domingo, 14 de setembro de 2014

ELEIÇÕES 2014: LIÇÕES PARA O FUTURO


O que a campanha política está ensinando para Dilma

Por Luis Nassif

Na entrevista a O Globo, Mirian Leitão perguntou a Dilma Rousseff como pretenderia tirar a economia da situação atual. Dilma respondeu apontando o Pronatec, o Ciência Sem Fronteira e o Sistema Nacional de Inovação. Não houve tempo para tréplica mas, ao final, Mirian declarou-se insatisfeita com a resposta.

No entanto, as duas estavam certas; e as duas estavam erradas.

Vamos entender um pouco o que está por trás dessa discussão.

Por suas ligações com a cobertura financeira, os grupos de mídia focam o desenvolvimento exclusivamente da ótica macroeconômica de curtíssimo prazo. Há enorme dificuldade em entender políticas de médio e longo prazo, trabalhando os fatores determinantes da competitividade sistêmica.
Por outro lado, só agora Dilma começou a elaborar – pela primeira vez, se não me engano – o esboço de uma estratégia nacional de desenvolvimento de longo prazo.

Políticas desenvolvidas ao longo dos últimos anos ganharam uma dinâmica própria, todas convergindo para um mesmo modelo de desenvolvimento. Mas, no seu isolamento polar, Dilma tinha olhos exclusivamente para o Banco Central, a Fazenda, a inflação de curto prazo e os indicadores do PIB.

No discurso público, enxergava as diversas políticas de forma isolada, sem captar o todo e, justamente por isso, tornando-se prisioneira de visões de curto prazo e de descasamento da política macroeconômica da estratégia geral.

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A atual campanha política está sendo ótima por várias razões.

Primeiro, por obrigar Dilma a interagir com diversos setores sociais e entender melhor o desgaste e os erros de decisão provocados pelo isolamento e pela arrogância administrativa.

Na eventualidade de um segundo governo Dilma, certamente ela terá aprendido que o governo é uma conjunção das diversas forças que compõem a nação. Ela é a representante de um projeto, não a dona do projeto.

Os Ministérios precisam representar a diversidade econômica e social do país, colocando lideranças agrícolas na Agricultura, industriais no MDIC (Min. do Desenv. Ind. e Com. Ext.), sociais nos diversos Ministérios sociais. O equilíbrio se dá estimulando as políticas Inter setoriais, com todos os setores sendo ouvidos na definição de cada uma delas – e a presidente arbitrando interesses conflitantes.

Ela tem que ser a maestrina, não a solista da orquestra.

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Segundo, por fazê-la assumir o discurso político. E não se entenda por “político” nenhuma conclamação às massas, mas a explicitação de projetos de governo, em todos os seus ângulos, das políticas sociais às industriais, passando pela diplomacia e pelo Banco Central, tudo juntando-se em um todo lógico e compreensível. E, nessa explicitação, identificando as diferenças com os projetos dos dois outros candidatos.

O maior papel de um presidente não é sequer o poder da caneta, mas a capacidade de entender os novos caminhos e transmiti-los de forma clara para o país. É esse discurso que unifica ações, define rumos, induz todos a caminhar na direção proposta.

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O projeto de desenvolvimento desenhado consiste da seguinte lógica:

O Brasil tornou-se uma democracia social moderna antes de ter-se tornado uma economia competitiva. Não conseguirá repetir o caminho de outras economias que, no início, exploravam salários baixos, para avançar, no momento seguinte, na conquista de inovação, melhorando simultaneamente emprego e competitividade.

Em função dessas características, o desenvolvimento econômico brasileiro passa pelas seguintes etapas, já em andamento.

1.     Na base da pirâmide, políticas sociais e regionais inclusivas e reforço do modelo educacional.

2.     No meio, investimento no ensino técnico e na regionalização do ensino superior.

3.     Amarração de todas as peças da pesquisa em um Sistema Nacional de Inovação, ligando recursos às necessidades de desenvolvimento regional e de atendimento das demandas da indústria.

4.     Montagem de sistemas de financiamento da inovação e dos investimentos, através dos bancos públicos e dos recursos orçamentários. Utilizá-los como fator de indução para o capital privado.

5.     Identificação de áreas prioritárias para a nova etapa do desenvolvimento. Dentre elas, aquelas diretamente ligadas às compras públicas (infraestrutura, saúde, educação e defesa), às vantagens competitivas (agronegócio, mineração) e às economias de escala (produtos de consumo popular). E serão mais fortes, se mais fortes estiverem ligadas ao conceito de bem estar público.

Para se compatibilizar com o desenvolvimento sócio-político, não se pode mais fugir de um conjunto de princípios:

1.     As políticas públicas precisam ser abertas, com participação da sociedade – empresários sendo ouvidos para políticas setoriais, movimentos sociais e ONGs para políticas sociais e assim por diante. O Palácio tem que abrir portas, janelas e cortinas.

2.     Tem que se fazer a opção preferencial pelo novo e avançar nas propostas de democracia digital.

3.     Tem que se aprimorar o federalismo brasileiro e a maneira de trabalhar o orçamento.

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As demais pernas do modelo

Nessa estratégia deverão ser amarradas a diplomacia e a política macroeconômica.

Do lado da diplomacia, aproveitar a ascensão dos BRICS – inclusive com a criação do banco – para negociar grandes investimentos em parceria na infraestrutura.

Do lado da macroeconomia, perseguir a redução dos juros, a política cambial competitiva, uma política fiscal responsável, abrindo espaço no orçamento para os grandes investimentos públicos necessários.

É evidente que a última perna do modelo – justamente aquela a quem Dilma dedica atenção especial – está falhando.

O sistema de metas inflacionarias esgotou-se, mas continua mantido no Banco Central. Esse sistema compromete o orçamento, para o pagamento de juros, compromete a política cambial, permitindo a invasão dos importados. Para corrigir esses problemas, Dilma toma uma série de medidas pontuais, que desarruma a política fiscal.

Juros elevados atrapalham a realocação da poupança privada e dos fundos de pensão. Impedem que os bancos públicos cumpram sua função de agentes indutores da poupança privada.

Dilma não respondeu às questões de curto prazo de Mirian por duas razões.

Primeiro, pela dificuldade de admitir os erros da macroeconomia. Depois, por não poder antecipar correções de rumo, pelas óbvias implicações sobre o mercado.

Se tiver a humildade de aproveitar as lições da campanha eleitoral, poderá ter um segundo mandato marcante. (Cópia: aqui).

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