O voto dos ex-pobres
Por Luciano Martins Costa
Assessores de campanha deixam vazar para a imprensa fragmentos de
relatórios sobre migração de intenções de voto após as duas pesquisas mais
recentes, divulgadas pelo Ibope e o Datafolha. Os jornais trabalham com a
convicção de que a candidata Marina Silva, do PSB, encontrou o teto de seu
eleitorado, em torno de 33%, enquanto Aécio Neves oscila abaixo dos 15%. Segundo
essas mesmas informações, a presidente Dilma Rousseff tem nos 35% sua base mais
provável, composta pela soma da militância do Partido dos Trabalhadores com a
massa das famílias mais pobres, beneficiadas por suas políticas
sociais.
Esses dados são levados em conta no material publicado pela imprensa no final de semana e nas edições de segunda-feira (8/9). Eles são coletados no processo que os operadores de campanhas chamam de “tracking”, ou seja, o monitoramento dos grandes grupos que definem os números das pesquisas. Assim, observa-se que uma parcela do eleitorado de renda mais elevada e com mais educação formal migra da candidatura do PSDB para o PSB, mas parte desses eleitores pode voltar a apoiar o ex-governador de Minas se funcionar sua nova tática, de espalhar igualmente o escândalo da hora entre as duas concorrentes principais.
Essa é a razão pela qual todos os veículos da mídia tradicional embarcaram na nova empreitada da revista Veja, repercutindo a reportagem sobre uma lista de políticos que teriam sido denunciados formalmente pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em esquema de fraudes.
A menos de um mês da eleição em primeiro turno, trata-se da última chance de Aécio Neves de se colocar novamente no jogo, mesmo que para isso tenha que jogar na sujeira o nome do falecido ex-governador Eduardo Campos. Se conseguir envolver o PSB nas suspeitas, ele atingirá o ponto vital da candidatura de Marina Silva, que se apresenta como portadora da última reserva moral da política nacional. Ao mesmo tempo, precisa se esforçar para despejar o conteúdo da denúncia diretamente no gabinete da presidente da República.
Aécio Neves se anima porque sabe que pode contar com a adesão unânime e incondicional da imprensa hegemônica.
Quem decide a eleição
Resta saber se um escândalo a mais será eficiente para reverter a tendência que se delineia no monitoramento do eleitorado. No domingo (7/9), os três jornais de circulação nacional repetiam avaliação do comando de campanha do PSDB, segundo a qual a denúncia colocava tanto a presidente Dilma Rousseff quanto a ex-ministra Marina Silva na defensiva, o que hipoteticamente deixaria o candidato tucano à vontade para se apresentar como a última vestal do templo.
As revistas Época e Carta Capital delineiam o perfil do eleitorado evangélico, discutindo a tese de que esse pode ser o voto decisivo. Época apresenta na capa uma imagem das torres do Congresso Nacional transformadas em cruz e mandou repórteres ouvir sermões de pastores que misturam política com religião. Época errou: os evangélicos não usam a cruz, física, nem sua imagem, nos cultos ou na vida privada.
Carta Capital vai no caminho contrário, mostrando que a denominação de “evangélico” é apenas uma abstração, uma vez que os líderes de igrejas protestantes que aparecem na mídia não representam esse variado campo das religiões. “A diversidade de pensamento é a razão de existir da reforma protestante”, pondera a Carta, observando que, na verdade, os 22,2% de eleitores tidos como evangélicos devem ser vistos como 22,2% dos brasileiros, pois entre eles se repete a variedade de opções políticas que aparece no eleitorado em geral.
Não há uma hegemonia de pensamento político entre os adeptos das muitas formas do cristianismo reformado, e dizer que todo evangélico é reacionário e preconceituoso representa um preconceito obtuso. Portanto, as imagens de candidatos com as mãos levantadas, hipocritamente encenando uma fé que não compartilham necessariamente, não tem efeito eleitoral significativo.
