quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

ENQUANTO ISSO, NO GRANDE PRESÍDIO...


Prender: o programa para salvar o Brasil

Por Fernando Brito

Alguém se deu conta de que, há um bom tempo, o projeto de salvação nacional deste país é botar gente na cadeia?
Desde o ladrãozinho, o traficante de dez trouxinhas de maconha até o – seja ele quem for – presidente, o deputado, o governador?
Só isso é noticia, só isso é prioridade, só isso mobiliza.
Vamos nos tornando seres mórbidos, cujo maior desejo é ver a desgraça alheia, de preferência de cabeça raspada e  cercado de um pelotão de policiais.
Não vou negar que muitos tenham razões para serem presos e alguns, fartos “méritos” para isso.
Nada nunca foi “Padrão Fifa”, nem a Fifa, que só se fosse de roubalheira.
Mas a vida social e coletiva passou a ser só isso: acusação, delação, cadeia, desastre, chacina, loucos homicidas, agressores, fobias de várias espécies.
Foi “passando” aquela história do “gigante acordou”, do “o Brasil é capaz”, do “a vida vai melhorar”.
A nossa democracia, tão custosa, virou um ‘cassa e prende” como na ditadura, que tanto nos custou a deixar para trás. Figuras que habitavam as sombras da política passaram aos holofotes, o têmeres, os geddéis, os padilha, os renans, os moreiras…
Os partidos, que vinham assumindo identidades desde a “geleia geral” feita pela ditadura com Arena e MDB, tornaram-se lixo, com um sistema de votação individual que não deixa nenhum deles imune à necessidade de ter pastores, milionários, subcelebridades e outras coisas do gênero  a sustentar-lhes as votações, a formação de bancadas.
Bancadas, aliás, que não nos refletem, porque se refletissem este país urbano não teria uma maioria ruralista no parlamento, nem estaria refém do fundamentalismo evangélico.
O Judiciário e seu entorno, o MP, tornaram-se ilhas de privilégios e arrogância: controlam tudo, desde a vida política ao preço das passagens, em nome de uma moral e de uma austeridade que não praticam  dentro de casa.
Ficamos compelidos a “torcer” por uma nulidade jurídica, como Cármen Lúcia, diante de seus embates com mediocridades mais medíocres que ocupam os outros poderes da República.
E o assunto do dia, com direito a horas de televisão e orgasmos nacionais, é ver Eike Batista tendo a peruca raspada e achar que, agora, a prisão é democrática, embora ele, Cabral, Marcelo Odebrecht e que tais sejam 0,0000000001% da massa carcerária de pobres, miseráveis, desgraçados que nunca  tiveram 0,0000000001% das farturas de que eles gozaram.
E assim vamos, num país, de fato, governado pela polícia, onde iremos, um dia, todos parar atrás das grades. (Fonte: aqui).

Nenhum comentário: