sábado, 11 de novembro de 2017

A MORTE DO REITOR DA UFSC: ESQUECIMENTO, NÃO (III)

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Em 31 de outubro, publicamos o post "A morte do reitor da UFSC: esquecimento, não (II) - AQUI -, aludindo aos demais textos sobre o assunto divulgados neste blog. Trecho:

"... Como já observado aqui, "este blog publicou alguns posts sobre a trágica morte do reitor Cancellier, da Universidade Federal de Santa Catarina, ocorrida recentemente. Enquanto a OAB Nacional divulgou nota de repúdio - AQUI -, a grande imprensa brasileira, unanimemente, limitou-se a tratar o suicídio do reitor como ato desesperado de alguém com 'culpa no cartório', descartando  o acionamento do requerido jornalismo investigativo (alternativa fora do alcance da 'blogosfera'), que certamente traria à tona as reais circunstâncias do caso e os juízos de valor externados por estudiosos do Direito e outros. A Folha de S. Paulo seguiu a 'corrente impassível', comportando-se burocraticamente, como se convicta de que eventuais omissões poderiam ser 'compensadas' pela mea culpa global semanalmente oferecida por sua ombudsman. Mas há quem considere que esse assunto tem potencial para ocupar lugar relevante na História". (Continua).

Em sua coluna nesta quinta-feira n'O Globo, Luis Fernando Verissimo faz uma crítica contundente aos excessos da Lava Jato, e registra o suicídio do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier, contra quem acusações de corrupção jamais foram confirmadas. Trechos reproduzidos pelo site Brasil 247 - AQUI -:

Único suicídio provocado pela Lava Jato foi o de um inocente
Por Luis Fernando Veríssimo
A Operação Lava-Jato e a Operação Mãos Limpas na Itália se parecem em poucos pontos, mas são pontos fundamentais. As duas começaram com cavaleiros destemidos dispostos a combater a corrupção em seu país — o procurador Di Prieto lá, o juiz Moro aqui. Nos dois casos, algumas leis foram, digamos, dribladas para tocar os processos. Moro levou ligeira vantagem sobre Di Prieto no quesito fins que justificam meios.
(...)
Na Itália, houve suicídios de envolvidos em escândalos denunciados pela Mãos Limpas. Aqui o único suicídio provocado pela Lava-Jato foi o de um inocente injustamente acusado. O que a Mãos Limpas e a Lava-Jato têm indiscutivelmente em comum é que, na busca por uma moral absoluta, desnudaram mais do que esquemas de corrupção e de bandidagem corporativa, fizeram — sem querer — retratos de corpo inteiro do capitalismo de compadres em vigor nos seus países. Itália e Brasil têm a mesma história de sociedades dominadas por sistemas excludentes de poder que se fecham contra qualquer ameaça de mudança. Não cabe dizer que na Itália é pior porque lá tem o complicador da máfia. Nós também temos máfias, que só não ousam dizer seu nome."
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ADENDO

De como os casos Waack e Reitor Cancellier se encontram

Mensagem dirigida por José Augusto Ribeiro ao jornalista Luis Nassif:

Caro Nassif
     Acabo de ler seu artigo de ontem (AQUI) e de encontrar  e também ler o anterior (AQUI) sobre o caso do William Waack. Eu já concordava intuitivamente com o que você viria a escrever e agora concordo esclarecidamente. Não sei se cruzei pessoalmente com o William depois de conhecê-lo na Alemanha em 1976, quando participava de um grupo de jornalistas brasileiros  convidados pelo governo alemão para acompanhar as eleições daquele ano no país. Faziam parte do grupo, entre outros, o Castelinho e o Oliveiros Ferreira. O William era enteado do Oliveiros, estudava na Alemanha e frequentemente estava conosco. Já tinha o ar atrevido de quem sabe que sabe muito - menos, porém, que o Oliveiros, a quem dedicava uma afeição maior que a que um filho biológico pode dedicar ao pai que o fez parir.  
     Eu já admirava muito o Oliveiros,  depois de o ter detestado à distância, mais por suas posições contra o governo Jango, no qual eu trabalhara num quinto escalão, do que por suas convicções ideológicas de direita. Aos poucos, em leituras e encontros ocasionais, fui descobrindo o grande brasileiro e grande ser humano que era o Oliveiros, e também os pontos de vista que nos aproximavam e acentuavam ainda mais os que nos separavam. 
Nunca tive pelo William do Jornal da Globo a menor admiração, nem por sua obsessão contra o que chamava de populismo e enfiava no mesmo saco de pancadas tanto a demagogia mais descarada quanto políticas reformistas mais sérias. Gostei, porém, de seu livro Camaradas, sobre o levante, a tal Intentona Comunista de 1935, livro linchado pela ortodoxia corporativista do velho "Partidão". E gostei de algumas edições de seu programa Painel, no qual ele conseguiu abrir espaço  para manifestações como a do Ministro Carlos Veloso, ex-Presidente do Supremo, sobre uma das flechadas com que o ex-Procurador Geral Rodrigo Janot tentava derrubar o que naquele momento nos restava de legalidade constitucional. Gostei especialmente de um programa no qual um diplomata brasileiro (não guardei o nome) discutia o crescimento da desigualdade econômica no mundo,tema aparentemente proibido em nossa mídia.
     Como você, não vou discutir a frase racista do William, mas não esqueço que o Oliveiros, de quem ele herdou tanto, ou era mouro ou era afro. Também não esqueço que não tenho o direito de atirar a primeira pedra. Quantas vezes achei e disse que isto ou aquilo era coisa de viado, mesmo convicto de que existem mais viados hetero, machistas e homofóbicos  que viados homo. Se nunca me permiti manifestações de racismo ou antissemitismo, foi certamente por meu DNA afro e cristão-novo. Mas já fui acusado de antissemitismo por ter feito um programa de televisão em que o entrevistado, o ex-Presidente Jânio Quadros,  condenava os massacres de Sabra e Chatila em 1982.
    No passado da Inquisição, Galileu foi obrigado a dizer que a Terra não girava em torno do Sol e Giordano Bruno foi condenado à morte e teve a língua cortada a caminho da fogueira por ter dito e continuar dizendo, aos brados, como um poeta condoreiro,  que Deus estava em todas as coisas, até na menor folha de relva. Hoje, nesse punitivismo que nos conduz à guerra de todos contra todos e a cada um de nós à escolha de ser ou recusar-se a ser o lobo do homem, não posso deixar de considerar que a punição do William e seu linchamento moral foram absolutamente desproporcionais e cruéis.
     Ao mesmo tempo, porém, que o caso William Waack se transforma numa questão nacional, não vejo um centésimo desse rigor no caso e na investigação de responsabilidades pelo suicídio do Reitor Luís Carlos Cancelier, da Universidade Federal de Santa Catarina.   
     Parabéns por sua coragem e serenidade ao enfrentar mais uma vez a onda de  intolerância e rancor que envenena até o ar que respiramos.  -  (Fonte: aqui).

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