domingo, 26 de fevereiro de 2017

OS BANCOS E AS VÍTIMAS DA PSICOSE DO LUCRO


Os lucros dos bancos - Freud explica?

Por Sylvia Chiodarelli Lopes

Freud divide as estruturas psíquicas em psicose, neurose e perversão. Cada ser humano se encaixa em uma delas, nasce, vive e morre sendo psicótico, neurótico ou perverso. Apenas para ilustrar rapidamente, psicóticos são, por exemplo, esquizofrênicos, pessoas que veem e escutam coisas que não são reais. Neuróticos são a imensa maioria da população, gente que anda por aí querendo fazer as coisas certas e que sente muita culpa, culpas suas e não suas. Perversos são os famosos psicopatas, pessoas que não reconhecem o outro como ser; justamente por esta deficiência os psicopatas podem tornar-se serial killers -isto não quer dizer que todo psicopata seja um serial killer, mas é verdade que ele vive de matar, matar sonhos, matar alegrias, matar finanças. Entendeu? Não? Explico.


Não se deixe enganar pela imagem do Hannibal Lecter, com a maldade saindo pelo olhar, porque não é com este tipo de perverso que vai topar pela rua ou num barzinho.
Este estereótipo é de grande valia para os perversos pois mantém a população com medo de um personagem estereotipado enquanto o perigo vive escondido em pessoas “normais”, em donas de casa, em namorados encantadores, em maridos dedicados, em pais carinhosos e em vozinhas elegantes, como Dorothea Puente, a dona de uma pensão para idosos que matava seus clientes para ficar com sua aposentadoria.
Mas e aquele perverso que não mata? Faz o quê?
Quem nunca ouviu uma história de alguém - que chamaremos de A - que começa a namorar uma pessoa incrível, que chamaremos de B? Tudo parecia um conto de fadas e, quando menos se esperava, havia sugado tudo o que o outro tinha, fez dívidas, roubou coisas e amigos, terminou o relacionamento e inverteu a situação de tal maneira que A sente-se culpado? Em algum momento, depois da tempestade, B reaparece e precisa de algo e A (para indignação geral), recebe-o de volta. Em pouco tempo, B consegue de novo o que precisava e volta a descartar A. História batida, não? Bora analisar?
B é incrível = sedutor
B suga, rouba, usa e descarta A = não tem empatia, não tem sentimentos reais.
Opa…. então quer dizer que aquele conto de fadas não era real? Não, não era…. era um teatro. Perversos são absolutamente teatrais. Como não têm sentimentos, não reagem naturalmente às experiências da vida; desde pequenos vivem a observar as reações das outras pessoas e a imitá-las para serem aceitos socialmente.
B precisa de algo e volta para A = manipulação
encanta-se, ama, e culpa-se. B sabe disso e usa as emoções do outro em seu favor.
B golpeou por diversas vezes assim como Dorothea Puente deu golpe e golpeou (matou) vinte e cinco idosos. Está bem clara a dimensão individual da perversão e as duas histórias, a de A e B e a da senhora Dorothea, ilustram bem, não é?
Mas, e se fosse possível fazer o mesmo com 99% da população mundial, de maneira legalizada, amarrando-os todos a um sistema que os culpa e pune caso não paguem por algo que os vincula moralmente, mesmo que seja uma extorsão recorrente (como a que realizava contra A)?
É o que fazem os bancos.
Dia desses, na fila de um banco vi o caixa tentando “vender” um empréstimo de R$40.000,00 para um idoso sob o pretexto de que poderia trocar de carro. O senhor foi pagar suas contas e quase saiu com uma dívida travestida de carro novo. Fiquei olhando indignada para o funcionário, que respondeu-me com um olhar envergonhado. Ele é um perverso? Não. Ele é uma vítima do sistema, mais uma das bilhões de pessoas que precisam trabalhar e fazer coisas com as quais não concordam para pagar suas contas (se ele está certo ou errado, se seu caráter está sendo corroído ou não é tema para outro post; aqui ele é vítima, como você e eu).
Duas das minhas pacientes, gerentes de dois grandes bancos, tiveram crises no meio de seus atendimentos. Pode parecer incrível, mas a cena foi idêntica (o que pode nos aventurar a pensar que acontece recorrentemente). Enquanto estavam com clientes às suas mesas, seus chefes telefonavam diversas vezes para pressionar cada uma delas a fim de que “eu empurrasse empréstimos desnecessários” (ambas usaram quase a mesma frase para descrever a ação de seus chefes). As duas reagiram da mesma maneira: começaram a chorar na frente dos clientes e foram hospitalizadas, até que se acalmassem. São perversas? Não. São vítimas. Uma delas pediu demissão, a outra está em busca de uma alternativa.
Mas se estas pessoas não são perversas, o que é? O sistema e seus gestores.
Minhas duas pacientes relatam que colegas, gerentes igualmente, passam por situações idênticas. O telefone toca durante um atendimento e é o chefe, pelo ramal, pressionando. O que faz crer que se trata de uma política deliberada dos bancos.
Grandes corporações que lucram às custas da exploração precisam de presidentes, VPs, diretores e gerentes capazes de fazer a máquina girar independentemente dos danos à humanidade e ao meio ambiente. Pessoas providas de sentimentos não conseguem arquitetar negócios que enriquecem alguns e matam inocentes, envenenam crianças, poluem rios e desmatam florestas. Repito, não é necessário ser o Jason, o estripador, para ser um psicopata, também é possível sê-lo vestindo Armani e cheirando Polo na diretoria de uma grande instituição financeira sem nunca ter uma gota de sangue nas mãos macias, que ao invés de facas empunham telefones que amedrontam, teclados que escrevem políticas que escravizam, Mont Blancs que assinam sentenças de dívidas e emaranhados eternos. Sistema perverso, comandado por pessoas perversas, enriquecendo pessoas perversas ou oportunistas às custas das necessidades ou sonhos do restante da população. As pessoas recorrem aos bancos para se alimentarem, adquirir bens, abrir um negócio, viajar. Pensam que estão fazendo um empréstimo: estão caindo numa máquina de moer gente e entram em processos de intenso sofrimento, movidas pela obrigação legal e moral de cumprir com sua palavra e pagar cada centavo devido (e não devido) para banco -mas isto é tema para outro post! (Fonte: aqui).

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