quinta-feira, 10 de setembro de 2015

IMPRESSÕES SOBRE A CONJUNTURA

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Uma das chamadas agências de risco acaba de retirar do Brasil o grau de investimento. Isso significa que o país passa a não ser adequado para o direcionamento de investimentos, em face da incerteza quanto a vir a honrar os compromissos junto a seus credores. Assim, um fundo de pensão norte-americano, por exemplo, pode sustar seus investimentos (quase sempre especulativos, frise-se) no Brasil, ou até retirar os já aplicados, visto que seus dirigentes serão responsabilizados por quaisquer prejuízos futuros.

Analistas 'de mercado' dizem que a previsão de déficit no orçamento 2016 do Brasil motivou a perda do grau de investimento, mas as causas efetivas podem ser bem mais complexas... 

O cenário é o seguinte: taxa de sacrifício, nem pensar: muitos 'governistas de coalizão', tão solícitos nos tempos de vacas gordas, tratam de tirar o corpo fora; altos servidores públicos se mantêm indiferentes, com seus salários rombudos, lotados de penduricalhos os mais diversos, isentos de IR, desrespeitando a essência do artigo da Constituição Federal que estabelece o teto salarial, e uma mídia que se empenha em ignorar a isenção (a exemplo da abordagem sobre imposto de renda feita pela Globo no JN, quando 'passou' para os espectadores menos informados a ideia de que outros impostos, como o ICMS, só são cobrados no Brasil, ficando a carga tributária de Chile, Argentina e EUA limitada ao imposto de renda. Nenhuma palavra sobre imposto sobre grandes fortunas, e mais: o impostômetro foi exibido, mas nenhuma palavra foi dita quanto a sonegação fiscal). No fim das contas, quem está a correr riscos, mesmo, são os programas sociais, execrados a perder de vista pelas elites tupiniquins.

A seguir, uma interessante abordagem sobre o (Brasil no) cenário global:


É a geopolítica, estúpido!

Do Página 12 (Argentina) - Em Carta Maior

“Querem atingir os BRICS, isso não é uma questão de economia, é a geopolítica, estúpido”, disse ontem a presidenta Cristina Fernández de Kirchner, em uma mensagem publicada através das redes sociais. “Lembra quando eu disse, na Bolsa de Comércio, que a luta geopolítica e a crise estava sendo trasladada aos BRICS? Lembra quando eu disse que é importante conhecer o mundo, mas que é muito melhor entendê-lo, para que ninguém possa nos enganar nem vender espelhos?”, perguntou Cristina, ao comentar um artigo do diário inglês Financial Times, que ela criticou e usou como exemplo para fundamentar seu pensamento. “Nossa visão não é caprichosa, é que nós percebemos que a crise se traslada com violência em direção aos BRICS”, disse ela em alusão ao grupo de países emergentes, integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

O artigo citado por pela presidente da Argentina, publicado esta semana, se intitula “Emergentes: hora de consertar um modelo quebrado”. Nele, se defende a ideia de que “o Brasil se apoiou fortemente no consumo interno e agora não pode sustentar sua aposta (…) a Rússia necessita do petróleo, cujo preço se derruba (…) a Índia não é capaz de superar sua burocracia (…) a China se tornou dependente dos investimentos e as exportações foram ficando escassas”. A nota afirma também que “os modelos econômicos dinâmicos que permitiram aos países em desenvolvimento levar o mundo de volta ao crescimento depois da crise financeira de 2008-2009 estão colapsando, e ameaçam arrastrar o mundo a uma nova recessão”. A presidenta discutiu com esse artigo: “É inacreditável”, comentou a mandatária, e se perguntou “onde aconteceu a quebra do Lehman Brothers, em 2008? Onde se deu a crise das hipotecas? A queda do banco Bears?”. E afirmou: “Dizer que os emergentes 'ameaçam arrastrar o mundo a uma nova recessão', é simplesmente falso”. “O mundo foi arrastrado à crise de 2008 pela especulação financeira, e nunca se recuperou. O que os BRICS tem a ver com isso? Somente o rol de vítimas, nenhum outro”.

“E mais adiante – continuou a presidente, em sua crítica – temos quatro parágrafos que merecem o Guinness, pela falta de vergonha: ‘Os modelos de crescimento são questionados em geral, e em alguns países já estão esgotados’, e quem afirma isso? Mohamed El-Erian, principal assessor econômico do banco Allianz e presidente do Conselho de Desenvolvimento Global de Barack Obama”, comentou Cristina Kirchner.

A Presidenta explicou que a nota assegura que “não se trata apenas da desaceleração do crescimento dos mercados emergentes, a debilidade desses mercados também altera as economias do ocidente e faz com que os seus desafios se tornem mais difíceis de enfrentar”. E questionou: “a crise foi criada por eles, em 2008, com a bolha financeira, e agora, os mercados emergentes, que sofreram as consequências naquela época, são os culpados por alterar as economias deles, os países do ocidente – e por 'ocidente' eles querem dizer somente os grandes países desenvolvidos, porque a Grécia também faz parte do ocidente”.

Ao citar outro parágrafo do artigo, CFK destacou que: “esta boa ficção está dizendo que não haverá investimentos produtivos em dólares para os países emergentes. Aqui se pode entender por que nós lutamos tanto para diminuir o endividamento, para fomentar a reindustrialização, apostamos no mercado interno, no investimento em investigação e desenvolvimento, etc? Entende por que insistimos tanto com o que acontece no mundo, e aqui os meios hegemônicos e seus porta-vozes econômicos ocultam prolixamente e deliberadamente, todos os dias, de cada semana, de cada mês, de todos os anos?”.

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