"Excelentíssimo Senhor Embaixador de Portugal, Dr. Jorge Cabral.
Senhor Dr. Roberto Freire, Ministro da Cultura do governo em exercício.
Senhora Helena Severo, Presidente da Fundação Biblioteca Nacional.
Professor Jorge Schwartz, Diretor do Museu Lasar Segall.
Saudações a todos os convidados.
Tive dificuldade para entender o Prêmio Camões, ainda que concedido pelo voto unânime do júri. De todo modo, uma honraria a um brasileiro ter sido contemplado no berço de nossa língua.
Estive em Portugal em 1976, fascinado pelo país, resplandecente desde a Revolução dos Cravos no ano anterior. Além de amigos portugueses, fui sempre carinhosamente acolhido pela imprensa, escritores e meios acadêmicos lusitanos.
Portanto, Sr.Embaixador, muito obrigado a Portugal.
Infelizmente, nada é tão azul no nosso Brasil.
Vivemos tempos sombrios, muito sombrios: invasão na sede do Partido dos Trabalhadores em São Paulo; invasão na Escola Nacional Florestan Fernandes; invasão nas escolas de ensino médio em muitos estados; a prisão de Guilherme Boulos, membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; violência contra a oposição democrática ao manifestar-se na rua. Episódios todos perpetrados por Alexandre de Moraes.
Com curriculum mais amplo de truculência, Moraes propiciou também, por omissão, as tragédias nos presídios de Manaus e Roraima. Prima inclusive por uma incontinência verbal assustadora, de um partidarismo exacerbado, há vídeo, atestando a virulência da sua fala. E é esta figura exótica a indicada agora para o Supremo Tribunal Federal.
Os fatos mencionados configuram por extensão todo um governo repressor: contra o trabalhador, contra aposentadorias criteriosas, contra universidades federais de ensino gratuito, contra a diplomacia ativa e altiva de Celso Amorim. Governo atrelado por sinal ao neoliberalismo com sua escandalosa concentração da riqueza, o que vem desgraçando os pobres do mundo inteiro.
Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal.
Prova da sustentação do governo em exercício aconteceu há três dias, quando o ministro Celso de Mello, com suas intervenções enfadonhas, acolheu o pleito de Moreira Franco.
Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas.
Citado 34 vezes numa única delação, o ministro Celso de Mello garantiu, com foro privilegiado, a blindagem ao alcunhado “Angorá”. E acrescentou um elogio superlativo a um de seus pares, o ministro Gilmar Mendes, por ter barrado Lula para a Casa Civil, no governo Dilma. Dois pesos e duas medidas.
É esse o Supremo que temos, ressalvadas poucas exceções. Coerente com seu passado à época do regime militar, o mesmo Supremo propiciou a reversão da nossa democracia: não impediu que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados e réu na Corte, instaurasse o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Íntegra, eleita pelo voto popular, Dilma foi afastada definitivamente no Senado.
O golpe estava consumado!
Não há como ficar calado.
Obrigado"
(Discurso de Raduan Nassar, escritor, ganhador do Prêmio Camões 2016, honraria concedida pelos governos de Portugal e do Brasil e um dos principais reconhecimentos da literatura em língua portuguesa. A solenidade aconteceu nesta data, no Museu Lasar Segall, em São Paulo.
Raduan, nascido em Pindorama-SP em 1935, filho de imigrantes libaneses, é autor de livros como 'Um Copo de Cólera', 'Menina a Caminho' e o clássico 'Lavoura Arcaica'.
Fontes: CartaCapital e Jornal GGN - aqui).
ADENDO:
"Que coisa ridícula!
O ministro da Cultura poderia ter feito um discurso rápido e educado, dizendo que não concorda com Raduan, mas que respeita sua opinião e pronto. Parabéns pelo prêmio, obrigado e tchau.
Não, ele tentou fazer um longo discurso político repleto de ofensas ao premiado da noite!
É inacreditável!
Freire tenta ofender e humilhar Raduan Nassar de todas as maneiras. Ao final, ainda faz questão de afirmar que se trata de um “prêmio pecuniário”.
Não diz que boa parte do dinheiro, se não tudo, vem do governo português.
E faz isso com Raduan Nassar, que doou sua fazenda à Universidade Federal de São Carlos. Que nunca quis ganhar dinheiro da literatura, tanto que abandonou a carreira após lançar dois livros e foi criar galinhas.
Freire fica tentando humilhar Nassar, dizendo que ele “não recusou o prêmio” dado pelo governo.
Ora, o prêmio tem participação do governo de Portugal e o ganhador foi escolhido não pelo governo, mas evidentemente por jurados. E foi anunciado em maio de 2016. Ou seja, é um governo que vem da gestão Dilma. (...)."
(Para continuar a leitura do post de Miguel do Rosário - e ver o vídeo -, clique AQUI).
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Certa vez, o Jornalismo Wando – perfil gozador do Twitter - mandou uma saudação a Roberto Freire: (....)."
(Para ler na íntegra a abordagem de Luis Nassif sobre o assunto, clique AQUI).
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