terça-feira, 21 de junho de 2016

O REINO UNIDO FORA (OU NÃO) DA UNIÃO EUROPEIA


O impacto da Brexit sobre a economia global

Do Jornal GGN

A instabilidade vista nos mercados financeiros antes do referendo do Reino Unido em 23 de junho sobre a possibilidade de seguir na União Europeia mostra que o resultado vai afetar as condições econômicas e políticas no mundo de forma mais expressiva do que a participação de 2,4% no PIB (Produto Interno Bruto) global poderia sugerir. A afirmação é de Anatole Kaletsky, economista-chefe e co-presidente do GaveKal Dragonomics, em artigo publicado no site Project Syndicate.
Um dos pontos para tal prognóstico parte do fato de que o referendo integra uma espécie de fenômeno global, em que revoltas populistas contra partidos políticos estabelecidos, partindo especialmente dos eleitores mais velhos, mais pobres ou menos instruídos “irritados o suficiente para derrubar as instituições existentes, desafiam o ‘estabelecimento’ político e econômico”.  O articulista explica que, na verdade, “o perfil demográfico dos potenciais eleitores favoráveis à Brexit assemelha-se ao dos defensores de Donald Trump nos Estados Unidos e dos adeptos da Frente Nacional na França”.
Pesquisas de opinião mostram que os eleitores britânicos favoráveis à saída da UE, por uma larga margem (65% a 35%), se não concluíram o ensino médio, tem mais de 60 anos ou ocupam posições inferiores (“D” ou “E”) nas empresas. Em contrapartida, aqueles que votam pela manutenção (por margem de 60% a 40% e mais) possuem formação universitária, eleitores com menos de 40 anos ou são aqueles de classes profissionais “A” ou “B”.
Na Grã-Bretanha, Estados Unidos e Alemanha, as rebeliões populistas não são apenas alimentadas por queixas semelhantes e sentimentos nacionalistas, mas também estão ocorrendo em condições econômicas semelhantes. “Todos os três países voltaram a mais ou menos o pleno emprego, com taxas de desemprego de cerca de 5%, mas muitos dos empregos criados pagam salários baixos, e os imigrantes recentemente substituíram os banqueiros como bodes expiatórios para todos os males sociais”.
Segundo Kaletsky, o ataque frontal contra as elites políticas tem sido muito bem-sucedido na Grã-Bretanha, a se considerar pelas recentes sondagens Brexit. Segundo o articulista, “só depois que os votos são contados saberemos se as opiniões  expressas aos pesquisadores previram o comportamento da votação em si”.
Esta é a segunda razão pela qual o resultado do Brexit ecoará em todo o mundo. Segundo o articulista, o referendo “será o primeiro grande teste para saber se são os especialistas e mercados, ou as pesquisas de opinião, que  foram mais perto da verdade sobre a força do aumento populista”. Por enquanto, os analistas políticos e mercados assumem, de forma talvez complacente, que a irritação dos eleitores não reflete a forma como eles vão votar de fato.
Contudo, caso o Brexit vença o referendo no próximo dia 23, as baixas probabilidades atribuídas serão “imediatamente” consideradas suspeitas, enquanto as maiores probabilidades sinalizadas pelas pesquisas de opinião vão ganhar mais credibilidade. Segundo o articulista, isso não ocorre porque os eleitores norte-americanos serão influenciados pelos britânicos mas, para além de todas as semelhanças em termos sociais, “as sondagens de opinião nos EUA e na Grã-Bretanha enfrentam desafios e incertezas semelhantes, devido à quebra de lealdades políticas tradicionais e os sistemas dominados por dois partidos”.
Contudo, o economista diz que a “terceira e mais preocupante questão” é a implicação da votação britânica. “Se o Brexit ganha em um país tão estável e politicamente fleumático como a Grã-Bretanha, os mercados financeiros e empresas em todo o mundo serão abalados fora de sua complacência sobre insurgências populistas no resto da Europa e os Estados Unidos. Por sua vez, tais situações podem aumentar a preocupação quanto à mudança da realidade econômica. Assim como ocorreu em 2008, os mercados econômicos terão sua ansiedade econômica amplificada, gerando mais raiva anti-establishment e alimentando expectativas ainda mais altas de revolta política”.
Para Kaletsky, a ameaça desse contágio poderia catalisar uma nova crise global – mas, desta vez, “os trabalhadores que perdem seus empregos, os pensionistas que perderem as suas poupanças, e os proprietários de casas que estão presos em patrimônio líquido negativo não serão capazes de culpar 'os banqueiros'”. (Aqui).

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O artigo acima foi escrito antes do assassinato da deputada britânica Jo Cox, do Partido Trabalhista, por um extremista de direita. A parlamentar, defensora/militante dos direitos humanos - incluindo o acolhimento a refugiados - estava engajada na luta pela permanência do Reino Unido na União Europeia. Sua morte causa forte comoção e certamente influenciará os rumos da consulta popular do dia 23.  

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