segunda-feira, 26 de outubro de 2015

A ARTE DE MESCLAR RECEITUÁRIOS ECONÔMICOS


Ajuste com crescimento é o nome do jogo

Por André Araújo

Os economistas que seguem escolas doutrinárias, como a de Chicago, têm extrema dificuldade ou até mesmo impossibilidade intelectual de trabalhar com combinação de modelos e mecanismos econômicos. Traçam planos no papel lógicos e racionais, mas que não combinam com o caos da vida real econômica, social e política.
No projeto de política econômica traçado por esse modo de pensar há que fazer primeiro uma etapa, depois outra, em seguida outra e assim vai, uma coisa de cada vez. Então vamos fazer o ajuste fiscal; depois, com o ajuste feito, pode demorar anos, vem de novo o grau de investimento das agências de rating e com isso, passado um tempo, voltam os investimentos estrangeiros e o País cresce.
Só que durante esse processo milhões ficaram desempregados, sem casa, o crime aumenta, pessoas passam fome, a indústria acaba. Porque, entenda o leitor, tem que fazer uma coisa de cada vez, como se faz lição de casa, tudo direitinho como manda a calculadora; é a economia com métodos matemáticos precisos.
Essa é a cabeça dos economistas de mercado com curso de pós-graduação nos Estados Unidos. Quando o plano chega ao final o país acabou, a Estado está desintegrado, as famílias implodiram, a juventude virou marginal.
O ajuste fiscal é necessário, há imensos desperdícios em todo o governo, de A a Z. No Bolsa Família os beneficiários são indicados pelo prefeito, são 5.700 prefeitos no Brasil, de cada cem cidades 95 tem oceanos de fraudes, todos os parentes, compadres, empregados do prefeito e dos vereadores de sua bancada são colocados no Bolsa Família. Amostragens da CGU mostraram isso.
Há mega fraudes no seguro pescador, em aposentadorias de funcionários públicos. No auxílio doença tem 5% de doentes e 95% de vagabundos profissionais. Nos grandes gastos de custeio o desperdício e a fraude são imensos. Nas terceirizações, nas licitações de hospitais. Nas obras de infraestrutura há mega perdas por causa dos órgãos de licenciamento que não têm prazo para dizer sim ou não. Em Tribunais de Contas e MPs que mandam parar obras por detalhes ou irregularidades reais ou inventadas. Há muito o que fazer, a CGU precisa ser triplicada para limitar prejuízos e tornar mais racional a administração publica.
Mas tudo isso deve ser feito JUNTO COM CRESCIMENTO baseado em obras de infraestrutura, o único "gancho" atual disponível para relançar a economia. Como? Um trilhão de Reais para 300 ou 400 obras prioritárias em saneamento, estradas, portos, aeroportos. Com déficit público coberto por emissão.
Vai dar inflação? Nem tanto. O desembolso é lento, leva tempo, ha enorme ociosidade dos fatores físicos necessários. Há sobra de cimento, ferro, caminhão para levar, há abundância de mão de obra sem emprego. Com oferta de tudo não há razão para os preços subirem e se subirem será pouco. Sem essa iniciativa não há como a economia crescer pelo lado privado espontaneamente nem em 20 anos.
Economistas ecléticos levaram o mundo adiante. Economistas de modelo único levaram à deflação, estagnação, ruína social. Porque eles não têm a imaginação, a visão, a ousadia, o faro político para puxar para frente os fatores parados.
Ludwig Erhard, economista alemão nascido em 1897, foi o pai da reconstrução econômica de uma Alemanha devastada. Trabalhava na Comissão Econômica que administrava a Alemanha ocupada pelos americanos e britânicos, a chamada BIZONA, nesse cargo criou da sua cabeça e vendeu aos ocupantes a ideia de um novo MARCO ALEMÃO, para substituir o Reichsmark nazista.
A nova moeda não teria o respaldo do dólar ou da libra, era o Marco Erhard. Saiu da cabeça dele em 20 de junho de 1948. Criou a moeda para gerar poder de compra e relançar a economia em ruínas - lastro era a capacidade de produção que estava na sua cabeça -, calibrou quanto podia emitir e emitiu.
De imediato a economia começou a girar, em setembro desse mesmo ano virou Ministro da economia da Bizona, que logo seria a Alemanha Federal. Um homem genial que reinventou a economia alemã pelo manejo da moeda.
Em 1963 foi eleito Chanceler em substituição a Konrad Adenauer e foi reeleito em 1965. Uma das condições que impôs para recuperar a Alemanha era acabar com os processos contra os nazistas. E ele nunca foi nazista. Entendia que precisava criar um clima de otimismo e uma nação com perseguições e empresários na cadeia era a antítese de um clima positivo.
Na Alemanha do Terceiro Reich todos os grandes empresários eram obrigatoriamente nazistas; era preciso virar essa página e tocar para frente. Erhard, grande bebedor e fumador de charutos, morreu em 1977 com 80 anos; um economista hábil e flexível.
Delfim lembra muito Erhard (até no físico) pelo seu completo descompromisso com modelos fixos, doença de Levy e Tombini.
Erhard foi um dos grandes economistas operacionais do Século XX, sabia combinar ferramentas e instrumentos. Saiu do controle de preços para o livre mercado com faro e firmeza. Ao mesmo tempo que levantava a indústria reconstruía a infraestrutura, tudo com dinheiro novo emitido na quantidade que seu instinto dimensionava.
Alan Greespan, o célebre chairman do FED, disse em suas memórias The Age of Turbulence que Ludwig Erhard fez muito mais pela recuperação da Alemanha do que o Plano Marshall. Um Ministro da Economia precisa saber convencer, ser líder, enfrentar barreiras, correr riscos. Nem precisa ser economista,  mas precisa saber inspirar os agentes econômicos. Sem isso não serve para nada. (Fonte: aqui).

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Ao que os disciplinados ortodoxos ponderam: "Se sairmos do quadrado, o que vão dizer as agências de risco?" ...  "Ideias delirantes, nem pensar!" ...  "Falar é fácil." ...  "As fórmulas Keynesianas são coisas do passado." ...  "Gastar os tubos para fortalecer a CGU e a Receita Federal para sustar os desvios e sonegações? Isso demanda mais recursos, e estamos sem margem orçamentária e sem vontade." ...  "Imposto sobre grandes fortunas? Redimensionamento das alíquotas/tetos do imposto de renda? Justiça fiscal? Que papo é esse?" ... "Fora da ortodoxia não há salvação." 

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