Um país acovardado: o caso McCarthy
Por André Araújo
O ano de 1950 marca o deslanche da Guerra Fria com dois acontecimentos cruciais ocorridos em 1949: a detonação da bomba atômica soviética e o triunfo do comunismo na China.
Havia uma percepção nos EUA de que os russos conseguiram a bomba com espiões levando os segredos da construção do artefato, o que era em parte verdadeiro. Muitos espiões foram presos, como Alger Hiss e Klaus Guchs, formando um quadro que, combinado com o triunfo de Mao Tse Tung na China, provocou grande inquietação nos Estados Unidos.
É nesse cenário que surge um demagogo - Joseph Mc Carthy -, que se aproveita do choque que esses dois acontecimentos impactantes e fartamente explorados pela mídia impressa e pela TV (que estava começando) criam na população americana e lança uma caça às bruxas que opera em ondas crescentes contra vários grupos sociais.
O Senador Joseph Mc Carthy foi eleito pelo Estado interiorano de Wisconsin contra o então Senador Robert La Folette, um veterano que Mc Carthy acusou de ter lucrado com a guerra enquanto ele, Mc Carthy, lutava na Marinha.
A campanha virulenta garantiu a Mc Carthy a cadeira no Senado e levou La Folette ao suicídio.
No mesmo período também se desenrola a Guerra da Coreia, uma guerra contra o comunismo, o que atiça o clima.
A primeira campanha de Mc Carthy foi contra 205 funcionários do Departamento de Estado, acusados de comunistas por ele. Sua narrativa era de que o Partido Nacionalista caiu na China por conta da sabotagem desses diplomatas, o que era um absurdo. O Governo Chiang Kai Shek caiu por causas objetivas mas essa queda foi uma surpresa, uma vez que a mídia americana nunca apresentou a realidade de um regime apodrecido que cairia por sua incompetência, miséria da população e alta corrupção. O casal Chaing Kai Shek era adorado nos EUA.
Mc Carthy fez campanha para o candidato presidencial de 1952 de seu Partido Republicano, o General Eisenhower, que não tolerava sua demagogia mas foi aconselhado a jamais criticá-lo, pois Mc Carthy tinha apoio popular e da mídia.
O segundo grupo de ataque na campanha anti-comunista de Mc Carthy foi Hollywood: diretores, roteiristas, artistas, dramaturgos, produtores, dentre eles o legendário Chales Chaplin, que esteve prestes a ser preso e fugiu para a Europa por causa de Mc Carthy.
O Senador era temido e ninguém o enfrentava, seus discursos no Senado eram violentos e longos; uma vez discursou por seis horas ininterruptas; presidia o Subcomitê de Atividades Anti Americanas do Senado, transformado-o em Tribunal Anti-Comunista. Era abastecido de informações por J. Edgar Hoover, diretor do FBI, a polícia federal americana.
No ataque à comunidade artística, Mc Carthy desgraçou carreiras, provocou suicídios, e muitos artistas se exilaram para não ser perseguidos. Seus interrogatórios no Senado eram televisionados e ele humilhava os inquiridos.
Sua terceira onda de ataques foi contra o Exército. Centrou baterias contra o General George Marshall, uma figura lendária, respeitadíssima, o arquiteto da vitória americana na Segunda Guerra, acusado de ser tolerante com o comunismo, assim como todo o Governo Truman e o do antecessor Franklin Roosevelt.
O General George Marshall, Prêmio Nobel da Paz de 1953, foi mentor do Presidente Eisenhower, que não o defendeu dos ataques de Mc Carthy, tal o medo que este provocava no Partido Republicano, submetido aos seus caprichos.
Mas ao atacar o Exército Mc Carthy não mediu o que estava em jogo e superestimou sua força. O Exército o enfrentou e o derrubou. Em 21 de dezembro de 1954 o Senado provocou um voto de censura contra Mc Carthy, que o derrubou por 67 a 22, tirando-lhe o cargo de presidente da subcomissão, que era sua trincheira. A partir daí Mc Carthy derrapou rapidamente para a decadência, e sua real dimensão ficou clara para o País: um reles demagogo que explorava certos temores da sociedade americana mas que era um canalha e um vilão sem nenhum caráter.
Mc Carthy morreu aos 48 anos, de hepatite, mas a real causa foi seu alcoolismo. Deixou um rastro terrível na História americana, um vampiro de carreiras e vulgar explorador de sentimentos e receios de uma sociedade amedrontada.
A lição do Caso Mc Carthy é (...) que cruzadas falsamente moralistas "em prol do interesse público" podem encobrir ação de maníacos e demagogos. A registrar o papel indecente da mídia conservadora a favor de Mc Carthy, especialmente do grupo TIME LIFE, que o prestigiou até o último momento de sua cruzada, um apoio acrítico que (o) fez também não ser atacado pelos seus colegas do Congresso ou pela Suprema Corte.
Mc Carthy desgraçou milhares de pessoas a quem acusava de espiões comunistas sem que outras forças do País lhe cortassem os passos.
Mc Carthy foi uma mancha negra na História americana, que os Republicanos de hoje fazem questão de esquecer. (Fonte: aqui).
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