segunda-feira, 5 de outubro de 2015
CANIVETE SUÍÇO
"Sempre ouvimos falar da Suíça como um lugar frio, onde se fazia um bom chocolate e se podia guardar muito dinheiro em contas numeradas. Para mim, era o paraíso dos corruptos, que tinham ali um porto seguro para depositar a grana conseguida em negociatas inconfessáveis. A Suíça, portanto, era como a caverna da história de Ali Babá e os 40 ladrões, que guardavam ali os tesouros amealhados em suas pilhagens.
Só que a história mudou. Depois de ser criticado por décadas e décadas, o governo suíço reviu os dogmas de seu sigilo bancário. E não foi apenas isso. O país que legitimava, junto com outros paraísos fiscais do planeta, a triste máxima de que no Brasil o crime compensa, passou de vilão a herói quando seu ministério público começou a investigar o escândalo das propinas pagas pela companhia francesa Alstom a membros do governo de São Paulo durante a expansão do metrô paulistano. Claro que a imprensa daqui, tucana até a medula, só noticiou, timidamente, porque a roubalheira foi descoberta na Suíça. Mesmo assim, esqueceu o caso rapidinho. Os suíços não.
Também da Suíça veio uma lista de brasileiros com contas no HSBC de lá, muitas delas, ou a maioria, não declarada ao nosso fisco. Outro escândalo, aliás, negligenciado pelos nossos jornais, sempre tão severos quando se trata de atingir o PT e seus aliados.
E agora surgem as contas secretas do presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha, e de seus parentes. Pelo menos US$ 5 milhões, coincidentemente a mesma quantia que Cunha teria recebido, segundo quatro delações premiadas da Operação Lava-Jato, para facilitar contratos assinados pela Petrobrás.
Ou seja, a Suíça, em pouco tempo, transformou-se num agente da moralização no Brasil. Só falta nossas autoridades punirem os criminosos."
(De Marcelo Migliaccio, em seu blog Rio Acima, post intitulado "Canivete suíço" - aqui.
Sem dúvida, trata-se de fato de extrema gravidade a pessoa que preside a Câmara dos Deputados ser titular de quatro contas secretas em banco suíço, perfazendo algo em torno de US$ 5 milhões, correspondentes a vinte milhões de reais. A perplexidade dos arautos da moralidade, no entanto, é significativamente atenuada em razão de dito presidente ser opositor ferrenho da presidente da República; no fundo, se deles dependesse, a corrupção de Cunha bem que mereceria de todos a seguinte reação: "Não vem ao caso").
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