entre os jovens: cerca de um quarto deles. Se me perguntassem, portanto, em termos abstratos, qual seria a melhor receita para um golpe de estado ou uma revolução, não titubearia um minuto para responder que seria o quadro pintado acima. Não consigo imaginar nada pior, e por tanto tempo. Não é mais uma questão de culpados. É uma questão de funcionamento da máquina concreta do país.
O golpe, em realidade, já foi dado, mas a sociedade o rejeita. Essa rejeição se explica pela mesma razão pela qual não teremos uma revolução ou mesmo um golpe de estado. É que, curiosamente, nenhum segmento da sociedade, e em especial os militares, tem uma proposta de projeto nacional engatilhada. Talvez esse seja o maior fracasso das elites brasileiras ao renunciar ao que seria seu papel histórico, ou seja, criar uma utopia que apontasse aos cidadãos um caminho de segurança e de melhora de vida.
A proliferação de partidos é inversamente proporcional a sua qualidade e diretamente proporcional ao fundo partidário público - ao que se acrescenta o dinheiro da corrupção privada, da Fiesp, dos bancos, do agronegócio. Não passam de cartórios administrados, em grande medida, para gerar recursos. Carimbam contribuições a serem pagas com algum favorecimento atual ou futuro. Num momento de crise como agora, era de se esperar que algum partido levantasse a bandeira da regeneração. Sabemos que isso não vai acontecer, a não ser na base demagogia, porque a maioria está preocupada em apagar pegadas.
Aonde isso vai acabar? Temos alguma forma de regeneração? Como um sistema partidário falido, ou uma coligação deles, pode salvar o país? No meu entender, só temos uma alternativa de regeneração que não passe por uma intervenção militar – que apenas pioraria as coisas –, um líder carismático ou uma revolução: uma mobilização da sociedade civil, nos moldes que temos proposto de Aliança pelo Brasil*, a partir da qual, com a depuração a ser conseguida num processo eleitoral limpo, seja restaurado o sistema partidário. Pois uma coisa é certa: por pior que sejam os políticos, não existe república, desde os gregos, que não esteja ancorada em partidos. (Fonte: aqui).
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*A Aliança pelo Brasil está sendo organizada junto a líderes sindicais, estudantes, juristas, artistas, professores, intelectuais, profissionais etc, e deve ser lançada oficialmente em julho.
(J. Carlos de Assis - Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ).
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