domingo, 26 de junho de 2016

UNIÃO EUROPEIA NA BERLINDA


União Europeia ameaça ruir. E agora?

Por Rodrigo Vianna

É a segunda vez que minha geração tem a sensação de ´fim-do-mundo-tal-como-o-conhecemos'

A frase acima é de Antonio Luiz M. C. Costa, e foi retirada do twitter do jornalista – que escreve sobre temas internacionais na revista CartaCapital. Antônio se refere, é claro, à decisão dos eleitores do Reino Unido, de sair da União Européia.

A primeira vez que nossa geração (dele e minha) teve essa sensação foi quando a União Soviética ruiu, há 25 anos. Agora é a arquitetura política do mundo capitalista que também ameaça desabar.

A decisão dos britânicos, tomada por estreita margem, se baseou num discurso conservador, de ódio aos imigrantes que estariam “roubando os empregos dos britânicos”. A ultra-direita avança, explorando o tema do nacionalismo. Isso é evidente no Reino Unido, nos EUA com Trump, na França e em boa parte do mundo europeu. E aí a política se entrelaça à economia…

A crise subprime de 2008, que arrasou os países do sul europeu, e deixou os Estados Unidos também em situação mais frágil, encerrou a temporada de bonança e otimismo – que de certa forma vinha desde o pós segunda guerra (com altos e baixos).

Vejam que a direita “liberal” britânica (falo especificamente de David Cameron, um conservador herdeiro de Thatcher, e que defendia a União Européia como forma de permitir mais circulação de capitais e mercadorias) foi atropelada pela direita quase fascista do “fora, imigrantes”.

Sim, a “BREXIT” é uma vitória da direita extremada. E significa um solavanco sem precedentes na ordem política capitalista desde a Segunda Guerra. Mas o curioso é observar que parte da esquerda também apoiou a saída do Reino Unido da União Européia. E o fez por entender que a abertura de fronteiras e o enfraquecimento dos estados nacionais são uma plataforma que interessa sobretudo ao capital, mas não aos trabalhadores.

Ou seja: a “BREXIT” foi uma vitória da direita extremada. Mas significou o retorno de um velho tema que a esquerda (no mundo e também no Brasil) negligenciou nos últimos anos: a questão nacional.

Sim, é possível ser nacionalista de direita (valorizando o discurso xenófobo, preconceituoso, excludente). Mas é possível, também, ser nacionalista de esquerda, na medida em que nacionalismo possa significar o fortalecimento do estado nacional na luta contra o Imperialismo (essa palavrinha que parecia “fora de moda”) e os arranjos do capitalismo financeiro (a União Européia sob hegemonia germânica, claramente, é um desses arranjos, bem como a tentativa dos Estados Unidos de recolonizar a América Latina, ora em curso).

Notemos que no Brasil o projeto da direita extremada, que se reúne sob Temer, é nada menos do que liquidar a própria ideia de um estado nacional independente. O projeto é a submissão completa ao projeto capitalista comandado pelos Estados Unidos.

De certa forma, o renascimento do nacionalismo de direita na Europa (e no mundo) vai obrigar a esquerda a encarar esse dilema: vamos defender os estados nacionais como ferramenta de desenvolvimento e de garantia da democracia? Ou vamos nos concentrar nas batalhas transnacionais de combate à injustiça?

O importante pensador Slavok Zizek acaba de escrever sobre o tema. E ele acredita na segunda vertente: acha que não se pode combater o nacionalismo de direita com uma esquerda mais nacionalista – https://blogdaboitempo.com.br/2016/06/24/zizek-precisamos-entender-a-esquerda-que-apoiou-o-brexit/

Mas será que isso vale para nossa realidade? Brasileira e latino-americana?

Na Europa (e entre intelectuais brasileiros que transplantam para a América Latina temas europeus, sem levar em conta as condições locais), a tendência é geralmente olhar o nacionalismo como algo regressivo e conservador. Na Europa, historicamente, até, isso pode ser verdade – e por isso compreende-se a reflexão de Zizek…

Mas na América Latina ser de esquerda passa por defender um estado forte e democrático, capaz de capitanear o desenvolvimento (já que a “burguesia nacional”, no Brasil e em boa parte da América Latina, sonha mesmo é com um apartamento em Miami) e de reduzir as desigualdades.

A crise gerada pelo “BREXIT” pode ser uma chance para repensar essa questão. O nacionalismo está de volta. (Fonte: aqui).


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O REINO UNIDO DÁ UM SALTO NO ESCURO
O resultado do referendo britânico sobre a permanência (Brestay) ou saída (Brexit) do Reino Unido da União Europeia provocou choque no mundo com a vitória da campanha pela saída, que amealhou 52% dos votos (17,4 milhões contra 16,1 milhões). 
Entre as vítimas iniciais do Brexit estão a libra esterlina, derrubada a seu valor mais baixo desde 1986, e o primeiro-ministro David Cameron, que anunciou sua renúncia após seis anos no poder. 
A jogada não parecia tão arriscada em janeiro de 2013, quando Cameron, para contentar os eurocéticos no próprio partido, prometeu conquistar melhores condições para o país na organização e submeter a permanência a consulta até o fim de 2017, caso fosse reeleito em maio de 2015.
Cameron superestimara, porém, sua influência. Para Angela Merkel e a maioria dos líderes europeus, rever o Tratado de Lisboa estava fora de cogitação, ainda mais neste período conturbado. As votações e referendos necessários para alterá-lo teriam resultados imprevisíveis e desencadeariam crises políticas capazes de pôr a pique todo o projeto europeu.
A União Europeia podia ceder apenas medidas possíveis dentro das estruturas atuais. Mesmo para isso foi preciso pressionar a França, avessa a privilégios para Londres, e os países da Europa Oriental, contrários a restrições a imigração e remessas de seus cidadãos em território britânico.
Em fevereiro, Cameron voltou de Bruxelas com ganhos modestos, cuja aprovação depende em boa parte do Europarlamento. Mesmo assim, marcou o plebiscito para 23 de junho, por receio de a deterioração da situação da Grécia ou dos refugiados piorar o quadro.
Ganhou força a campanha pela Brexit, apoiada por partidos nacionalistas e xenófobos como o UKIP de Nigel Farage e Neil Hamilton, por conservadores como o ex-prefeito de Londres Boris Johnson e o ministro da Justiça Michael Gove e por correntes da esquerda radical, inclusive o Partido Comunista, o SWP (trotskista) e organizações operárias indianas e bengalis. 

(Para continuar a leitura do texto de Antonio Luiz M. C. Costa, clique AQUI).

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