terça-feira, 11 de outubro de 2011

BRAÇOS ABERTOS SOBRE A GUANABARA


O Cristo Redentor está completando 80 anos. Referência na paisagem carioca e um dos pontos turísticos mais visitados do Rio de Janeiro (oito mil pessoas a cada dia), terá seu aniversário marcado por shows, exposições e cerimônias religiosas.

Nova York, Buenos Aires e Jerusalém receberam réplicas da imagem, e comemorações acontecerão por lá também.

Ruy Castro publicou há poucos dias a crônica abaixo, e é com ela que, lembrando canções de Tom Jobim e João Donato, rendemos homenagem a essa Maravilha do Mundo:

CONVERSÕES DE PEDRA

Na noite de 12 de outubro de 1931, um marinheiro irlandês, já para lá de zuzu, desembarcou de um navio recém-aportado no Rio. Ao pisar a praça Mauá, olhou para o céu escuro e, súbito, um Cristo fosforescente surgiu aos seus olhos. "Milagre!", exclamou o marinheiro, a quem uma remota fé católica e as pregações do capelão não impediam que ele emborcasse tudo que houvesse de líquido a bordo e, às vezes, visse coisas.

Mas aquele era um sinal. O homem de braços abertos surgira do nada, aceso, paternal, como que chamando de volta o cordeiro que se desgarrara. O marujo voltou correndo para o navio e se entregou ao capelão. O qual, se sabia que o Cristo era uma estátua da altura de um edifício de dez andares que se inaugurava naquele dia, no alto de uma montanha, fez-se de bobo. Afinal, ganhara de graça uma alma que já dera como perdida para as biroscas do cais.

O tal marinheiro não foi a única conversão operada pelo Cristo Redentor. Nem a primeira. Antes mesmo de sua inauguração naquele dia, há quase 80 anos - antes até de ficar pronto -, a imagem do Cristo já consolidara a fé do homem que o estava construindo no topo do Corcovado: o engenheiro-arquiteto carioca Heitor da Silva Costa.

Matemático e geômetra rigoroso, nascido e formado no século 19, Heitor era indiferente às coisas místicas, quase um agnóstico. Seu interesse inicial pelo monumento pode ter sido o desafio puramente técnico. Mas o Cristo avassalador que nascia de seu gênio e concepção alterou sua visão do mundo. Dali Heitor construiria outros monumentos religiosos, em São João del-Rei, Petrópolis e no próprio Rio.

E quem, muito depois, em visita ao Rio, disse que aquele Cristo entre as nuvens balançara seu ateísmo foi a escritora americana Anne Rice. E os vampiros ficaram tiriricas.

2 comentários:

João de Deus Netto disse...

O alicerce daquela estátua é mais sólido do que as bilhares de historietas que servem de estrutura ao Vaticano.
Cabra descer, mesmo sóbrio, na praça Mauá, e conseguir enxergar a estátua do Cristo, mesmo nos anos 30? Digo, da distância que separa o cais do porto ao Corcovado! Pelas fotos, na época já existiam muitos edifícios nas imediações da Av. Rio Branco, que foi o propósito da derrubada geral promovida pelo prefeito Pereira Passos que usou o argumento de desratizar, desinfectar e, também, acabar com a feiúra da cidade, justamente na "sala de visitas" da capital brasileira.
Morei e conheço alguma coisa da cidade que continua maravilhosa. A realidade da violência deixou de ser privilégio dos cariocas depois que a casa da politicagem do Brasil foi desbaratada pela internet.

Dodó Macedo disse...

Com que, então, não daria pro bebum de pedra enxergar o Cristo Redentor? Será que o Ruy Castro andou ouvindo coisas? Ao ler a crônica, achei interessantes as histórias, mas não me ocorreu checar a sua pertinência.
Agora, independentemente de sermos crentes ou agnósticos, que a estátua é uma baita maravilha, é, né não?
Agora vou ver teu blog no Portal Luis Nassif. Bom pra caramba.
Abração.