"'Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes'.
Se Einstein não estiver errado, assim como a Operação Mãos Limpas levou Berlusconi ao poder na Itália, a Operação Lava-Jato deve ter levado irremediavelmente Michel Temer ao poder no Brasil.
Em torno de ambos, formou-se um pacto de poder corrupto, fruto da destruição da crença do povo na classe política. Essa descrença é o ópio dos dois povos niilistas: “porca vita, porca miseria, governo ladro”.
Onde estão os indignados? Onde estavam na Itália de Berlusconi?
Quando todos os políticos são iguais, quando se acredita que não há opções, que todos são igualmente corruptos, instala-se a canalhocracia.
Os verdadeiros canalhas tomam o poder em um tipo de aristocracia despudorada. Por justiça, são os melhores entre os iguais.
Não é esse o pacto que está aos poucos se formando no entorno de Temer. Os poderosos podem se queixar de alguma das medidas anunciadas por Temer? A confiança não começa a voltar?
“Presidente Michel Temer, desejo-lhe sucesso porque o seu sucesso será também o sucesso do Brasil. A legitimidade virá de seu trabalho, presidente, e da aprovação e reconhecimento que os brasileiros venham a lhe dar. Força, vá em frente. Seja o presidente de todos nós.
Como faço sempre comigo, peço a Deus que ilumine o seu caminho e o daqueles que estão com você. E que um novo Brasil, melhor, esteja surgindo para todos os brasileiros” – extrato da carta de Abilio Diniz a Michel Temer na Folha de 17 de maio de 2016.
“Bunga-bunga” para todos os que são da turma. Nunca fomos tão felizes.
Já não se começa a falar que é necessário dar um fim a Lava-Jato antes que ela finde o Brasil?
Já não começam a se enxergar os abusos da Lava-Jato, assim como, hoje, é consenso enxergá-los na Mani Pulite? A escandalização midiática em ambas as operações, não por acaso, mãe e filha, foi fartamente utilizada como poder intimidatório, até onde interessava.
Então, a mesma mídia que é a real fonte de poder da Lava-Jato passa a blindar Temer. De onde o Ministério Público irá retirar o poder para levar adiante as investigações sobre corrupção?
O Procurador Geral da República já não recebeu o recado sobre a fragilidade de sua posição?
Não há quem não se pergunte como foi possível um Berlusconi em uma Itália com toda a sua tradição cultural e política. Basta ver como está sendo possível um Temer no Brasil.
E Berlusconi pontificou na Itália por uma década. Ingênuo esperar algo diferente no Brasil, afiança Einstein.
Pessoalmente, semelhanças e diferenças não lhes faltam, por certo.
Um, um ator histriônico, o outro, de uma sobriedade encenada, mas ambos cultuadores da própria imagem. Não deixam de resvalar de algum modo no ridículo, até nas relações com mulheres que poderiam ser-lhes netas. Aqui guardadas e resguardadas todas as diferenças entre uma esposa e várias “namoradas”.
A fortuna de um só se compara à do outro nas águas turvas de onde ambas emergiram.
A traição como forma de ascender ao poder, em ambos. Que o digam Dilma Rousseff e Romano Prodi.
Óbvio está que Berlusconi era o poder e Temer é preposto de um poder análogo ao de Berlusconi.
Mas ambos representam o poder corrupto surgido da destruição da crença da população na sua capacidade de representar-se politicamente. A corrupção surgida do combate à corrupção, e tolerada em um pacto para benefício dos que possuem o poder real e não democrático.
Ambos, uma tragicomédia para seus países.
PS: as pizzarias de Curitiba estão faturando alto. Conforme o cronograma, os fornos voltaram, inclusive, a queimar lenha barata. Pelo menos, pelo cheiro que, das vizinhanças, chega até a Oficina de Concertos Gerais e Poesia."
(De Sérgio Saraiva, cineasta, post intitulado "Temer, il piccolo Berlusconi brasiliano", publicado no Jornal GGN - aqui.
Dois comentários, entre os muitos suscitados pelo texto:
De "A garota do Adeus": 'Bela pena, Cronista! Preciso, oportuno e escrito sem eufemismos. Dilma não podia ficar porque não compactuava e não voltará porque não se dobra. A ver como sairemos dessa. Se é que...
Excelente post.'
De Pedro Mundim: 'Temer não é Berlusconi. Berlusconi chegou ao poder com amplo apoio popular, pois ele era um populista nato e não havia muita concorrência naquele momento. Mas Temer nunca teve carisma, e sempre foi ruim de voto. Não sei o que virá depois dele, mas Temer será sempre um interino.'
O comentário de Pedro Mundim mereceu a seguinte observação do autor do post: 'La piccola differenza: Um é um populista, campeão de votos, o outro, um político de província. Um entra pela porta da frente dos palácios, precedido de fanfarras, o outro à sorrelfas, pela porta lateral. Mas na história de ambos, a traição como forma de ascender ao poder. Que o digam Dilma Rousseff e Romano Prodi.
Um compra senadores para chegar aonde deseja, o outro, a seu modo, também. Um foi condenado por isso, o outro não. Pelo menos, ainda não.'
Sem dúvida, excelente post).
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