quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
DOAÇÕES E AÇÃO PENAL 470
Gilmar Mendes e a tagarelice
Por Kiko Nogueira
Houve um tempo, e não faz tanto tempo assim, em que ninguém sabia quem eram os ministros do Supremo Tribunal Federal. Talvez o STF fosse a mesma coisa, essencialmente. Mas havia uma certa aura de algo inatingível e de credibilidade.
Os juízes viraram estrelas, são reconhecidos nas ruas e falam o que querem, eventualmente fazendo acusações sem ter conhecimento do assunto, como qualquer mané.
Gilmar Mendes disse que o Ministério Público precisa investigar as doações aos condenados do mensalão. Que se investigue, sem dúvida. Mas ele foi além, sugerindo crime. “Essa dinheirama, será que esse dinheiro que está voltando é de fato de militantes? Ou estão distribuindo dinheiro para fazer esse tipo de doação? Será que não há um processo de lavagem de dinheiro aqui? São coisas que nós precisamos examinar”, afirmou.
“Há algo muito estranho. Há algo de grave nisso. E precisa ser investigado. E essa gente, eles não são criminosos políticos, não é gente que lutava por um ideal e está sendo condenado por isso. São políticos presos por corrupção, são coisas que precisam ser refletidas. A sociedade precisa discutir isso”.
Mas discutir é uma coisa e condenar por antecipação é outra. Gilmar não deveria, em nome da democracia e do bom senso, aguardar um parecer antes de levantar uma suspeita dessa gravidade? Não deve ser tão difícil rastrear as doações - se houver razões concretas para tanto, e não apenas encenação. Que tal o silêncio que o cargo deveria impor enquanto não há fatos concretos? Que tal, se lhe for perguntado, ele disser a verdade: “Não sei. Vamos apurar”
Num momento em que os ânimos estão absolutamente exaltados, ele não deveria servir como uma voz sensata e… justa? Gilmar Mendes julga sem conhecimento, na presunção da culpa? É mais um símbolo de uma instituição precipitada e encrenqueira.
É símbolo também da tagarelice generalizada. Do opinionismo. Da mania de acusar sem elementos suficientes. Dos justiceiros da fofoca.
A quantidade de irresponsáveis falando o que querem, ameaçando, mentindo, julgando, condenando e executando sem provas - em nome de “causas nobres” - é uma enormidade. Ninguém responde por nada. Basta apontar o dedo. A impunidade grassa. A quem apelar?
Os ministros do Supremo deveriam, em tese, ser o oposto dessa histeria. Mas é sempre bom lembrar que o Brasil é o país dos Batmans do Leblon. (Fonte: aqui).
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Ao que parece, esperava-se que os petistas condenados não recolhessem as respectivas multas, dados os montantes estipulados. A partir daí, quem sabe, o alarde geral seria o de que os petistas afrontavam a Justiça. Ocorre que o partido político em causa conta com cerca de 1,7 milhão de filiados, que, chamados a contribuir, responderam (quantos, não se sabe, até o momento) solidariamente, e para tanto cada um teve de formalizar a doação preenchendo formulário em que constam RG e CPF (para prestação de contas ao imposto de renda).
Poderia vir dessa realidade (a quitação das multas) a, digamos, perplexidade, ou um certo mal estar...
Em tempo: foram 1.668 os doadores de um dos réus, Delúbio Soares, conforme se pode ver aqui.
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