sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

AS PONTES DE TOKO-RI


As pontes de Toko-Ri

Por Rui Daher

Na terça, 21, fui visitar uma fazenda centenária a 2 km de Campinas, SP. Mantém-se produtiva, praticamente dentro de uma cidade com mais de um milhão de habitantes. Quase mil hectares de terra, plantados com café, soja, milho, construções soberbas ainda preservadas, bosques de frutíferas. Voltarei a escrever sobre ela, mas em Andanças Capitais. Difícil assuntar a agropecuária, tal a fúria com que ferem conquistas rurais merecidas.

Saí cedo de São Paulo, razoavelmente gripado. Minha sócia carregou o fardo em seu carro, incapacitado ao trabalho por uma médica que presta serviços oftalmológicos ao Poupatempo de São Bernardo. Fosse séria, a Dra. Neuza deveria reprovar-me e indicar que eu fosse atrás de óculos e voltasse. Vetou-me dirigir em estradas e após o pôr-do-sol.

Durante a viagem, testei-me. Não houve (se errei o uso do verbo haver, peço consultarem o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, para correção) placas que não conseguisse ler a 500 metros de distância, comprovando o diagnóstico de meu oftalmologista particular de não precisar ainda óculos para distância.
E assim fomos. Do jeito que o Brasil está não se deve brincar, ainda mais desfalcado da AK-47. Viajava em missão de paz.
Na fazenda, sol forte, implacável, temperatura de 36 graus, sobe-desce do carro, o ar condicionado ao arrasto de botas entre os talhões de café, feijão-soja alto, perto da dessecação e colheita, que deixará a palhada para acamar o milho safrinha.
Não é frequente, mas tudo isso aniquilou o meu ânimo laboral quando no campo. Piorou a gripe e relembrei os sonhos de refrigério que sempre usei para me queixar do saco cheio com o trabalho.
Passar dias orando nos corredores que saíam da sacristia da igreja de São Bento até o belo jardim interno, proibido aos alunos que não oblatos. Ser um alfaiate de interior e pespontar durante horas, radinho ligado na emissora Ondas de Palmeira. Ser corretor de terrenos em beira de estrada esperando ninguém parar e interromper a boa leitura. Mais recente sugestão veio do namorado de uma das minhas filhas. Faroleiro. Morar e tomar conta de um farol marítimo dando aviso aos navegantes. Provável que a examinadora de olhos me impediria. Acharia que, vendo um golfinho dando piruetas sobre o mar, alertaria a marinha para um transatlântico voador.
Caso é que voltamos de Campinas, logo depois do almoço, e fui direto para casa. Não aguentaria o clima do escritório, ar que respiro cada vez com maior dificuldade.
Deitei-me e liguei a TV atrás de um filme antigo. Fui feliz: “As Pontes do Toko-Ri” (EUA, 1954). A ação se passa durante a Guerra da Coreia, entre 1950 e 1953, e que acabou por dividir o país. Direção de Mark Robson, tem no elenco William Holden, Grace Kelly, Frederic March, Mickey Rooney, entre outros.
Pauleira brava de caças dos EUA que partem de um porta-aviões a destruir alvos dos comunistas coreanos. Tudo muito bem filmado para a época. Oscar de Efeitos Especiais e indicação pela Montagem.
O personagem de Holden, tenente Brubraker, é ao mesmo tempo o herói que bombardeia e o que hesita diante das iniquidades das guerras e do medo de não voltar aos braços da esposa Nancy (bem, tratava-se de Grace Kelly).
A história e o filme confirmam a vitória dos EUA. Pouco antes do “The End”, no entanto, Hollywood deixa transparecer um misto de arrependimento e “pena, mas assim tem de ser”.
Foi então que percebi o quanto me orgulho de ser norte-americano.
O quê? Estranham? Como não?
Quando o filme foi lançado nos EUA eu tinha nove anos de idade.  Com o delay até o Brasil, digamos que assisti “As Pontes do Toko-Ri”, com 11 anos. Assim como centenas de outros filmes de guerra norte-americanos. Virei um. Vocês não? (Fonte: aqui).

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Eu, sim. Não só nos filmes made in USA, mas nos quadrinhos (Tarzan, Aí mocinho, Kid Colt, Pato Donald, Almanaque do Tio Patinhas, Fantasma, Durango Kid, Zorro - os dois -, Histórias de Terror, Buck Jones, Kit Carson, Buffalo Bill, Fotoaventuras...), na Seleções do Reader's Digest (notadamente a seção de livros condensados) e em livros diversos (Mark Twain...), etc., etc.

Tempos depois, lendo sobre economia, geopolítica, corrida espacial e contracultura, o caldo entornou, embora permaneça ainda ligadão em filmes e que tais norte-americanos...

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