terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

QUE VOLTE O JB


A volta do JB mudará o cenário da imprensa no Rio e no Brasil

Por José Carlos de Assis

Mais importante título da imprensa escrita brasileira, o “Jornal do Brasil” será relançado nos próximos dois meses como jornal impresso depois de vários anos em hibernação. De acordo com Omar Peres, empreendedor conhecido mais como do ramo de restaurantes e que decidiu lançar-se no setor de comunicação, faltam alguns procedimentos jurídicos para desembaraçar  o jornal de suas pendências trabalhistas prévias. Contudo, ele está otimista. Na verdade, está entusiasmado em face da reação favorável ao anúncio da volta.
O empresário não é exatamente um neófito na área de imprensa. Fundou e dirigiu um jornal diário em Juiz de Fora, do qual, aliás, fui colunista. Não deu certo, mas a experiência lhe ensinou por onde não seguir. Lembro-me que Al Neuhart, o audacioso criador do “US Today” no início dos anos 80, experimentou um fracasso retumbante com seu “Florida Today” antes de conquistar o maior sucesso do jornalismo norte-americano desde a consolidação dos até então nunca desafiados jornais de Nova Iorque, de Washington e da Costa Leste.
Acho que o empreendimento de Peres será vitorioso. O relançamento do “Jornal do Brasil” é uma necessidade da democracia brasileira. A chamada grande imprensa escrita, formada pelo Globo, Estadão e Folha de S.Paulo, esgotou a paciência dos leitores brasileiros. Não desempenha o papel normal de jornais enquanto intermediários de notícias. São manipuladores de informação. Seja pelo que escolhem publicar, seja pelo que não publicam, funcionam nas páginas de noticiários como seção opinativa do jornal.
De acordo com Omar, o novo “Jornal do Brasil” procurará ser independente e imparcial na informação e plural na página de opinião, que pretende abrir ao público, notadamente os intelectuais do Rio. Lembrei-lhe a fórmula da “Folha de S. Paulo” em seu período de ascensão nos anos 80: boa parte de sua afirmação entre os grandes jornais se deveu ao fato de ter aberto suas páginas de opinião aos intelectuais paulistas contrários à ditadura, entre os quais se destacava gente como Fernando Henrique e José Serra.
Enquanto a Folha subia no conceito do leitor o JB descambava. Um dos motivos é que a estrutura gráfica do jornal não permitia muitos colaboradores voluntários de fora. Mais do que isso, o jornal perdeu, em fins dos anos 80, seu caráter independente, alinhando-se cada vez mais a um Governo decadente. Já a decadência da Folha nos últimos anos se  deve, em grande parte, à perda de seus colaboradores voluntários e a uma atitude arrogante de sua direção ao acompanhar os concorrentes numa pauta de manipulação da notícia.
Diz-se que a imprensa escrita está condenada a desaparecer. Não acredito nisso. O que vai desaparecer é essa imprensa sórdida brasileira, manipuladora do noticiário, que apenas os ingênuos suportam. Sou um autor frequente de textos para a internet, mas não perco a perspectiva de que a internet é ligeira demais para formar opinião. Ela só é imbatível no campo da notícia curta. Enquanto formador de opinião, o que é imbatível mesmo é o jornal impresso. O sujeito lê, relê, recorta, leva para a casa ou para o trabalho. Fixa conceitos.
A iniciativa de Omar é do interesse nacional tendo em vista a brecha de opinião independente e noticiário imparcial deixada aberta pela chamada grande imprensa atual. O “Jornal do Brasil” vai acrescentar uma peça para formar um quarteto. Em futuro próximo, é possível que nem seja um quarteto. Os três jornais, de tão ruins, estão quebrando. O leitor está perdendo totalmente o interesse neles. Assim como as revistas, só recuperam algum leitor quanto noticiam escândalos reais ou fabricados. Mas mesmo isso acaba cansando.
Contudo, Omar Peres sabe perfeitamente das limitações do jornal imprenso. Ele já não tem um suporte em si mesmo. Precisa, de alguma forma, apoiar-se na internet. Ele deverá fazer isso com o “Jornal do Brasil”. Em todo o caso, espera-se que o Rio volte a ter um grande jornal formador de opinião para concorrer sobretudo com O Globo, atuando numa linha progressista e nacionalista. No Congresso (da entidade de que o articulista participa), quando comentei a notícia da volta do JB, a reação foi de entusiasmo. Agora é esperar para ver a materialização do sonho de Omar e do Rio. (Fonte: aqui).
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Carlos Castello Branco, Carlos Drummond de Andrade, João Saldanha, Ziraldo, política com 'p' maiúsculo, senso crítico, foi no velho JB, entre outros, que ao longo de anos colhemos informações e impressões acerca do tão pujante quanto sofrido Brasil e, em certo sentido, do mundo. Mas fazemos nossas as preocupações manifestadas por alguns dos leitores da matéria acima, como João de Paiva, nos seguintes termos:
"Prezados leitores, 
Fico impressionado com a nostalgia com que alguns jornalistas, analistas e articulistas se referem aos meios impressos de comunicação. Mais ainda com a admiração e reverência que dispensam ao produto jornal, no formato e tamanho em se tornaram padrão no Brasil - copiando o modelo estadunidense. 
