sábado, 18 de junho de 2016

UM POUCO DE HISTÓRIA: AUSTERIDADE E NAZISMO


A austeridade abriu caminho para o nazismo

Por André Araújo

Há na História personagens cruciais pelos efeitos que causaram em grandes acontecimentos mas que, tragados por protagonismos de maior envergadura, desaparecem nos desvãos dos registros históricos a ponto de quase ninguém mais lembrar deles.
Uma dessa figuras inspiradoras de grandes desastres e quase esquecido, porque eventos muito maiores engoliram sua biografia, foi o Chanceler da Alemanha entre 29 de março de 1930 e 30 de maio de 1932, Heinrich Bruning, nascido em 1885 e morto em 1970. Bruning era um acadêmico, cientista político e economista que dirigiu a República de Weimar durante o período agudo da crise de 1929, que ele se encarregou de aprofundar com um receituário muito parecido com o que a dupla Meirelles-Goldfajn propõe para o Brasil recessivo de hoje. Bruning era um fanático da austeridade, que praticava até na vida pessoal, frugal e avesso ao luxo. Sua formação de economista foi na London School of Economics, de merecida fama como das melhores escolas de economia do mundo.
Bruning tinha como Ministro das Finanças Paul Moldenhauer, professor de economia da Universidade de Colônia e também partidário da austeridade na recessão. Tanto Bruning como Moldenhauer não viam ou não conheciam outra receita e não tinham nenhuma fórmula para enfrentar um desemprego que em 1932 estava em 40%. Tampouco a situação internacional ajudava, o mundo inteiro estava em crise econômica.
Com a Depressão aumentando, esse Governo de muita cautela e nenhum arrojo passa a ser criticado e depois odiado pelos trabalhadores e pela classe média,  com o que abre caminho para mais adesões ao Partido Nazista, que propunha acabar com o desemprego.  Os nazistas tinham um trunfo, um dos maiores cérebros econômicos do Século XX, Hjalmar Schacht, de formação em filosofia pela Universidade de Kiel, com a marca do grande economista, o arrojo, a inovação e a criatividade. Foi Schacht quem acabou com a hiperinflação de 1923 com um plano do qual o Plano Real é a cópia exata, inclusive com a moeda de transição, a URV. Um dos cérebros do Plano Real, o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, teve como tese de pós graduação nos EUA exatamente o Plano Schacht de 1923.
Hitler assume o poder em  janeiro de 1933 e, em três anos, acaba com a Depressão e com o desemprego através de encomendas pelo Estado nas compras para o rearmamento, o que movimenta rapidamente a economia.
Onde os economistas clássicos Bruning e Moldenhauer não viam saída a não ser mais austeridade, Schacht criou os mecanismos para que o Estado alemão se autofinanciasse com uma espécie de bônus rotativo, os "Mefo bonds", e um mecanismo de importação, os chamados "marcos de compensação", moeda gráfica de troca da qual o Brasil foi o maior cliente entre 1934 e 1939, suprindo a Alemanha de café, cacau, algodão, sisal,  em troca de máquinas, canhões, navios, locomotivas, guindastes, trilhos.
A diferença entre um Bruning e um Schacht era a inventividade e a capacidade de criação de modelos e ideias para resolver problemas, com grande noção de timing, algo que economistas convencionais não têm, porque trabalham só com cartilhas antigas sem nenhuma criatividade perante novas circunstâncias.
Bruning fugiu da Alemanha em 1934, porque desconfiou que iria ser preso por Hitler; foi para os EUA, onde se tornou professor da Universidade de Harvard, morreu nos EUA na sua casa de Vermont, com 85 anos.
A saga de Bruning traz algumas lições, a primeira das quais é que se um governo não tira um País da recessão ou depressão com medidas rápidas, a crise social decorrente do desespero fará a sua parte na busca de um salvador, infelizmente no caso da Alemanha de 1933 esse salvador foi Hitler. (Fonte: aqui).

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Por essas plagas, Bolsonaros não faltam...

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