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Assassinatos políticos como marcos de História
"O Irã assinou em 2015 um Acordo de controle e contenção de sua política nuclear, sendo contrapartes a Agência Internacional de Energia Atômica, a Rússia, a China, a França, o Reino Unido e a Alemanha. TODOS estavam satisfeitos com o acordo e sua execução e fiscalização pelos inspetores da AIEA, o Irã estava CUMPRINDO escrupulosamente com o acordo, ai vem Trump e os EUA saem do Acordo sem maiores explicações a não ser 'fake news'."
Por André Araújo
Assassinatos políticos de líderes por potências inimigas são eventos raros na História. Há um protocolo milenar não explicito pelos quais os líderes se auto protegem para manter um mínimo de nível civilizatório. Nas guerras regionais e mundiais não se traçaram planos de assassinato de líderes adversários a não ser como exceção, por exemplo o assassinato do Comandante da Marinha Imperial do Japão, Almirante Yamamoto, em 18 de abril de 1943, ato executado pelos EUA em meio a controvérsia dentro do governo americano, havia no episódio fortes opiniões contrárias ao ato.
Há uma razão logica para se evitar esse tipo de ação. O CUSTO político de um assassinato é muito maior que o seu benefício, pouco se ganha e muito se perde, é a lição da História. O simbolismo da morte de um líder de grande expressão nacional gera uma reação que ao longo da História cobrará um alto preço ao País que executou o assassinato, deixa cicatrizes irremovíveis, cria um impacto desproporcional a qualquer benefício de curto prazo.
Entende-se aqui assassinato político o ato executado por um ESTADO CONTRA LÍDERES DE OUTRO ESTADO e não quando executado por indivíduos a título pessoal, ato que tem outro significado e dimensão sob o ponto de vista político e histórico, é completamente diferente sua raiz e lógica.
Sob o ponto de vista pragmático, um assassinato político de tocaia gera comoção e desdobramentos no Estado atingido e legitima sua reação e resposta.
Não confundir esse tipo de ato com execuções por turbas no meio ou ao fim de conflitos ou atos executados por adversários internos, caso de Saddam Hussein, Khadafi, Ceausescu, Mussolini, onde Estados adversários no conflito não sujaram suas mãos com o sangue dos executados.
A CAÓTICA E VULGAR DIPLOMACIA DE TRUMP
A Presidência Trump se caracteriza pela vulgaridade de anunciar e justificar ações por redes sociais, sem nenhuma liturgia de Estado, sua diplomacia é caótica porque não segue o ritual de um planejamento estratégico, algo inaugurado em 1949 por George Kennan, maior diplomata americano do Século XX, autor da “Doutrina de Contenção”, traçada em 1947 e que foi aplicada por 50 anos em relação à URSS, fruto da inteligência e da paciência mas, acima de tudo, da integridade de uma geração de homens de Estado do nível de George Marshall, Dean Acheson, Clark Clifford, W.Averell Harriman, John MCCloy, personagens de estatura, cultura e caráter que contrastam com o rebotalho da administração Trump.
Além do Birô de Planejamento Estratégico do State Department, criado e chefiado no início por Kennan, há o Conselho Nacional de Segurança, órgão de cúpula de assessoramento do Presidente em questões de defesa e política externa, que funciona no Old Executive Building, ao lado da Casa Branca. Trump IGNORA esses órgãos, não tem estratégia alguma e nem política de longo prazo, age por impulso e naquilo que julga ser seu interesse pessoal, criou a crise com o Irã e não sabe como sair dela.
Dezenas de entrevistas no último fim de semana por onde passaram ex-Secretários de Defesa, como William Cohen, ex-Generais Comandantes de grandes comandos do Pentágono, da OTAN, como o General Wesley Clark, ex-chefes do National Security Council, ex-chefes de Planejamento Estratégico do State Department, como Richard Haas, que hoje é o Chairman do Council of Foreing Relations, o mais importante think thank de política externa dos EUA, esse desfile de personalidades com larga experiência e preparo em geopolítica, relações internacionais e defesa, TODOS condenaram não só o ato de assassinato em si, como o caos onde opera Trump, jogando com os interesses, o prestígio e o papel dos EUA no mundo, misturando seu interesse pessoal rasteiro com atos de magnitude estratégica cujo desdobramento Trump desconhece e tampouco tem interesse em saber, um homem nefasto, na feliz expressão de Winston Churchill sobre um personagem da época, do tipo de Trump (Sir Neville Henderson mas Churchill queria atingir Lord Halifax).
A CRISE COM O IRÃ
O Irã assinou em 2015 um Acordo de controle e contenção de sua política nuclear, sendo contrapartes a Agência Internacional de Energia Atômica, a Rússia, a China, a França, o Reino Unido e a Alemanha. TODOS estavam satisfeitos com o acordo e sua execução e fiscalização pelos inspetores da AIEA, o Irã estava CUMPRINDO escrupulosamente com o acordo, ai vem Trump e os EUA saem do Acordo sem maiores explicações a não ser “fake news”.
A razão óbvia era que o acordo bem-sucedido tinha sido obra do Presidente Obama e Trump por isso queria desqualificá-lo. TRUMP CRIOU DO NADA A CRISE.
Trump é o pai e a mãe da crise com o Irã, começou a aplicar sanções que reduziram à metade a produção de petróleo do Irã e reduziram seu PIB em 9%, gerando carências e problemas de todo tipo. Criador da crise, Trump agora a escala com o assassinato do general, um operador vulgar, desagregador, jogando no conflito e no desequilíbrio para criar capital político em casa, mas aparentemente calculou mal sua jogada, abriu novas fendas e feridas em um tecido social e político já complicado, jogando com as vidas de soldados americanos e, ao fim, BENEFICIANDO A RÚSSIA, maior aliado hoje do Irã.
Como disse a Presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi, a política externa de Trump é um caos, mas todas as ações têm um ponto em comum, uma linha contínua, TODOS OS ATOS AO FIM DO DIA BENEFICIAM A RÚSSIA, País que parece ser o verdadeiro guia de Trump. - (Fonte: GGN - Aqui).
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