"Na adolescência fui um grande assassino de passarinhos, com estilingue e armas de fogo. Hoje me arrependo mas não me recrimino: eu e os lenhadores, fazendeiros, caçadores e pescadores dos anos 1950 achávamos que as árvores que não dão frutos e os animais que não tinham préstimo eram pragas e nunca iriam acabar. Até os anos 1960 e além (até hoje na Amazônia e em tantos outros lugares) a mentalidade em vigor era a mesma do século XIX. Os livros que eu lia nessa época também. Só meu pai, analfabeto funcional, defendia essas plantas e pássaros com unhas e dentes: nunca me deu dinheiro para munição, não podia ver meus estilingues e armas de caça, não permitia que arrancassem folhas ou galhos de qualquer planta. Sempre furioso comigo e os outros vândalos da natureza. Deus o tenha.
Manoel de Barros e meu pai foram almas gêmeas. Meu pai só escrevia o próprio nome, mas o Manoel escreveu pelos dois o que ambos sentiam, do jeitinho que era."
Nenhum comentário:
Postar um comentário