Jornal impresso no tamanho e formato desses três que representam o PIG nacional são difíceis de manusear, sujam as mãos, os cadernos e páginas caem no chão e se embaralham. Se a pessoa está sentada num ônibus, trem ou metrô e abre um jornal, ela incomoda quem está ao lado. Mesmo com a melhoria da qualidade do papel e da técnica de impressão, papel-jornal não resiste à água e bastam algumas gotas para tornar o produto imprestável. Até a década de 1980 a qualidade da impressão dos jornais brasileiros era péssima, não pelo fato das fotos e imagens serem em P & B, mas porque as máquinas impressoras e as tintas eram ruins e muitas vezes o que chegava às mãos dos leitores eram figuras borradas, algumas que sequer permitiam identificar as pessoas que tinham sido fotografadas.
Os textos e as reportagens eram, sem dúvida, bem melhores do que os que se vêem nos últimos 18 anos. Mas o bom jornalismo pode ser feito em qualquer suporte. E os meios digitais permitem reduzir drasticamente os custos e podem ter maior alcance. Ademais, a manutenção de acervos impressos (hemerotecas) é cara, complicada. E em tempos de EC-95 (a do fim do mundo, que congela investimentos públicos por duas décadas) não haverá recursos para se manter em arquivo as edições impressas de jornais e revistas, a menos que a poderosa banca financeira assuma essa atividade (e os bancos não farão esse tipo de patrocínio por mecenato, convenhamos).
Numa época em que pela internet uma notícia atravessa o mundo em poucos segundos, a custo desprezível, parece anacrônico alguém acreditar e apostar em jornais impressos como veículos de comunicação, por supostamente mais bem fixarem o conteúdo na cabeça dos leitores e assim 'formar opinião'. Quando acompanhamos o esvaziamento das redações, com a demissão de centenas - milhares ao longo das últimas décadas - de profissionais, quando vemos que uma edição de domingo é fechada na tarde de uma sexta-feira (ou seja, se ao longo do sábado ou no domingo ocorrer alguma tragédia ou acontecimento importante que devesse estampar as manchetes do fim de semana, o leitor de um jornal impresso só ficará sabendo dos fatos na segunda-feira, 48h após eles terem ocorrido), como pensar que haverá estrutura para fazer a distribuição de um jornal impresso pelo interior do Brasil profundo?
O autor do artigo, professor José Carlos de Assis, já conversou com os jovens - potenciais leitores -  sobre a disposição deles em manter em casa um acervo de jornais já lidos ou de recortar reportagens, para arquivá-las? Nem mesmo os que viveram a 'época de ouro' dos jornais impressos se dispõem a arquivar edições antigas ou mesmo recortar reportagens que tenham achado interessantes. O máximo que fazem é fotografar ou digitalizar o conteúdo e gravá-lo num dispositivo de armazenamento. E aqueles intermináveis cadernos de anúncios classificados, de imóveis, veículos, etc? Quem vai ler ou armazenar aquilo? Espertos, alguns editores colocam uma matéria jornalística num lado da página e no verso enchem de anúncios; o articulista pensa que um jovem armazenará um material desse tipo?
Jornais e revistas já estão mortos como veículos de comunicação de massas. Nenhum dos chamados 'grandes jornais' ou revistas brasileiros sobrevive de receitas com assinaturas ou vendas em bancas. Mais do que simples anunciantes, os verdadeiros patrocinadores, e mesmo controladores, dos veículos impressos são as empresas que veiculam propaganda nas páginas. O jornal O Estado de São Paulo, por exemplo, só não foi fechado porque interessa aos bancos credores a manutenção de um jornal conservador como esse. A Folha de São Paulo não se paga e precisa recorrer ao UOL, portal de internet que participa do grupo Folha em parceria com a Abril e outros sócios, para fechar as contas. O jornal  O Globo e outros veículos impressos da famiglia Marinho também não têm receitas para se manter, ficando na dependência da emissora de televisão. TODOS os veículos da mídia comercial tradicional dependem diretamente das verbas de publicidade com o setor público; sem o dinheiro das estatais e dos governos, a maioria dos jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão comerciais não sobreviveria ou seria drasticamente reduzida de tamanho.
Num cenário de decadência, que é mundial, por que o Jornal do Brasil teria alguma chance de voltar ao meio impresso? Como o JB conseguirá manter uma linha 'independente' se tiver de mendigar por contratos de publicidade com um governo golpista e corrupto como o de michel temer e seu bando?"
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Voltando ao analista político Carlos Castello Branco, cumpre destacar a opinião do jornalista piauiense Zózimo Tavares:
"O Piauí teve, sim, outros expoentes, mas foi Carlos Castello Branco, o menino da Rua da Glória, a nossa glória maior”


Durante mais de meio século, ele foi o repórter político do Brasil. Um repórter que soube interpretar o país, na agonia de duas ditaduras e na esperança de duas redemocratizações; no suicídio de um presidente da República (Getúlio Vargas), na renúncia de outro (Jânio Quadros), na deposição de mais um (João Goulart) pelas armas e no impeachment de outro (Fernando Collor) pelas armações. Foi também jornalista de três Constituições, a de 1946, a de 1967 e a de 1988. Exerceu a profissão ao longo dos mandatos de 13 presidentes da República e durante 31 anos redigiu a famosa Coluna do Castello, no Jornal do Brasil.
Eis um perfil breve e fugaz daquele que foi maior, o mais importante e o mais influente colunista político do Brasil na segunda metade do século 20, o jornalista Carlos Castello Branco, o Dr. Castello do trato mais formal ou o Castelinho, para os mais íntimos. Nascido em Teresina, em 25 de junho de 1920...
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