"O Brasil está imerso numa catástrofe humanitária. O país, que há pouco mais de cinco anos era uma exemplo de combate à pobreza, de luta contra as desigualdades, de democracia distributiva de renda, em pouco tempo se tornou um inferno, para os brasileiros e para o mundo.
Morrem mais de 3 mil pessoas por dia da pandemia, morrem outros tantos, anonimamente, de fome, outros tantos pela violência das milícias e do narcotráfico. Se morre mais do que se nasce no Brasil.
De ter um presidente exemplo para o mundo, o Brasil passou a ter um presidente genocida. De ter um presidente que orgulhava o Brasil no mundo, se passou a ter um presidente que dá vergonha aos brasileiros no mundo.
Todos se perguntam como foi possível isso? Muitos pedem desculpas por ter possibilitado essa catástrofe, por ação ou por inação. O Judiciário reconhece que Lula sempre teve razão em rejeitar as acusações, em se apresentar para ser preso injustamente. A dignidade do Lula para enfrentar tudo isso é reconhecida por cada vez mais gente, que se representa nele, no seu drama, na sua resistência e na sua vitória. Muita gente pede desculpas ao Lula por ter sido verdugo contra ele, por ter sido agente do antipetismo – o ódio ao partido que mais fez pelo Brasil.
Lula tem o direito de exigir que lhe peçam desculpas os que o ofenderam, os que ofenderam à sua família, os que denegriram a sua imagem, os que não acreditaram que ele era absolutamente inocente. Muitos deles mudaram de campo, tiveram a honestidade de reconhecer que tinham se equivocado redondamente – o reconhecimento do Felipe Neto é um deles.
Mas, além disso tudo, há um país, há um povo, que foi jogado na miséria e no abandono. A quem é negado o pão e a vacina. Há um Brasil maltratado, que se tornou pária no mundo, que é visto como o pior dos mundos.
Quem foi responsável por tudo isso? Quem permitiu, por ação ou por inação, que a democracia fosse destroçada com o golpe contra a Dilma? Quem reconhece que se equivocou de lado, tem que começar por reconhecer que errou, antes de tudo, naquele momento, que não soube defender a democracia, o mandato de uma presidenta reeleita pelo voto popular. Quem se enganou ou se deixou levar pela má fé de julgar que um governo com o qual não concordavam deveria ser deposto por um impeachment sem nenhuma fundamento. constitucional.
Quem aceitou que o Lula fosse preso, processado, impedido de ganhar as eleições de 2018, sem provas, apenas por convicções de um juiz que hoje é quem tem a maior rejeição no Brasil porque foi desmascarado. Quem achou que o Brasil poderia seguir em frente sem o Lula, como se pudéssemos deixar de lado o que temos de melhor.
O Brasil merece desculpas por todos os que contribuíram para esta catástrofe humanitária que vivemos. Antes de tudo, pela mídia, que foi o agente público do antipetismo, das acusações contra a Dilma e o Lula, sem prova alguma. A mídia que promoveu a imagem da Lava Jato como a redentora da política brasileira e a corrupção do PT como o mote que levaria à morte da esquerda. Que promoveu o antipetismo como o símbolo do mal, escondendo que o PT fez os melhores governos para o Brasil. Essa mídia deve desculpas ao Brasil pelo papel deletério que teve, porque foi agente da monstruosa operação que levou o Brasil a ficar nas mãos de um genocida.
O Judiciário deve desculpas ao Brasil por ter promovido a maior farsa judiciária da nossa história, através da Lava Jato, que violou todas as normas do Estado de direito, sob o seu beneplácito. O Judiciário, que não cumpriu seu papel de impedir o impeachment da Dilma, perpetrado sem nenhum fundamento jurídico. Que permitiu a prisão do Lula, sua condenação e o impedimento para que tivesse sido eleito presidente do Brasil em 2018. Que permitiu a vitória do genocida através de uma farsa, que violou todas as normas do processo eleitoral.
Os grandes empresários, que só pensam no seu lucro fácil, pela especulação financeira, sem crescimento econômico, nem distribuição de renda e geração de empregos. Que preferem qualquer um, mesmo o genocida, contanto que o PT não volte a governar para todos os brasileiros, especialmente os mais necessitados. Que financiam as piores campanhas, os piores candidatos, contanto que privatizem empresas, que não limitem o poder econômico dos bancos privados e sigam aumentando as desigualdades no Brasil.
Enfim, seria longo demais alinhar todos os que, pela ação ou pela inação, permitiram que o Brasil chegasse à catástrofe humanitária que vivemos. O Brasil nunca foi um paraíso, mas chegou a ser o melhor dos purgatórios possíveis e agora está transformado num inferno.
Vocês vão pedir desculpas ao Brasil e, para demonstrar que realmente se arrependeram de levar o país a este desastre humanitário, se empenhar com todas as forças para que, juntos, tiremos o Brasil do atoleiro em que se encontra?
Ou vão continuar lamentando que o país esteja entregue nas mãos de um genocida e suas milícias, como se não fossem responsáveis por isso?
Quem vai pedir desculpas ao Brasil?"
(De Emir Sader, cientista político e sociólogo, colunista do 247, texto sob o título "Quem pedirá desculpas ao Brasil?" - Aqui.
Muitos certamente não pedirão, a exemplo da emissora maior - para quem, p. ex., o fato de alguém "ser denunciado" pelos procuradores da Lava Jato já era 'vendido' ao público como "ser condenado inapelavelmente", e que presentemente vem evitando dizer com todas as letras que Moro foi tachado de SUSPEITO pelo Supremo. Simples assim: as palavras "suspeito" e "suspeição" foram banidas do celebrado código de ética jornalística - valendo ressalvar a postura da jornalista Miriam Leitão, que, ao contrário da grande emissora, as utilizou em seu mais recente pronunciamento.
Mas, corrigimo-nos: pode ser que a emissora maior peça desculpas, porém não agora, como fez em relação ao golpe militar).
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