segunda-feira, 10 de outubro de 2011
INDIGNADOS CANSADOS
INDIGNADOS E DESACREDITADOS
Por José Roberto de Toledo
Por que o movimento dos "indignados", que ganhou notoriedade na Espanha, se espalhou para o Chile e agora ocupa Wall Street (EUA), não comoveu multidões no Brasil? Desde julho, quando o jornal espanhol El País fez essa pergunta, parece haver mais indignação com a falta de resposta do que, propriamente, com a corrupção da política nacional.
Tentativas de mobilização das massas não foram muito além de um trending topic ou outro nas redes sociais. Quando chegaram às ruas, não saíram dos bairros mais afluentes, tampouco tiveram sustentação ao longo do tempo. Nos termos de seus idealizadores, cansaram logo.
As explicações aventadas variam da mitológica cordialidade nacional ao efeito lavador de cérebros da propaganda governamental. A despeito de exemplos como os dos "caras-pintadas" e das "diretas já", os argumentos rapidamente se voltam contra o objeto da mobilização: o brasileiro - que seria, antes de tudo, um apático. Vale a pena, então, comparar o que ele pensa com o que pensam outros povos mais indignados.
A começar pelas semelhanças e diferenças na opinião pública de Brasil e Chile, onde o Ibope fez pesquisas com metodologias idênticas. O Índice de Confiança nas Instituições varia de 0 a 100. Quanto maior, mais confiante a população naquela instituição. Na média, o índice chileno pende bem mais para o lado da desconfiança do que o brasileiro: 46 a 55.
Semelhanças positivas - bombeiros: (Chile) 92 a 86 (Brasil); polícia: (Chile) 60 a 55 (Brasil); Forças Armadas: (Chile) 56 a 72 (Brasil); organizações da sociedade civil: (Chile) 60 a 59 (Brasil).
Semelhanças negativas - partidos políticos: (Chile) 17 a 28 (Brasil); Congresso Nacional: (Chile) 23 a 35 (Brasil); sistema público de saúde: (Chile) 40 a 41 (Brasil); sindicatos: (Chile) 47 a 44 (Brasil).
Semelhanças neutras - governo municipal: (Chile) 50 a 47 (Brasil); eleições: (Chile) 49 a 52 (Brasil).
Diferenças: presidente da República: (Chile) 27 a 60 (Brasil); Governo federal: (Chile) 36 a 52 (Brasil); Justiça: (Chile) 30 a 49 (Brasil); igrejas: (Chile) 44 a 72 (Brasil); meios de comunicação: (Chile) 51 a 65 (Brasil); empresas: (Chile) 49 a 59 (Brasil).
Nos EUA, o Instituto Gallup com metodologia diferente chegou a conclusões semelhantes. Como no Chile e no Brasil, nenhuma instituição é mais desacreditada entre os norte-americanos do que o Congresso. E apenas como no Chile, a Presidência da República está em processo de descrédito - desde a posse de George W. Bush, com leve, mas fugaz recuperação da confiança no começo do governo de Barack Obama.
Uma hipótese surge das pesquisas: quando a população se desencanta com seu governante e não enxerga representatividade no Congresso nem nos partidos nem nos sindicatos nem na mídia para expressar sua indignação, deságua sua insatisfação em protestos de rua. Não por coincidência, o chileno Sebastián Piñera é o governante mais mal avaliado das Américas, e o espanhol José Luis Zapatero está na lanterna na Europa.
E o que Obama, Piñera e Zapatero têm em comum, que presidentes com melhores índices de avaliação, como Dilma Rousseff (Brasil), Dmitry Medvedev (Rússia) e Cristina Kirchner (Argentina), não têm? Sérios problemas na economia de seus países. (Fonte: jornal O Estado de São Paulo).
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Já abordei o assunto aqui no blog: o povão brasileiro não vive no melhor dos mundos, mas percebe os avanços verificados. O poder de compra do salário não é de causar sensação, mas o desemprego é um dos menores da história. A ascensão social é notória. O Brasil ainda paga juros escorchantes por conta da dívida pública (de cerca de 1,7 trilhão de reais, 39% do PIB), pagamento que este ano girará em torno de 200 bilhões de reais, e isto é vergonhoso, porém o perfil da dívida está mudando, para melhor (ou menos mal). Os bancos estatais, greves à parte, ampliam sua participação na concessão de crédito no País; o sistema bancário é sólido em função da adoção de cautelas ainda mais rigorosas do que as traçadas pelos Acordos da Basileia I e II.
Se o Brasil não tivesse feito convenientemente o dever de casa (a exemplo das medidas adotadas em face da crise mundial de 2008/9), o caos econômico teria batido à porta, e caos econômico é o 'lança-chamas' de indignação nas ruas. (O caso do Chile tem particularidades especiais: os jovens estão nas ruas para contestar a herança deixada pelos Chicago Boys de Pinochet: sucateamento do ensino público, mercantilização do ensino universitário e atos assemelhados, situação que até se agravou após a ditadura).
Quanto aos EUA, a contida (no caso) mídia tupiniquim evita reportar-se especificamente ao Ocupe, preferindo fazer 'abordagem contextualizada' e/ou en passant, como na matéria do Estadão, acima. Compreensível.
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