sábado, 1 de agosto de 2020

NÃO É NOCAUTE, FERNANDO, PORQUE A GENTE NÃO VAI SE ENTREGAR

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Confesso que senti a bordoada que o jornalista e escritor Fernando Morais nos aplicou ao anunciar - repentinamente - o encerramento das atividades do excelente Blog Nocaute, de que é titular. Destaquei o "repentinamente" porque recordei os tempos que antecederam o fim d'O Pasquim, em 1991: esvaziado, em meio à crise financeira de então, o semanário, lançado em junho de 1969, seguia agonizando, definhando a cada semana, para desespero de seus fiéis, insistentes leitores e colaboradores (incluindo esse escriba, que lá publicava cartuns e frases de efeito - que batizamos de "picles", os quais anos depois reuni no livreto 'Filhotes do Pasquim'). Quando O Pasquim fechou definitivamente as portas, o fato nos entristeceu, mas não representou surpresa. Ao contrário do que vemos agora com o Nocaute. Nos reconforta, porém, saber que Fernando Morais está a receber todas as homenagens, inclusive essa que Fernando Brito, titular do Tijolaço, lhe presta. Nossa solidariedade a todos os que fizeram o Nocaute, com o abraço especial a Aline Piva, do programa 'Giramundo', e ao excelente Alberto Villas, do JFT, Jornal do Fim de Tarde.


Por Fernando Morais
Nestes tempos em que se lê tanto sobre as picaretagens da turma da fake news prosperando à custa de fanatismo e de “enganos” que despejaram publicidade das empresas estatais – que, aliás, odeiam – doeu muito ver a despedida do blogue Nocaute, do Fernando Morais, uma figura referencial no jornalismo e na literatura biográfica de nosso país.
Eu era ainda um estudante secundarista, há 45 anos, quando ele, em 1975, lançou seu consagradíssimo A Ilha, que teve dezenas de edições, levantando as cortinas que baixaram ante nossos olhos para que não víssemos que havia Cuba, o pequeno milagre que Fidel e seus companheiros tiraram de um imenso atraso, mesmo debaixo de embargos, ameaças e discriminações, e conduziram aos níveis de educação e saúde que nós, neste imenso gigante, não conseguimos nem sonhar à época.
Vinte anos depois, o deslumbramento da leitura – repetida e repetida – de Chatô, o Rei do Brasil, uma lição embriagante das duas coisas que mais amo – jornalismo e a história de meu país – foi outro presente que recebi de meu xará.
Senti-me mal, de verdade, ao ver Fernando Morais tendo de baixar os punhos – afinal, também os usamos para escrever, não é? – de seu Nocaute, fonte diária de informação, coerência e entrevistas. Tive vergonha de estar conseguindo sobreviver e assistir um companheiro de muito mais valor tropeçar nas dificuldades que, amanhã, talvez me obriguem ao mesmo.
Mas, para nós dois, não sem luta, não sem resistência.
Abro os braços e o modesto espaço que aqui tenho para Fernando Morais, se e quando ele quiser usar estes nossos pequenos ringues para o combate. Porque dele a gente não foge e nele a gente não entrega senão a alma, o coração e a vida.  -  (Tijolaço - Aqui).

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