O que vai definir as eleições será a capacidade da candidata Dilma Rousseff de recuperar o eleitorado perdido por causa de um fenômeno tão previsível que parece ingenuidade: o aumento do conservadorismo na segunda geração das famílias que ascenderam com os programas sociais. Os novos remediados não gostam de ser lembrados que já foram pobres. É nessa faixa do eleitorado que oscilam as porcentagens das pesquisas. Simples assim. (Fonte: aqui).
Esses dados são levados em conta no material publicado pela imprensa no final de semana e nas edições de segunda-feira (8/9). Eles são coletados no processo que os operadores de campanhas chamam de “tracking”, ou seja, o monitoramento dos grandes grupos que definem os números das pesquisas. Assim, observa-se que uma parcela do eleitorado de renda mais elevada e com mais educação formal migra da candidatura do PSDB para o PSB, mas parte desses eleitores pode voltar a apoiar o ex-governador de Minas se funcionar sua nova tática, de espalhar igualmente o escândalo da hora entre as duas concorrentes principais.
Essa é a razão pela qual todos os veículos da mídia tradicional embarcaram na nova empreitada da revista Veja, repercutindo a reportagem sobre uma lista de políticos que teriam sido denunciados formalmente pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em esquema de fraudes.
A menos de um mês da eleição em primeiro turno, trata-se da última chance de Aécio Neves de se colocar novamente no jogo, mesmo que para isso tenha que jogar na sujeira o nome do falecido ex-governador Eduardo Campos. Se conseguir envolver o PSB nas suspeitas, ele atingirá o ponto vital da candidatura de Marina Silva, que se apresenta como portadora da última reserva moral da política nacional. Ao mesmo tempo, precisa se esforçar para despejar o conteúdo da denúncia diretamente no gabinete da presidente da República.
Aécio Neves se anima porque sabe que pode contar com a adesão unânime e incondicional da imprensa hegemônica.
Quem decide a eleição
Resta saber se um escândalo a mais será eficiente para reverter a tendência que se delineia no monitoramento do eleitorado. No domingo (7/9), os três jornais de circulação nacional repetiam avaliação do comando de campanha do PSDB, segundo a qual a denúncia colocava tanto a presidente Dilma Rousseff quanto a ex-ministra Marina Silva na defensiva, o que hipoteticamente deixaria o candidato tucano à vontade para se apresentar como a última vestal do templo.
As revistas Época e Carta Capital delineiam o perfil do eleitorado evangélico, discutindo a tese de que esse pode ser o voto decisivo. Época apresenta na capa uma imagem das torres do Congresso Nacional transformadas em cruz e mandou repórteres ouvir sermões de pastores que misturam política com religião. Época errou: os evangélicos não usam a cruz, física, nem sua imagem, nos cultos ou na vida privada.
Carta Capital vai no caminho contrário, mostrando que a denominação de “evangélico” é apenas uma abstração, uma vez que os líderes de igrejas protestantes que aparecem na mídia não representam esse variado campo das religiões. “A diversidade de pensamento é a razão de existir da reforma protestante”, pondera a Carta, observando que, na verdade, os 22,2% de eleitores tidos como evangélicos devem ser vistos como 22,2% dos brasileiros, pois entre eles se repete a variedade de opções políticas que aparece no eleitorado em geral.
Não há uma hegemonia de pensamento político entre os adeptos das muitas formas do cristianismo reformado, e dizer que todo evangélico é reacionário e preconceituoso representa um preconceito obtuso. Portanto, as imagens de candidatos com as mãos levantadas, hipocritamente encenando uma fé que não compartilham necessariamente, não tem efeito eleitoral significativo.
O que vai definir as eleições será a capacidade da candidata Dilma Rousseff de recuperar o eleitorado perdido por causa de um fenômeno tão previsível que parece ingenuidade: o aumento do conservadorismo na segunda geração das famílias que ascenderam com os programas sociais. Os novos remediados não gostam de ser lembrados que já foram pobres. É nessa faixa do eleitorado que oscilam as porcentagens das pesquisas. Simples assim. (Fonte: aqui).
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