'A única maneira de levar os políticos a agirem como têm de agir é fazer com que tenham medo do povo'
Do jornal El País (pinçado pelo Blog do Mello)
A frase é de Maquiavel, citada pelo historiador argentino Felipe Pigna, numa entrevista ao El País.
Felipe Pigna (Mercedes, Buenos Aires, 1959) é o historiador mais conhecido da Argentina, com quase 600.000 seguidores no Facebook, graças à sua capacidade de explicar a história de maneira simples e atraente na televisão, com programas que obtém um sucesso gigantesco, como “Algo habrán hecho” [Alguma coisa eles fizeram].
Num dois trechos da entrevista, Pigna critica e ironiza a soberba europeia e cita nossa experiência de latino-americanos diante das dificuldades como um fator positivo para enfrentar a crise atual. Diferentemente dos europeus:
Acredito que quem está em decadência é a Europa, não a América Latina. A Europa se acha o umbigo do mundo. Não queremos ensinar nada a ninguém, mas a Europa teria muito a aprender conosco, se quisesse. Já passamos por situações que eles estão passando apenas agora. Ficaríamos muito felizes se pudéssemos lhe advertir, humildemente, a que tenham cuidado com os bancos, que não confiem no Fundo Monetário Internacional, pois não existe nenhuma receita dele que não acabe em desastre. Infelizmente, a Europa avança, quase cegamente, no sentido de aceitar esse modelo, de dizer para a Grécia que ela tem de fazer isso. E já sabemos como a coisa acaba.
Mais adiante, perguntado se a Argentina poderia adotar um pacote semelhante ao aplicado por Levy, ele diz que não, e aí entra a frase de Maquiavel do título:
Acredito que não. Seria muito difícil, porque as pessoas não aceitariam isso. Veja como o próprio candidato da direita se preocupa em dizer que não irá tocar nos programas. Isso é uma vitória da população, uma conquista dos argentinos. Como dizia Maquiavel, a única maneira de levar os políticos a agirem como têm de agir é fazer com que tenham medo do povo. Não há segredo. Eu, que leio de tudo sobre a história mundial, afirmo que é sempre assim. E me parece muito interessante que os candidatos de todos os matizes políticos tenham medo do povo.
Leia a íntegra da entrevista aqui.
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O 'pacote do Levy', ao contrário do que acima se sugere, não compromete os programas sociais. Pode ser um plano míope, aprofundador da recessão, equivocado? Pode, mas é um plano, e a despeito de a recessão vir a cada dia se acentuando, em médio prazo há a perspectiva de superação. O que é prejudicial aos interesses do país é o imobilismo dos políticos, o deliberado boicote à governabilidade (e me recuso a acreditar que oportunistas encalacrados na corrupção da Lava Jato estariam tão somente a torcer pelo caos, pelo incêndio do circo, de modo a que de alguma forma logrem escapar do rigor da Lei).
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